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A luta de atletas por apoio nas trajetórias esportivas é diária nas favelas

Foto: Affonso Dalua | Mesmo com dificuldades, atletas trazem medalhas para a favela.

Hélio Euclides e Jorge Melo

Atletas periféricos precisam enfrentar adversários antes mesmo de entrar no tatame, no ringue, no octógono, na quadra ou em campo. Apesar de levar o nome da favela a outros cantos do Brasil e do mundo, as dificuldades financeiras muitas vezes barram os sonhos. E para as atletas mulheres, a corrida ainda é mais desgastante.

Diferença gritante

Segundo levantamento do jornal espanhol Marca, a jogadora Marta recebe anualmente cerca de R$ 1,94 milhão; só por temporada, o salário de Neymar no Paris Saint-Germain era de cerca de R$ 244 milhões.

“Ainda falta patrocínio para as atletas. O futebol feminino está em ascensão, mas ele tem pouco apoio nas favelas. Sem falar que o tratamento é diferente”, conta Alessandra Antunes, de 38 anos, jogadora sênior na Maré.

Esse abismo é confirmado por Flávio Alves, técnico de uma escolinha no Rubens Vaz: “Assíduas são apenas quatro meninas. A baixa procura é pelo fato de a sociedade ser preconceituosa e passar isso para as crianças, como se futebol fosse só coisa para homem. Nas escolas os meninos jogam bola e as meninas ficam com o queimado.” 

Superação

Gabriel Ribeiro, de 12 anos, conhecido como Mussunzinho, é campeão mundial, pan-americano e brasileiro de jiu-jítsu. Ele deu seus primeiros passos como atleta no projeto Maré Top Team, no Parque União, e já representou a Maré em competições nos Emirados Árabes e nos EUA. 

Apesar do currículo, Gabriel não conseguiu acessar à Bolsa Atleta do governo do estado. Sua mãe passa as noites produzindo chaveiros e assessórios para pagar os gastos do filho. 

“Ainda bem que temos a parceria do Léo Moura, que paga a academia e a preparação física. Já as inscrições nos campeonatos, as dietas e as viagens, eu que custeio”, conta Cintia Ribeiro

Roberto Custódio, bicampeão brasileiro de boxe e professor no projeto Luta pela Paz, acredita que os financiamentos públicos para o desenvolvimento do esporte ainda são muito limitados.

“Por meio dos projetos sociais, crianças e jovens têm acesso à prática de esporte, entre outros benefícios. Além dos projetos, na favela o apoio vem dos familiares e amigos que acreditam no atleta e ajudam o jovem a conquistar seus objetivos”, diz.

Suporte

O projeto Tijolinho nasceu com 12 tatames na quadra da GRES Gato de Bonsucesso. Jeferson Costa, o Mestre Shaolin, é o idealizador do programa que oferece diversos esportes. Ele conta com 15 voluntários e atende 200 participantes.

“O Tijolinho tem um olhar, um trabalho diferenciado. Ministramos aulas de desenvolvimento social contra toda forma de homofobia e preconceito. Estamos formando mulheres protagonistas para inspirar mais”, diz ele, que é integrante da primeira Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-jítsu.

Na luta pela conquista de medalhas e cinturões, a campeã mundial Kaillany Melo, de 14 anos, precisa passar rifas para garantir sua participação em campeonatos. Ela conta que “poucos têm a oportunidade de competir porque falta dinheiro, já que os pais precisam pagar o aluguel”. 

Semente

Outro projeto é o Maré Tá ON, que começou em 2022, com apoio de amigos que desejavam a reforma da quadra da Vila do João. Hoje são oferecidas atividades esportivas além de ginástica para terceira idade e reforço escolar. 

Wanderson Gonçalves, o Vandinho, é o presidente do Maré Tá ON e diz estar plantando uma semente: “Fazemos o nosso, desejando a melhor qualidade de vida da população.” 

Um dos que passaram pelo projeto é Pedro Juan, de 17 anos, que conta com apoio do projeto e do técnico Marcelo Negrão. Ele também sofre com a falta de financiamento. 

“Às vezes a gente desanima. Conquistei mais de 60 medalhas e três cinturões e, mesmo assim, não tenho patrocínio”. Além de a avó ajudar usando parte da aposentadoria, o atleta ainda vende rifas para conseguir competir.

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