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A Maré pulsando arte e cultura

Publicação mapeia iniciativas e artistas mareenses

Por Hélio Euclides, em 30/06/2021 às 06h

A cultura popular é o resultado de uma interação contínua entre pessoas de determinadas regiões, que surge das tradições e costumes e é transmitida de geração para geração. Essa definição feita pela Prefeitura de São Paulo mostra a importância da arte em seus diversos aspectos. Como forma de valorizar os protagonistas do conhecimento, a Redes da Maré com apoio da Fundação Ford, lançou a  “Marégrafia: Cartografia das artes e artistas na Maré”, que integra o edital A Maré que Queremos e dá visibilidade e incentivo às produções e narrativas de artistas locais.

A publicação é uma ação que identifica e referencia artistas da Maré, com apresentação do perfil desses produtores, trabalhos e trajetórias, e faz uma análise da repercussão da pandemia em suas vidas e atividades. O trabalho foi desenvolvido no contexto do eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades e do Núcleo de Memórias e Identidades da Maré (NUMIM), a partir do projeto Maré que Queremos, e mostra nas em 212 páginas o perfil cultural do território com a presença de 70 artistas individuais e produções culturais, 12 coletivos e 4 equipamentos culturais.

A pesquisa, que ocorreu entre os dias 10 de novembro de 2020 e 8 de fevereiro de 2021, identificou diversas potências, muitas vezes com trajetórias invisibilizadas, e que hoje estão em situação de vulnerabilidade por causa da pandemia. A cartografia traz o perfil dos artistas divididos por cor e raça, identidade de gênero, orientação sexual, religião, escolaridade, idade, renda individual, renda familiar e práticas culturais. Há também a segmentação por categorias como arte urbana, artes plásticas, artes variadas, cinema, comunicação em audiovisual, cultura digital, cultura popular, dança, fotografia, funk, literatura, moda, música, teatro, performance e produção cultural.

Ao identificar iniciativas artísticas e seus produtores, a pesquisa aponta para a riqueza, variedade e a importância do fazer artístico-cultural para a vida da população da Maré. A publicação também mostra suas obras e intervenções, que os artistas criam, a partir da favela, novas formas de ver, interpretar e intervir na cidade e no mundo. O trabalho final revela saberes e potencialidades ainda pouco conhecidos e valorizados por aqueles que detém o poder de dizer o que é válido como arte e cultura popular.

Um mapa dos artistas culturais 

“O trabalho dos artistas apresentados na cartografia ganha uma dimensão que vai além de um simples “catálogo”. Na verdade, “Marégrafia” é uma afirmação política e uma reivindicação de reconhecimento da importância da arte favelada que dialoga com o restante da cidade”. Essa é a explicação de Edson Diniz, diretor da Redes da Maré, no prefácio sobre a publicação. Para o professor, essa arte da favela é incorporada à produção da cidade, ao seu fazer artístico, que ao mesmo tempo, retorna para essa mesma cidade como uma produção original, num movimento dialético, onde as obras e intervenções de artistas da Maré remodelam e recriam a cultura carioca.

O impacto dos dados na cartografia está em identificar as potências e vulnerabilidades coletivas desencadeadas por processos históricos e excludentes que apartam determinados perfis populacionais. No perfil individual, a pesquisa atingiu 12 profissionais relacionados ao teatro, dez na música, dez nas artes plásticas, oito nas múltiplas práticas culturais, sete na literatura, seis na produção cultural, quatro na dança, três na fotografia, três na cultura popular, dois na comunicação audiovisual, um como circense, um na contação de histórias, um na moda, um na cultura digital, um na performance, um na arte urbana, um na arte variada e um como drag queen.

Um desses artistas da cartografia é Felipe Bacelar, de 23 anos, morador do Parque Rubens Vaz. Ele é artista visual, mobilizador e articulador dentro do território. A sua trajetória na cultura começou em 2017, na Escola de Cinema Olhares da Maré, projeto da Redes da Maré. “Dentro desse processo da fotografia, começo a desenvolver os meus trabalhos artísticos. Por meio do desenvolvimento da colagem, eu falo da afetividade, relacionada aos homens, às mulheres e crianças negras. Eu trago nas fotos colagens a ressignificação para vermos nós mesmos e o outro trazendo a questão da afetividade”.

Outro personagem é Gabriel Affonso, de 24 anos, morador do Parque União, que é artista da pintura. Começou a pintar ainda criança em uma oficina de desenho. “Hoje coloco meu olhar de jovem, gay e mariense sobre meus trabalhos. Desenvolvi também um trabalho de releitura, criando pinturas a partir de imagens de fotógrafos da Maré”, destaca o rapaz que  na juventude não via a pintura como profissão, mas hoje a tem como ofício. 

Affonso, como outros quase 46% dos artistas, tiram de seus orçamentos próprios, os recursos para financiar seus projetos. Para continuar como pintor, o artista precisa trabalhar em um restaurante para custear gastos pessoais e a arte. “Como artista independente e periférico não possuo qualquer tipo de ajuda financeira. Não desisto, pois me sinto capaz de algo pintando”, conclui.

Marégrafia em números

A pesquisa ainda desenhou a vivência profissional dos artistas nas questões de apoio familiar, se o trabalho artístico é suficiente para a sobrevivência, a formalização, o financiamento e como está o isolamento social na pandemia. 

Algumas questões da publicação:

Artistas:
Gabriel Affonso
https://www.instagram.com/gaelaffonso/

Felipe Bacelar
https://www.instagram.com/____bacelar/

Veja a publicação completa em:

https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/Maregrafia_.pdf

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