A saga da travessia

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Moradores de Marcílio Dias ficam sem passarela pela segunda vez

Hélio Euclides

Moradores antigos da Maré relatam que, no passado, a Avenida Brasil não tinha divisórias e nem passarelas. A travessia precisava ser feita para pegar água com o “rola-rola” e o galão. Meio século se passou, ocorreram duplicações e um grande aumento no número de veículos, ficando inviável e proibido atravessar as pistas driblando os carros. Contudo, o morador de Marcílio Dias viveu um pesadelo:  precisar atravessar a Avenida Brasil e perceber que uma parte da passarela estava ausente. Isso ocorreu duas vezes com a passarela 16, em frente à saída de Marcílio Dias. Esta segunda vez aconteceu no dia 21 de setembro, quando um caminhão bateu e danificou a passarela. “Esse transtorno atrapalha a vida especialmente de crianças e idosos. Estamos orando para que a situação seja resolvida”, conta Carmem Lúcia.

A Associação de Moradores de Marcílio Dias fez pedidos para diversos órgãos e conseguiu que fosse recolocado o pedaço danificado. A parte retornou ao local, apoiada por andaimes e rampas, só no dia 28 de setembro. Durante esse período de inviabilidade da passagem, placas recomendavam a utilização da passarela 15 ou 17, ambas muito distantes. O que aconteceu é que alguns pedestres improvisaram um atalho, seguindo por cima do viaduto Lobo Junior. “A população ficou em perigo, andando à noite na escuridão. O viaduto tem grades retorcidas, e fios expostos, o que traz riscos de choques. Além de objetos da pista que podem bater nas pessoas. A caminhada é de risco”, reclama Luciano Aragão, vice-presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias.

Alguns pedestres mais apressadinhos atravessavam as pistas e se desviavam dos carros na Avenida Brasil. O saldo negativo foi a morte de um

O atalho de madeira feito para tentar resolver o problema da passarela se mantém até hoje | Foto: Elisângela Leite

morador. “Tive de subir o viaduto para ir estudar, sei que há riscos. Mas ainda é melhor que atravessar entre os carros na Avenida Brasil. Meu vizinho morreu assim”, desabafa Neyde Marques. O problema da passarela 16 é que ela é baixa e prejudicada ainda mais pela elevação do asfalto na obra do BRT Transbrasil.

Para evitar outro acidente, placas foram colocadas pela via que determinam altura máxima de 5 metros. A Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação informou que foram feitos estudos para ver se a estrutura da passarela tinha sido afetada com o acidente. Após esse trabalho, foi recolocada a parte retirada. Prometeram, ainda, que em um segundo momento vão rever a necessidade de uma nova passarela que seja adequada para a pista do BRT.

 O BRT esqueceu Marcílio Dias

Além da distância da Avenida Brasil que os moradores de Marcílio Dias precisam caminhar na ida e na volta para os seus lares, o pior pode ainda acontecer. Em julho deste ano, a Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação declarou que a Marcílio Dias seria atendida apenas pela estação do BRT na passarela 15, denominada Marinha do Brasil. A próxima estação só seria na passarela 18, em Brás de Pina. O que chama a atenção é que a Marinha teria à sua disposição duas estações: a da passarela 15 e a 14, essa última batizada de Marinha Mercante. Do outro lado, moradores de Marcílio Dias ficariam sem acesso.

Para seguir até a passarela 15, os moradores gastariam 10 minutos, e cerca de mil passos a mais. “Há necessidade de uma estação do BRT, seria um ganho para a comunidade que já caminha tanto para chegar na Avenida Brasil”, diz Luciano. Para moradores, a estação é questão emergencial. “O acesso ao ônibus faz falta, precisamos lutar pelos nossos direitos e esquecer de quem só aparece aqui para pedir votos”, afirma Roberta. “Os governantes tinham de colaborar com o povo, mas nunca pensam na gente. Agora terei de andar mais tempo”, reclama Jociclay da Silva, morador da Rua Lobo Junior, na Penha.

Num novo contato, a Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação voltou atrás e mencionou que ainda é cedo para falar o local correto de onde vão ser as estações, pois a obra do BRT não foi concluída.

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