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A mobilização e a resistência às remoções fortaleceram o Parque União

Rua Ary Leão, no Parque União - Foto: Gabi Lino

A mobilização feminina, como a carta de Dona Mironeide ao então presidente João Figueiredo na tentativa de despejo da favela, foi vital para a resistência do territórios

Maré de Notícias #151 – agosto de 2023

O Parque União se estende no entorno das avenidas Brasil e Brigadeiro Trompowski. Oficialmente, a favela viu serem erguidas as primeiras habitações em 1961. Dois anos antes, a área fora aterrada por uma empresa particular e depois, e loteada pelo advogado ligado ao Partido Comunista Brasileiro Margarino Torres. Os lotes, vendidos por valores acessíveis, foram rapidamente ocupados pelos primeiros barracos.

Como em outras favelas da Maré, os moradores construíram as casas em madeira para, de forma escondida, depois levantarem as paredes em alvenaria (o que era proibido pelos militares do então vizinho 1º Batalhão de Carros de Combate). 

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Além do advogado, outros moradores continuaram a organização da favela, como Geraldo dos Santos e Cândido. Outra liderança foi posteriormente homenageada na clínica da família da favela: Diniz Batista dos Santos, um dos primeiros moradores e pioneiro no comércio do lugar (eram dele um barzinho e um armazém). 

Antes e depois da Rua Ary Leão, uma das mais movimentadas do Parque União. Favela é a mais populosa da Maré, com mais de 20 mil moradores – Fotos: Acervo Numin (Esqueda) e Gabi Lino (Direita)

Ampliação legal

A partir do ano 2000, o Parque União teve ampliado o seu espaço geográfico com a aquisição dos terrenos de antigas fábricas, que foram loteados legalmente pelos moradores, chamadas popularmente de Sem Terra. Das 16 favelas que formam a Maré, o Parque União é a mais populosa, com 14,8% dos 140 mil moradores dos territórios (mais de 20 mil pessoas). 

Para chegar ao que é hoje, a mobilização das mulheres foi fundamental. Uma delas foi marcante no início da década de 1980, quando ocorreu a tentativa de desocupação da favela. 

Dona Mironeide Rezende enviou carta ao então presidente João Figueiredo (que, em resposta, garantiu que a favela não seria desocupada) e, com isso, conseguiu frear a remoção dos moradores. 

Amor pela favela

Muitos moradores se apaixonaram à primeira vista pelo Parque União e não querem sair dali nunca mais. É o caso de Genilda Rodrigues, de 65 anos, que chegou à favela com cinco anos.

“Minha casa era um barraco de madeira que meu pai construiu, porque tudo era lama. Nos fins de semana, nós nos reuníamos e organizávamos festas, cada um levava um petisco e uma bebida. No fim, sentávamos nas calçadas e tínhamos só bons papos até o dia amanhecer. As festas juninas só acabavam na alvorada, com a vaquinha para enfeitar a rua”, conta.

Esse pensamento é compartilhado por Roberto Estácio, presidente da Associação de Moradores do Parque União, que sente amor pelo lugar onde mora desde que nasceu. 

“Aqui aprendi muito, esse lugar formou o meu caráter e me preparou para derrotas e vitórias. Tenho uma gratidão e respeito por todos que comandaram a associação, pois investiram seu tempo para lutar pela comunidade”, diz.

Segundo ele, “o diferencial do Parque União do passado para o de hoje é ter a internet como o veículo de diálogo com o morador. Sei que tenho uma responsabilidade, a de ser um elo com o poder público para que aqui prospere, pois favela é potência.”

Gastronomia

O Parque União é conhecido pelo seu polo gastronômico. Há 12 anos Ana Paula Azevedo é proprietária, junto com o marido, do restaurante Galeto Dourado.

“Não tenho vontade de sair do Parque União, pois é muito bom dar trabalho para os nossos 80 conterrâneos. Abrimos diariamente, só fechamos no Natal e Réveillon. Há dois anos começamos com o serviço de entregas”, explica.

Para Ana Paula, “para melhorar é só o poder público regularizar o esgoto e a coleta domiciliar de lixo, acabando com os contêineres”. 

Em setembro o rolê pelas favelas que formam a Maré tem encontro marcado com a Nova Holanda.

Até lá!

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