A massa jovem escolheu seu lado ao longo da história, e foi junto aos direitos do povo. Através de um breve e sensível relato, faz-se a reflexão: em um momento crítico e decisivo para o país, que força apoiar e deixar que nos represente?
*Flávia Veloso
A fase de descobertas e aprendizados é propícia para canalizar a energia juvenil em causas que podem mudar a história de um país. Isto é histórico. As revoluções artísticas, sociais e políticas mais importantes que o mundo já viu têm nossas mãos, mãos jovens, dispostas e suadas de quem está apto a aguentar o tranco por ideais que valham o esforço.
O que dirá nosso país, cheio de dedos da juventude na história moderna, perpassando por momentos marcantes como a Semana de Arte Moderna, a Segunda Guerra Mundial, as agitações contra a Ditadura Militar, as campanhas das “Diretas Já”. E parece até injusto incumbir tamanha responsabilidade a pessoas ainda de vivência tão pequena, mas são esses os ouvidos mais atentos, sedentos por tudo o que a vida tem a oferecer, e as gargantas mais potentes, loucas por espalhar, aos gritos, o que querem a todos.
Então é à juventude que cabe o dever de escrever a justiça da história, quando os velhos, enferrujados e empoeirados desejam tomar do mundo a juventude que lhes foi tirada. Mas os tiranos não podem contra quem renova as ideias.
Sorte a do jovem que pode imprimir suas digitais nos documentos da história, desmascarando as mentiras dos homens de gravata e sapatos engraxados e construindo um futuro em que o povo não precise calejar suas mãos para ter o de comer e onde se deitar.
Não diferente do passado, nosso país enfrenta as investidas perigosas de uma elite conservadora que tenta arrancar do povo um futuro próspero e de descanso. Não queremos deitar eternamente em berço esplêndido, mas queremos fazer isso antes de nos faltar 20 anos para morrer, pelo menos. Novamente a juventude tenta segurar o rojão. Quando tentaram empurrar goela abaixo dos estudantes um corte de verbas que ameaçaria a existência e a qualidade das universidades públicas, fomos aos milhares às ruas gritar que aquilo não era modelo de educação, mas sim de sucateamento.
Em julho, lá estávamos, nós jovens, debatendo, no 57º Congresso da União Nacional dos Estudantes, estratégias para barrar o desmonte da previdência social, o ataque às universidades, a devastação das florestas, o genocídios dos povos indígenas e negros, a violência cometida contra as favelas e a população LGBT.
Os 82 anos de vida da União Nacional dos Estudantes (conhecida como UNE), carregam desaparecimentos (lê-se sequestros), repressão, tortura, mortes, mas, acima de tudo, luta. São décadas de jovens organizados que simplesmente não aceitam que o Brasil tenha uma política que não seja pró-povo. E lá estavam os estudantes, fazendo frente ao fascismo da Segunda Guerra Mundial, resistindo nas inúmeras manifestações contra a Ditadura Militar, brigando pela inclusão dos brasileiros nas universidades por meio da criação do Prouni; articulando cada vez mais para aumentar sua pluralidade, criar aderência em todo o país, do interior às periferias.
Vivemos um momento que em prática é ditatorial, com ameaças a cultura, educação, economia, liberdade de expressão e até nossa vida. O momento não é de calar-se; de “deixar o capitão trabalhar, afinal, ele acabou de assumir”; de chamar nossos centros acadêmicos, onde se produz conhecimento, de balbúrdia. Em que lado da história queremos ficar: de quem luta energicamente por justiça ou de quem quer nos tirar direitos? Amanhã há de ser outro dia, e um dia melhor para aqueles que triunfam ao lado da verdade.
*Flávia Veloso, 22 anos, é repórter do Maré de Notícias, estudante de Comunicação Social da Unisuam e participou, em julho, no 57º Congresso da UNE, em Brasília.