Diego e Jeniffer são dançarinos do CAM e estudantes de Dança na UFRJ
Felipe Rebouças
Apesar do mar de dificuldades que separa o cenário artístico nacional entre sonhadores e realizadores, há quem se aventure em busca da concretização dos desejos. Prova disso são os jovens Diego da Cruz, de 25 anos, e Jeniffer Rodrigues, com 24, que se conheceram há cerca de 9 anos no Ensino Médio do Colégio Municipal Herbert de Souza, no Rio Comprido, e desde então trilham suas trajetórias norteadas pelo amor em comum à dança. Enquanto ela, moradora da Maré, deu seus primeiros passos na Vila Olímpica, o rapaz começou a dançar num projeto em Vila Isabel. O envolvimento com a dança os manteve próximos após o término do Ensino Médio, em 2011. No ano seguinte, Diego estava desempregado e atuando em projetos de dança, e Jeniffer sofreu um problema de saúde e precisou abandonar o trabalho social que exercia. Por acaso, a primeira audição da Escola Livre de Dança, no CAM, foi convocada e o contato frequente entre os dois promoveu o convite dela a ele: “fiquei sabendo da audição através de alguns conhecidos, chamei o Diego, ele topou e desde então estamos aqui”, relembrou a dançarina.
O teste foi uma apresentação de dança contemporânea, em março de 2012, e ambos foram aprovados. Desde então, Diego e Jeniffer compõem, acompanhados de outros 18 alunos atualmente, o Núcleo II da Escola Livre de Dança da Maré. A distinção de núcleos se faz necessária por conta da ampla abertura às práticas realizadas pelo Núcleo I [cerca de 300 integrantes] e pelo caráter profissional do Núcleo II. Além das eventuais apresentações, os dançarinos estão presentes no Núcleo de segunda a sexta, das 14h às 17h30.
Responsável pela Cia de Dança, a coreógrafa Lia Rodrigues, reconhecida internacionalmente, ajudou a dupla. Diego contou que não se sentiu seguro para cursar uma graduação, e Jeniffer se inscreveu no pré-vestibular da Redes da Maré em busca de uma vaga na Universidade. A coreógrafa estimulou o dançarino, o fez acreditar em si mesmo e nos seus próprios sonhos. Ela o ensinou os passos que não se elaboram nos palcos. E como numa coreografia sincronizada, os dois ingressaram no curso de Dança da UFRJ.
Divididos entre a vida acadêmica e artística, os dançarinos mesclaram as aulas de anatomia, antropologia, sociologia, filosofia, história da arte e outras — disciplinas que englobam o estudo do corpo — com as viagens da Escola Livre de Dança. Embora tenha sido árduo conciliar os dois objetivos, a formação profissional como dançarinos se fez de maneira ampla. A troca realizada na Maré os proporcionou experiências enriquecedoras, as quais o academicismo explora com defasagem. “Aqui é um ambiente plural e diverso, trocamos com vários profissionais da área que vêm até nós para disseminar suas experiências”, explica, Jeniffer.
Hoje, Diego e Jeniffer se organizam para entregar suas teses e concluir a graduação, enquanto aguardam o retorno às atividades no CAM, marcado para o Núcleo II no início de fevereiro, data que define o início dos ensaios para o próximo espetáculo, a releitura de May b – peça de dança contemporânea criada pela coreógrafa Maguy Marin em 1981. Agendada para rodar os palcos franceses a partir do fim de março, a releitura é dirigida por Lia Rodrigues, que foi uma das dançarinas da versão original na década de 1980, processo que só será possível com o apoio da Fundação Hermes.
Gratos pelas pessoas que cruzaram seus caminhos, eles pretendem se aprimorar na dança, seguirem dando aula como fazem nos projetos paralelos ao CAM e progredirem como intérpretes de dança. Diego sonha em se mudar para o exterior e trabalhar com arte voltada para o desenvolvimento social, enquanto Jeniffer almeja tornar-se uma grande professora de dança. A perseverança de ambos os trouxe até aqui e tudo leva a crer que seguirão enfrentando os desafios que a vida lhes apresentar.