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Pedacinho do céu

Jorge Bob's: em Rubens Vaz desde 1963, quando tinha um ano de idade; músico é referência na favela | Douglas Lopes

Um dos moradores mais conhecidos de Rubens Vaz, Jorge Bob’s concorda que aquela favela é um pouco do Paraíso

Maré de Notícias #100

Hélio Euclides

Jorge Geraldo de Souza, o popularmente conhecido Jorge Bob’s, tem 57 anos. Desde pequeno sua história é de luta. Ele teve poliomielite, aos nove meses – algo que ele leva numa boa, tanto que, muitas vezes, se esquece da deficiência. Popular, sempre é abordado pelos moradores e não deixa de mostrar um samba novo, uma vez que também é compositor. Para ele, não há limites.

Ele nasceu em uma clínica em Bonsucesso. Seu primeiro lar foi na casa da avó, na Rua Oliveira, na Baixa do Sapateiro. Depois foi morar com outra avó, no Parque União. Por último,em 1963, veio para a Rua Massaranduba, em Rubens Vaz. Aos nove anos, começou a trabalhar como engraxate no Parque União, mas foi no estacionamento do Bob’s, no qual realizou seu ofício por 32 anos e 10 meses, que adquiriu o apelido que o acompanharia para sempre.

Batalhador, Jorge Bob’s cruzava a cidade para trabalhar. Nos fins de semana, vendia bronzeador na Praia de Copacabana. “Precisamos nos mexer, não tem emprego, mas trabalho existe”, comenta. Recentemente, se aposentou, mas promete não descansar.

Vaquinha

Jorge Bob’s adora relembrar o passado no bairro que tanto ama, gosta de lembrar de quando a casa era um barraco na palafita e a luz, de lampião de querosene. “Com o passar dos anos, começamos a fazer vaquinha para comprar fio e chegar luz a todos. Depois veio o aterramento. Antes, para ir para Feira da Teixeira Ribeiro [Nova Holanda], era necessário ir até o extinto Beco do Seu Zé. Para ir ao Parque União, tinha de pegar a Avenida Brasil, pois não existia a Rua Principal.Lembro que tinha gente contra abrir a Rua Principal”, conta. ARua Principal foi aberta em 1990, segundo o presidente da Associação de Moradores de Rubens Vaz, Vilmar Gomes, o Magá.

Sem zoeira

Para Jorge Bob´s, Rubens Vaz é como uma cidade do interior: todos se conhecem, é calma e pacata. “Não há zoeira. Meu amigo fala que, aqui, é um pedacinho do céu. São apenas três ruas, João Araújo, Massaranduba e Nova”, conta. Ele só acha que os moradores não podem se acomodar. “Temos de lutar juntos, a população necessita de um Banco, de uma agência de Correios e falta um local de fisioterapia na Maré. É preciso cobrar melhorias à RA (Região Administrativa) e ao CCDC (Centro Comunitário de Defesa da Cidadania), que são os representantes da Prefeitura e do Estado na Maré”, reclama.

Uma de suas paixões são os sambas-enredo. Ele já compôs mais de 20, chegando à final nas escolas de samba com uns quatro. “Não tenho voz, mas uso a mente”, explica.

Inspiração

A pedido do Maré de Notícias, o Nova Raiz ficou de compor uma homenagem ao Jorge Bob’s.  Cante com a gente!

Samba do Parque Rubens Vaz

Composição Jorge Bob’s e Hélio Euclides

Sou morador do Rubens Vaz

Lugar de povo capaz

De melhorar a favela

E se transformar em enredo de novela.

No passado (oh no passado)

Era um condomínio fechado

Mas abriram a Principal

Assim aumentou o pessoal

Veio gente da Nova Holanda

E do Parque União

Todos com bastante emoção,

Trazendo alegria no seu Coração.

Sou morador do Rubens Vaz

Lugar de povo capaz

De melhorar a favela

E se transformar em enredo de novela.

Quem não se lembra

Da passarela caracol

Que era um caminho

Iluminado pelo sol

De um lugar pequeno

De apenas três ruas

Doce como o mel

E é o meu pedacinho do céu

Você sabia?

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