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Artigo: Os cuidados para hanseníase durante pandemia da covid-19

Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

Por Ximena Illarramendi e Letícia Lima, em 05/08/2021 às 11h10

No último ano, a pandemia originada pelo novo coronavírus tem sido o foco para nossa sociedade. O risco de contágio pelo SARS-CoV-2 e de contrair COVID-19, nos levou a mudarmos a maneira como trabalhamos, estudamos e interagimos com outras pessoas. Mas, como tem sido essas mudanças para as pessoas que também lidam com doenças como a hanseníase?

Durante a pandemia, o diagnóstico de casos novos diminuiu, como também diminuiu de maneira drástica o monitoramento de contatos, familiares e amigos próximos passíveis de contrair a hanseníase. Segundo os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, o registro de casos novos caiu em mais de 40% de 2019 para 2020, enquanto a avaliação de contatos caiu em mais da metade dos casos. O atraso no diagnóstico faz que a pessoa acometida por hanseníase fique mais vulnerável às consequências do tratamento tardio, isto é, ao avanço da doença e das alterações nos troncos nervosos que aumentam as chances de desenvolver deformidades visíveis. Esse atraso no tratamento, também faz que seja mantida a cadeia de transmissão da bactéria que causa a doença. Assim, pode aumentar o número de pessoas sob risco de se contagiar.

Historicamente, pela ausência de tratamentos eficazes contra a hanseníase os pacientes eram isolados em leprosários e retirados de suas famílias. Lembra de algo? Também precisamos ficar isolados por conta da pandemia, mas de forma muito diferente de como era antigamente com as pessoas acometidas pela hanseníase. Esse isolamento levou a nutrir o preconceito, que até hoje podem sofrer as pessoas acometidas pela doença. Os pacientes temem pela rejeição e isolamento de grupos de amigos e familiares, como também da perda do emprego, depois que recebem o diagnóstico da doença. Se o isolamento pela COVID-19 levou muitos à depressão, imagine o que essa rejeição que a pessoa acometida pela hanseníase pode lhe causar.

Com a descoberta do tratamento, a poliquimioterapia, e o melhor entendimento sobre a doença deu-se o fim do isolamento. Há mais de 20 anos a doença tem cura! As pessoas acometidas por hanseníase recebem tratamento gratuito no posto de saúde e têm possibilidade de plena circulação e participação da sociedade. Sabemos que a bactéria é transmissível apenas enquanto a pessoa não toma a poliquimioterapia e que as pessoas em convívio próximo e prolongado são aquelas com maior risco de adoecer.

Infelizmente, nem todo mundo sabe que é tão simples. Por isso no nosso estado do Rio de Janeiro, todo dia 5 de agosto, dedicamos à Conscientização, Mobilização e Combate da hanseníase. Assim, caso apresente os sintomas da hanseníase como lesões de pele esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas sem pelos na região e com sensação de formigamento e/ou dificuldades em sentir frio e calor, vá em um posto de saúde mais próximo para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento. Recomende o mesmo para alguém que tenha os sintomas e ofereça apoio.

A comunicação e o acolhimento dos mais próximos, assim como buscar informações para entender a hanseníase são essenciais para tratar e superar a doença. Lutemos por um Rio de Janeiro livre de hanseníase! Para saber mais acesse: https://www.saude.rj.gov.br/

** Letícia Lima é aluna do Programa de Vocação Científica, colaborando em pesquisa do Ambulatório Souza Araújo, Fiocruz, centro de assistência e pesquisa para pessoas acometidas pela hanseníase no Rio de Janeiro. Ximena Illarramendi. Médica, Doutora em Medicina Tropical pelo Instituto Oswaldo Cruz, pesquisadora do Laboratório de Hanseníase, Fiocruz


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