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Corações que batem ao ritmo do carnaval

Nica exibe, com carinho, as recordações dos campeonatos de 1993 e 1994 do Corações Unidos de Bonsucesso. Foto: Matheus Affonso

O amor é o sentimento que explica a dedicação de foliões aos blocos e agremiações

Maré de Notícias #121 – fevereiro de 2021

Por Hélio Euclides

Com deusas douradas e passistas empolgados, é nesse gingado que o gato faz seu carnaval”. Esse é o samba Lendas e Superstições do Brasil que, mesmo com quase três décadas, ainda emociona Jorge Geraldo, o popular Jorge Bob’s, um dos seus autores juntamente com Lá Mano e Cesar Gari. Há 29 anos, a composição levou o Bloco Mataram Meu Gato ao vice-campeonato do carnaval, em apresentação na Avenida Rio Branco, no Centro. Esse é o sentimento de amor que leva componentes de agremiações e blocos carnavalescos a não enrolarem os estandartes: com o início da vacinação, a população se entusiasma com a esperança do retorno do samba e do carnaval.

Quando se fala de bloco de carnaval na Maré, vem em mente o Gargalo da Vila, que nasceu de uma ala do Tigre de Bonsucesso, há 19 carnavais. E quem não lembra de Marielle Franco no bloco Se Benze Que Dá, gritando nos seus enredos os direitos dos moradores da Maré? As duas agremiações levam alegria para as ruas das favelas, mas quando se fala dos anos 1990, é para lembrar que o Parque União era repleto de blocos, como Alegria do Parque, Boca da Ilha e Filhos do Parque. E antes de surgirem as agremiações no território, os embalos vinham do Mataram Meu Gato, da Nova Holanda; do Boca de Siri, da Praia de Ramos; e do Corações Unidos, do Morro do Timbau.

Júlio Cesar Ferreira, mais conhecido como Julinho, é diretor de bateria da escola de samba Gato de Bonsucesso e começou a desfilar com 13 anos, levado por sua mãe. “Nasci escutando a história do gato que virou tamborim, aquele que deu nome ao bloco Mataram Meu Gato. Minha família toda é do samba e assim nasceu o amor. Já desfilei na Portela, Grande Rio, Unidos da Ponte, Imperatriz Leopoldinense, Porto da Pedra e Viradouro, mas o Gato é diferente, um amor muito grande”, conta.

O diretor destaca que o presidente Mauro Camilo está tentando resgatar a escola, que hoje não tem componentes para desfilar. “O Gato está no processo de voltar, mas faltam recursos. Já estamos há sete anos sem comprar instrumentos novos. É preciso levar o samba para as ruas da Maré, para que ele alcance o povo. Precisamos voltar com os grandes carnavais. Não podemos deixar o samba morrer”, diz. Ele acredita que promover oficinas é importante para a formação de integrantes na favela.


A quadra deu hoje lugar a um estacionamento – Foto: Matheus Affonso

Uma memória do carnaval

A quadra do bloco Corações Unidos, na Rua Capitão Carlos, viveu tempos de glórias, com a presença de cantores consagrados como Elson do Forrogode e Jorge Aragão. Livanir Nunes Borges, conhecido no mundo do samba como Nica, foi presidente do bloco de 1992 a 1996. Em 1993, a agremiação foi campeã na Avenida Rio Branco, com direito a matéria no jornal O Dia. Na época, desfilavam cerca de 400 componentes. No ano seguinte, o bloco repetiu a façanha e conquistou  o bicampeonato.

Foram mais de dez anos como integrante da agremiação. “Minha família tinha uma ala de criança e assim nasceu o gosto pelo carnaval”, comenta. Mas a história do Corações Unidos não teve final feliz: em 1996, um incêndio destruiu fantasias, instrumentos e a quadra. “Isso trouxe o desânimo e o fim do bloco. Ficou só o letreiro na quadra e a história”, diz. Para não abandonar o samba, Nica organiza quinzenalmente um pagode em frente à antiga sede do bloco, que virou estacionamento. 

Quando abre os álbuns de fotos, Nica percebe que o seu coração ainda bate forte pela agremiação. “Acredito que esse amor pelo carnaval vem da nossa cultura negra. No Coração Unidos a maioria dos integrantes era de negros. O carnaval era a raiz da comunidade e a quadra era tudo. Hoje percebo que o carnaval de rua é diversão, algo que é genuíno do povão”, conclui.

Carnaval de 2021 só ano que vem

Depois de o governador em exercício Cláudio Castro aprovar a lei que criou o CarnaRio (carnaval fora de época que vai acontecer anualmente em julho como forma de movimentar o turismo do estado), a realização do evento foi descartada pelo prefeito Eduardo Paes. Segundo ele, com todos vacinados, todas as edições da folia devem voltar a acontecer em 2022.

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