Do lixo ao luxo

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Moradora descobre a arte da reciclagem

Hélio Euclides

Ela é catadora e artesã. O que as pessoas acreditam ser lixo, ela restaura, recria, transforma, dá um novo sentido e o objeto vira outro. “Eu cato material na Zona Sul e fantasias de carnaval para reciclagem, monto caixas de bijuterias, arranjos e porta-retratos de papelão, vendo tudo na feira da Lapa. Minha casa é toda de material reciclado, pois faço restauração de móveis. Para o meu trabalho, só compro cola”, conta Bianca de Sousa Cardoso, que transforma lixo em luxo há um ano, aqui no Rio.

Bianca começou o interesse pela reciclagem há 3 anos, na cidade onde morava, Cubatão, interior de São Paulo. “Trabalhei como balconista e caseira, e vi que os patrões exploram os funcionários, então senti que a Carteira de Trabalho não era tão importante e, sim, atuar por conta própria”, relata. Com o desemprego, a artesã começou a fuçar os descartes, surgiram várias ideias, e uma forma de ganha-pão.

Bianca na varanda de sua casa, onde restaura, cria e transforma | Foto: Elisângela Leite

Hoje, o seu ateliê fica na própria residência, onde há objetos de todos os tipos, alguns até parecem novos. No início, ela visitava as casas dos conhecidos, pedia para usar um pouco a internet, e foi dessa forma que aprendeu a arte. Depois se aperfeiçoou na Escola de Samba Gato de Bonsucesso, na Nova Holanda, onde trabalhou por um tempo. Com o marido desempregado e pagando aluguel, Bianca agora também vende seus produtos numa barraca na Rua Teixeira Ribeiro. Seu sonho é montar seu próprio negócio. “Quando estou trabalhando, me sinto realizada”, expõe.

Para Bianca, a forma como os catadores trabalham está errada, de apenas levar o resultado do dia ao ferro-velho. Ela entende que a Maré necessita de cooperativa de catadores, pois hoje cada um atua separadamente. “É preciso mostrar que o lixo pode ser transformado, reaproveitado, é um tesouro. Está velho, vai para o lixo, é fácil descartar. Se tivesse mais gente na reciclagem, o País estaria mais limpo e menos poluído. Penso que aqui a favela é mal vista, e só com formas de crescer dentro das comunidades que poderemos mostrar outro lado da Maré”, afirma.

Bianca reclama da falta de oportunidades para crescer na vida. Diz, ainda, que encontra preconceito, especialmente quando entra no ônibus e pessoas reclamam das quatro malas que carrega na ida e vinda para a Lapa. “É uma coisa difícil o transporte do material. Não tenho condição de pegar táxi, cada viagem seria 80 reais, ida e volta. Mas tenho disposição, se for o caso volto para casa a pé”, desabafa. Apesar das dificuldades, Bianca não abaixa a cabeça. “O importante é ser uma pessoa honesta e sempre vai aparecer um anjo na nossa vida”, conclui. A artesã, no momento, aguarda uma promessa para o carnaval de 2018: o ingresso em uma Escola de Samba de grande porte.

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