150 BPM acelera para ganhar o mundo

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Maré de Notícias #89 – junho de 2018

Criado na Maré, o funk sensação dos bailes mais bombados da cidade quer conquistar o Brasil

Maria Morganti

A última novidade do funk carioca, o som que hoje é a sensação dos bailes das favelas e casas de festas do Rio de Janeiro, nasceu aqui na Maré. O Funk 150 BPM, sigla que significa “batidas por minuto”, e na prática quer dizer aumentar a velocidade da música, foi registrado, pela primeira vez, no baile da Nova Holanda, que acontece sempre aos sábados. Seu criador, Diogo Lima Costa, de 27 anos, conhecido como DJ Polyvox, é cria de Bonsucesso. O som, que também é conhecido como ritmo louco ou putaria acelerada, que tem como palco principal o concorrido Baile da Gaiola, no Complexo da Penha, começou a ser experimentado na passagem de 2015 para 2016.

“Primeiro a gente explodiu no baile a música iba iba iba na Nova Holanda. Foi quando eu tive a ideia de produzir em 150 BPM”, conta, Polyvox, no estúdio 150 BPM records, em Campo Grande, na Zona Oeste. Ele mostra os 271 mil acessos que a música tem na plataforma da internet que disponibiliza as produções, a soundCloud, utilizada por profissionais de música. Polyvox relembra que a primeira música feita em 150 BPM, foi Esse é o baile do meu pai. Segundo o artista, foi essa música que deu o boom no baile da Nova Holanda. Criador também de um outro som de muito sucesso, a batida da coca-cola, Polyvox conta que o  estilo vem dando oportunidade pra muita gente que está começando.

 

Mercado de oportunidades

No rastro de Polyvox estão surgindo novos talentos. “Você não via esses DJs fazendo show. Outros DJs aí, como os garotos do youtube, a própria Iasmin, faz show. Tudo isso graças ao 150 BPM. Eu fico muito feliz, eu não pude ajudar muitos os DJs antigos, mas eu consegui dar muito emprego para os novos que aparecerem. Hoje você tem DJ com cachê de R$ 5 mil, R$ 6 mil”. Iasmin Turbininha, que é cria da Mangueira, junto com Rennan da Penha, da Vila Cruzeiro, que comanda o Baile da Gaiola, são os nomes mais famosos do movimento 150 BPM.

Turbininha gosta de música desde criança, mas a paixão foi profissionalizada em 2011, quando criou um canal no youtube. “Eu queria produzir, queria novidades”. Ela começou a ficar conhecida com o estilo arrocha com funk, ritmo encontrado nos hits Afronta, é guerra e o Arrocha da Penha. Em seguida, conheceu Polyvox. “Quando eu descobri o 150 BPM de verdade no baile, ele (o Polyvox) me abraçou por eu ser menina, e da comunidade.”

Críticas no caminho

O sucesso do presente não impede que Turbininha recorde as críticas do início. “Os DJs da antiga criticaram muito. Falavam que, acelerado, não dava pra dançar. Na prática, a gente mostrou que é totalmente diferente. Falavam que não ia tocar na Rádio, hoje em dia tem um programa. Hoje, o ritmo que é da comunidade, toca em todos os lugares, na pista e na própria favela”.

Dona do próprio estúdio, no Complexo do Lins, Turbinha fala sobre a felicidade de ver o trabalho crescendo. “A gente  está vindo da favela e  vendo os DJs estourarem, sendo ouvidos na Rádio. Isso inspira muito, porque nego te vê no dia a dia. Quando eu chego na favela vem um monte de criança me abraçar, cantando a música, pedindo para vir aqui no estúdio; acho maneiro, porque vai distraindo a mente deles também”.

Para Turbininha, é “uma revolução”: “O 150 BPM fez meio que uma união. Os DJs abraçam quem está chegando agora, que é das comunidades. E isso só aconteceu pelo fato do 150 BPM mesmo”, conclui.

Sobre as críticas, a jovem DJ lembra o DJ Byano, uma dos mais famosos do funk. “A variação de velocidade no funk, isso aí nunca foi novidade pra ninguém. Eles aumentavam as músicas produzidas no BPM bem baixo até a voz do MC ficar muito fina. Isso levava à crítica com os produtores mais antigos, pela galera que lutou e luta pelo funk até hoje. Eu critiquei muito o que eles estavam fazendo. Determinar uma música em 130 a 150, não tem como tocar uma coisa assim. Mas pegando uma produção, você fazendo naquela velocidade, aí sim seria algo plausível. BPM não tem criador, não tem essa vertente, tem as pessoas que tocam e começaram a tocar, assim, dessa forma. Mas o criador do BPM, isso não é novidade, entendeu?”

De início havia resistência, mas o ritmo acelerado do 150 BPM, que nasceu na Maré, vem agradando a funkeiros de todos os estilos | Foto: Douglas Lopes

Ritmo veio para ficar

Questionado sobre o 150 BPM ser um movimento passageiro, o DJ Byano reconhece: “Caiu no gosto da garotada, né? Não só da garotada, como de outras pessoas também, e antigamente, a gente produzia em 128, 129, porque o funk melody, internacional, muitas vezes vinha em 127. Fomos aumentando até chegar no 130, onde estamos há vários anos. Aí pra revolucionar começaram a pular. Deram um pulo muito alto, de 130 para 150. É muita coisa, entendeu?! Então isso assustou muita gente. Eu mesmo fiquei assustado, mas depois eu me conformei. E hoje em dia não se toca mais em 130, é difícil encontrar alguém que toque assim. Eu, particularmente, toco em 140 e em algumas produções, 150. Se é o gosto da garotada, eu tento agradar, veio para ficar, já ficou, já colou”.
Jovens como a moradora do Complexo do Alemão, Sthéphany Oliveira, de 22 anos, fazem coro: “Eu não costumo escutar muito funk, só na rua ou em alguma festa. Mas essa música é sucesso na favela. Todo mundo gosta”. Thamires Candida de Oliveira, artista e dançarina de modalidades como o passinho, aprova o ritmo.  “Eu  acho ele inovador, porque traz todo tipo de beat e recicla todos os estilos sonoros. É uma coisa nova, um ritmo acelerado, reciclável em questões sonoras, e livre. Porque quando danço em 150 BPM, me sinto muito solta e livre. A criatividade vem em peso”.

Funk na Academia

O antropólogo Dennis Novaes, que faz doutorado no Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de janeiro,  comenta que as pessoas estavam acostumadas a saber do funk mais pelas páginas policiais  que pelas culturais, e isso está mudando:“o funk antes de tudo é uma música eletrônica de vanguarda. Uma cena experimental, rica e complexa, onde o foco é sempre inovar, procurar experimentações. No funk paulista, por exemplo, a gente não vê o mesmo nível de experimentação que no carioca. Que é uma cena muito mais undeground. Onde você experimenta os tipos mais diferentes, os arranjos mais criativos. Eu acho que é isso que acontece muito aqui no funk do Rio. E o 150 surge como surgem grandes novidades nesse processo, experimentando, com os artistas querendo se diferenciar. Modinha, o 150 BPM, definitivamente, não é. Até porque é o funk carioca hoje. O que pode acontecer é que esse funk vá se especializando cada vez mais e consiga tornar em Mainstream.

Polyvox afirma que o 150 BPM “tem muito o que melhorar em termos de produção; tem muitos colegas de trabalho que produzem em microfone de computador, sem qualidade e isso dificulta bastante a evolução do 150 BPM, mas eu e outros DJs já estamos ajudando os colegas, que têm um equipamento inferior, para que eles aprendam a produzir com mais qualidade, para que o nosso ritmo seja para o Brasil todo, até fora”.

A Empresa 150 BPM records, que tem cerca de oito funcionários diretos, segundo Polyvox, foi criada para dar uma estrutura para os DJs, para que eles possam liberar conteúdo com qualidade e estruturar um MC. “Nós hoje estamos fazendo o MC cantar e fazer o repertório dele todinho já no 150 BPM, então nós deveríamos ter uma escola estruturada para poder administrar isso, onde foi criada a 150 BPM records. Ali você ensina um DJ a produzir, ali você ensina o MC como cantar no tempo certo, uma doutrina dele no palco. Tudo é ali. Palestra, reunião, ‘vamos fazer isso, vamos acertar isso’, na nossa equipe”.

Para Polyvox, o futuro do 150 BPM é ser referência total do funk. “Não só do funk carioca como do paulista, de Belo Horizonte, do Espírito Santo. Vai novamente mostrar que nós, aqui, do Rio de Janeiro, somos os verdadeiros funkeiros, não diminuindo os outros, que em geral todo mundo é funkeiro, mas nós ditamos a regra de como é o funk. Então acho que é sem limite. A perspectiva é uma parada muito além dos nossos raciocínios”.

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