Home Blog Page 210

Para reverter a pouca procura por imunizante infantil, secretarias de saúde do RJ criam ações de busca ativa

0

Mesmo com doses disponíveis, procura por vacinação infantil contra covid-19 ainda é baixa

Por Jorge Melo e Hélio Euclides, em 11/02/2022 às 07h30. Editado por Edu Carvalho.

Pouco mais de um ano da imunização nos adulto contra o coronavírus, o esquema vacinal das crianças começa a ser implementado, representando a possibilidade de protegê-las, em um cenário de retorno às aulas mais seguro, além de nos aproximar de um controle da pandemia. O grande problema é a pouca procura pelos imunizantes infantis.

A insuficiente adesão à vacina infantil fica clara quando se vê o número de crianças imunizadas na cidade do Rio de Janeiro. São 263 mil crianças vacinadas, um número que não representa nem metade da meta de 560 mil cariocas com idade entre 5 e 11 anos. Para reverter a situação, a Prefeitura do Rio vai distribuir uma carta com pedido de autorização dos pais para que seus filhos tomem a primeira dose, o que poderá ser feito na própria unidade escolar.

Outra iniciativa vai ser a busca ativa por crianças que ainda não foram vacinadas contra a covid-19, a partir de dados disponíveis nos postos de saúde e com a assistência social, além de cadastros do governo federal. Com esse cruzamento de informações, o município vai entrar em contato com os responsáveis. A Secretaria Municipal de Saúde reforça a importância de que os pais levem os filhos para serem imunizados contra covid-19. Lembra que agora a repescagem será permanente. Para incentivar a adesão à vacinação, cada criança vacinada recebe o “certificado de coragem”. Algumas unidades ainda foram decoradas e promoveram atividades lúdicas para atrair o público infantil, criando um ambiente agradável e acolhedor.

No Estado a situação ainda é pior. O painel de informações sobre a Covid-19 do governo estadual mostra que apenas 9% das crianças de 5 a 11 anos receberam a primeira dose no Estado do Rio. Para mudar este panorama, a Secretaria Estadual de Saúde tem ao seu lado 9.390 mulheres, a maioria mães de alunos. O grupo Mulheres Apoiando a Educação, que foi criado para atuar contra a evasão, agora vai atrás dos não vacinados.

Na Maré os números são melhores

Até o dia 08 de fevereiro, foram aplicadas 7.875 primeiras doses em crianças de 5 a 11 anos nas unidades do território da Maré, o que representa uma cobertura vacinal de 57% neste grupo. Thiago Wendel, coordenador geral de atenção primária da Maré, responsável pelas sete unidades de saúde, está feliz com a boa adesão da vacina infantil. Mesmo assim, acha indispensável a realização da busca ativa. Na Maré, os profissionais de saúde vão atrás das crianças nas suas casas para entender o porquê de não tomaram a vacina na data certa do calendário. Na própria residência a criança receberá o imunizante.

“O que estamos vendo aqui na Maré não são responsáveis antivacina, que recusam o imunizante e sim pais ocupados e famílias trabalhadoras, que não conseguiram tempo para levar as crianças às unidades de saúde”, diz Wendel. Ele lembra que toda a população da Maré tem uma unidade de saúde como referência e deve procurá-la para tomar as vacinas. “A vacina contra o covid é segura, tenho um filho que levei para a vacinação. É uma proteção para a sua criança”, comenta. No território, as unidades receberam os imunizantes para as crianças da farmacêutica Pfizer e do Instituto Butantan, a CoronaVac. O coordenador acrescenta que o responsável pode escolher qual vacina deseja para o seu filho.

Alguns responsáveis fazem questão de tirar fotos e filmar seus filhos recebendo a agulha. Não foi diferente com Wallace Coutinho, conhecido como Madiba MC, morador da Baixa do Sapateiro, que registrou o momento da vacinação do seu filho Ezequiel, de 8 anos. “Eu entendo a importância da vacinação, inclusive nas crianças, para a proteção contra o vírus do covid. Por ser uma doença nova, que matou muita gente, a vacina ajuda na criação dos anticorpos. Torna a criança e um adulto protegido”, conta.

Ele lembra que quando criança também foi vacinado contra outras doenças, agora chegou a vez de retribuir a boa ação. “A vacina está presente no nosso meio há muito tempo, é uma evolução da humanidade. É importante a propagação da verdade sobre a vacina, algo que o governo deveria ter feito, mostrar os benefícios nas crianças e o perigo da não vacinação”, ressalta. A vacinação do filho trouxe felicidade para Madiba, que acredita numa vida mais saudável para o filho, após receber anticorpos contra o coronavírus.

“Infelizmente há fake News. O brasileiro esqueceu o passado, das vacinas que tomou para poder estar vivo. Agora fala asneira, para de procurar o conhecimento e confia em pessoas que falam o que querem no WhatsApp, sem base científica. O perigo da sociedade é acreditar no que não é verdade e deixar de confiar na veracidade”, conclui Madiba.

A pandemia não acabou

Além da máscara, higienização e evitar aglomeração, a vacina é um dos meios para superar a pandemia, que ainda segue assustando. Após o réveillon, os números de contaminados e hospitalizados subiram. O Brasil registrou ontem (09/02) 1.295 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 635.189 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes nos últimos sete dias é de 873, a maior registrada em quase seis meses. São agora três semanas seguidas com tendência de alta.

Na cidade do Rio, a maior rede privada de emergência pediátrica do Rio, informou que 94% dos internados em janeiro não tinham vacina. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mais da metade dos internados não recebeu nenhuma dose da vacina. “Tivemos um crescimento muito grande de casos de covid muito relacionado ao omicron, por ter uma grande chance de se propagar rapidamente. Temos assistidos muitos casos de internações de não vacinados ou com esquema vacinal incompleto, ou seja, sem a dose de reforço. Em janeiro atingimos o pico e agora vamos perceber na cidade uma queda, por dois motivos: ela atingiu grande parte pessoas que vai desenvolvendo alguma imunidade após a infecção e pela boa cobertura vacinal”, expõe o professor Carlos Machado, coordenador do Observatório de Covid-19 da Fiocruz.

Para Machado, a vacinação é um elemento fundamental contra omicron, sem desconsiderar a importância da higienização das mãos e uso de máscara em locais de grande concentração e circulação de pessoas, como metrô, trem e ônibus. “É preciso a criação de estratégias. A exigência do passaporte de vacina na matrícula das crianças é fundamental, para que todos os pais possam não só levar o filho para a primeira dose, como completar o esquema vacinal”, acrescenta.

Uma novidade no município é que professores e alunos que testarem positivo para covid-19 vão ficar apenas sete dias em casa e a turma inteira não será afastada, mas todos farão o exame para verificar se estão infectados. A boa notícia para os cariocas é que, nos últimos dias, o número de pacientes internados com covid-19 tem diminuído e o número de testes que apresentam resultado positivo na cidade do Rio também retrocedeu para 27%

Apreensão e animação marcam retorno às aulas presenciais na Maré

Escolas municipais do Rio tiveram seu retorno às atividades presenciais na última segunda e mareenses relatam a experiência do recomeço após quase 2 anos

Por Hélio Euclides e Tamyres Matos, em 10/02/2022 às 10h

O frio na barriga característico do primeiro dia de aula, o reencontro com os amigos após o período de férias… tudo isso intensificado por um afastamento de quase dois anos e ainda protegido por máscaras. Crianças e adolescentes das 46 escolas municipais do conjunto de favelas da Maré vivem essa reconexão com o aprendizado fora das telas desde a última segunda-feira (7).

Professora da Escola Municipal Professor Paulo Freire, na Vila dos Pinheiros, Simone Werneck compartilha suas observações sobre os primeiros dias e a reação dos jovens alunos. “As crianças sempre voltam animadas, saudosas e com muita energia. Estou com duas turmas de primeiro ano e percebo no olhar deles a alegria de estar no espaço escolar e a vontade de aprender”, conta.

No entanto, as preocupações com a pandemia de covid-19 ainda não estão no retrovisor. A situação epidemiológica do Rio de Janeiro ainda demanda atenção e a adesão à imunização infantil ainda evolui a passos lentos. De acordo com a Secretaria de Saúde do Rio, apenas 39% das crianças entre oito e onze anos de idade haviam sido vacinadas contra a covid no Rio até o início do mês de fevereiro. A taxa representaria a adesão é a mais baixa da história da capital fluminense a uma campanha de vacinação infantil.

“Ficamos com medo com o retorno presencial, pois quando estão perto da gente (as crianças) passam álcool na mão e usam máscara. Agora longe, como vai ser? A escola precisa oferecer o mínimo: água, sabão e ventilação. Fico com o coração apertado, mas fazendo a minha parte, que é enviar a garrafinha de água, máscaras, álcool e recomendando o distanciamento, no momento sem abraços aos amiguinhos”, afirma, apreensiva, Raimunda Sousa, mãe de Izabella, de 10 anos e Alice, de 8 anos, ambas alunas na escola Paulo Freire.

A professora Simone tem as mesmas preocupações que Raimunda: “Ainda tenho muito medo, pois a escola não tem ventilação adequada, não há quantitativo suficiente de funcionários de limpeza, além do número elevado de alunos em sala de aula. Porém entendo a necessidade de volta e acredito que aos poucos vamos nos adequando a esse novo momento de volta”, diz.

Pedro, de 6 anos, estuda na Escola Municipal Primário Osmar Paiva Camelo, no Campus Maré I, na Nova Holanda. A mãe do pequeno, Karla Rodrigues, acredita que o retorno ocorre no momento certo | Foto: Arquivo pessoal

Apesar da apreensão, a Prefeitura do Rio tem buscado tranquilizar pais e alunos para a segurança da decisão tomada nesse momento. Segundo o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, o planejamento permitiu que o retorno às aulas no formato presencial ocorresse da forma mais preparada possível. 

“Nesses últimos meses tivemos muitas intervenções e melhorias nas infraestruturas das nossas escolas, com mais de R$ 150 milhões investidos, para que as unidades estivessem prontas. Temos também o nosso protocolo sanitário aprovado pelo comitê científico, o que dá segurança necessária para o ensino presencial. A gente deixa claro que a escola deve ser a última a ser impactada em qualquer circunstância e preservada o máximo possível. Lugar de criança é na escola. A escola é insubstituível, pois tem um papel importantíssimo na aprendizagem, na alimentação das nossas crianças, no acolhimento socioemocional e na convivência social. Criança precisa de criança e o melhor lugar para elas interagirem é nas nossas escolas”, declara.

Perrengues do ensino remoto e importância da vacinação

Além de aprofundar as desigualdades socioeconômicas, a educação a distância prejudica a socialização e a saúde emocional dos jovens. Por exemplo, uma pesquisa realizada pela Redes da Maré com o apoio do Fundo Malala apontou que 3 em cada 4 alunos não têm computador em casa para acompanhar o ensino remoto. Além disso, há muitas reclamações sobre a qualidade do sinal de Internet que chega às casas.

“O período remoto foi muito difícil, mas necessário, perante ao momento pandêmico. Houve muita dificuldade de acesso das crianças às aulas devido à exclusão tecnológica, aos poucos fomos nos adaptando a outra realidade bem distinta ao que estávamos acostumados. E o momento de retomada ainda foi mais difícil pois ficamos um longo período distantes e havia muitas medidas novas para adaptar. Foi um aprendizado para os alunos e para os professores, reaprendemos a nos comportar de uma maneira mais formal, mais polida, mas ainda assim, amorosa”, conta Simone.

Avanço da vacinação infantil contra a covid-19 é primordial para a segurança das crianças e adolescentes | Fabio Motta / Divulgação/ Prefeitura do Rio

Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora do grupo de trabalho da Fiocruz para produzir recomendações sobre a prevenção da covid-19 no ambiente escolar, a pneumologista Patrícia Canto afirma que a vacinação é uma das principais ferramentas para tornar o ambiente escolar mais seguro. Segundo a especialista, as pessoas imunizadas, mesmo quando contaminadas, tendem a ter menores cargas virais para a transmissão da doença. 

“É importante que a gente faça campanhas para que os pais levem os filhos para que possam ser vacinados e é importante que os pais sejam vacinados, porque essa também é uma forma de proteção das crianças”, diz.

A mareense Karla Rodrigues celebra que o retorno das aulas se tornou possível graças ao avanço da vacinação. “O início do ano letivo presencial me parece adequado nesse momento. E uma consequência da campanha mundial de vacinação. É uma tentativa para voltar à normalidade que a vacinação foi acelerada para nos atender. Penso que é esse o caminho”, opina.

Hora de voltar para a escola

A evasão escolar tem preocupado as organizações sociais e as autoridades de educação. Segundo o estudo Cenário da Exclusão Escolar no Brasil – um Alerta sobre os Impactos da Pandemia da Covid-19 na Educação, em 2020, 5,1 milhões de crianças e adolescentes perderam o vínculo escolar. Os motivos podem ser muitos, desde a necessidade de trabalho, para que os jovens consigam ajudar a família, quanto por medo de reprovação, por não se sentirem capacitados ou até mesmo por não terem quem leve uma criança pequena para as aulas.  

Nesse cenário, de recuperação após o avanço da vacinação, foi lançada a campanha “Bora pra Escola!”, pelo Centro de Referências em Educação Integral. O objetivo é mobilizar estudantes que abandonaram a escola durante a pandemia a voltarem para a escola. Mais de 30 organizações sociais de todo o Brasil se uniram nessa mobilização.

Confira 10 dicas da Secretaria de Estado de Saúde para o retorno às aulas

1 – Higienize os materiais que vão e voltam à escola;

2 – Não envie brinquedos neste momento. Certifique-se de que seu filho leve para a escola apenas o essencial;

3 – Envie máscaras extras que ofereçam a devida proteção para que possam ser trocadas quando necessário ao longo do dia;

4 – Inclua frasco de álcool em gel nos itens pessoais;

5 – Oriente para que forre a pia com papel toalha na hora de escovar os dentes;

6 – Oriente seus filhos a não emprestar itens pessoais, como copos, material escolar nem tubos de pasta de dente;

7 – Lembre seu filho de se sentar afastado do colega quando fizer as refeições;

8 – Verifique a temperatura dos estudantes antes da ida à escola. Caso o resultado seja mais de 37,5°C, deve-se procurar serviço médico e a escola deve ser comunicada;

9 – Também não devem ir à escola estudantes, responsáveis e servidores que apresentarem ao menos dois sintomas gripais, como obstrução nasal, diarreia, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza e alterações no paladar e olfato;

10 – Beijos e abraços ainda precisam ser evitados, mas podemos criar um jeito novo de cumprimentar nossos amigos: que tal um ‘soquinho’ ou ‘bate cotovelo’?

Curso preparatório para o ensino médio na ONG Redes da Maré está com inscrições abertas; saiba mais sobre

0

Por Edu Carvalho, em 10/02/2022 às 07h.

Se você está no 9º ano do Ensino Fundamental ou 1º ano do Ensino Médio e deseja estudar em instituições como: Colégio Pedro II, FAETEC, CEFET, IFRJ, FIOCRUZ, CAP-UFRJ e CAP-UERJ, esta é uma grande oportunidade. 

As inscrições vão até o dia 20 de fevereiro e são 50 vagas para as turmas da Nova Holanda e 50 vagas para as turmas da Vila dos Pinheiros, em um formulário online que você acessa clicando aqui. 

Para aqueles que não têm acesso à internet, basta ir em um dos prédios da Redes para fazer a inscrição presencialmente. 

Veja abaixo mais informações sobre o processo de seleção: 

– Para as aulas no prédio da Redes da Nova Holanda: ir ao prédio principal da Redes da Maré na Rua Sargento Silva Nunes, 1012, às segundas, de 11h às 17h;

– Para o candidato à vaga no prédio da Redes do Pinheiro: ir à sede da Redes da Maré na Vila dos Pinheiros na Via A1 – CIEP Gustavo Capanema, às quartas, de 11h às 17h. 

A ONG Redes da Maré enfatiza que esse ano é preciso ir até a sede para fazer a confirmação da inscrição. Para outras informações, acesse o edital em https://bit.ly/3GkXQUA. Não fique de fora dessa! 

Polícia Civil realiza operação policial em Marcílio Dias na semana da volta às aulas

0

Por De Olho na Maré – Redes da Maré, em 09/02/2022 às 14h30.

Nesta manhã desta quarta-feira (09/02), a Polícia Civil realizou a operação denominada “Alba”, na favela Marcílio Dias, conhecida popularmente como Kelson’s. Segundo a Secretaria de Estado da Polícia Civil (SEPOL), a ação teve como principal objetivo a desarticulação de um esquema de compra e venda de drogas e armas, que segundo a instituição é comandada pelo grupo armado que domina este território. Dessa forma, a Polícia pretendia realizar o cumprimento de 26 mandados de busca e apreensão, o bloqueio judicial de aproximadamente R$ 76 milhões em contas bancárias e sequestro de bens de alto valor de suspeitos de participar da lavagem de dinheiro.

A SEPOL informou ainda que entre os alvos da operação estão empresários e pessoas físicas, além de Dalton Luiz Vieira Santana “DT”, investigado como principal suspeito da morte da sua ex-namorada – Bianca Lourenço, de 24 anos – em janeiro de 2021 e também acusado pela polícia de ser o líder de um esquema em que a entrada do dinheiro do tráfico de drogas no sistema bancário é camuflada, por meio de contas de terceiros e em quantias fracionadas.

Com a operação “Alba”, também foram realizadas movimentações da polícia civil em outros cinco estados: Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.

Até a última atualização desta reportagem, apenas um homem havia sido preso. A Justiça também determinou o bloqueio em contas bancárias e o sequestro de bens contra o grupo criminoso. Dalton seguia foragido.

Em contrapartida, a ação foi realizada um dia depois do retorno das aulas no Rio de Janeiro e em consequência da operação da polícia civil, segundo a Secretaria Municipal de Educação, não houve atendimento na Escola Cantor e Compositor Gonzaguinha e os alunos ficaram sem aula.

Além disso, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o Centro Municipal de Saúde acionou o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de usuários e profissionais, não realizou atendimentos, impactando, inclusive, na campanha de vacinação de crianças de 5 a 11 anos.

A equipe da Redes da Maré acolheu denúncias de violação à domicílios e violência psicológica durante a ação.

A operação se encerrou por volta das nove horas da manhã. A ação contou com a presença de um helicóptero, além de carros blindados.

“Na favela aprendi a ser quem eu sou”

Mareense, paraibano e escritor, Jedai imprime em seus roteiros o cotidiano dos territórios

Por Gracilene Firmino 

Anderson Gonçalves Vieira

Jornalista, poeta, compositor e roteirista, Anderson Gonçalves Vieira — conhecido por todos como Jedai — brinca que, às vezes, até esquece seu nome de origem. “Meu nome é Jedai, e meu apelido é Anderson”, diz, rindo. É dele o roteiro da websérie É o Complexo, que conta a história de Bom Cabelo e Tio Pac. Moradores do Complexo do Alemão que lutam contra o preconceito territorial, os estigmas, as dificuldades para arranjar trabalho e as situações de vulnerabilidade social com as quais quem mora na favela convive diariamente. Transmitida pelo YouTube no canal de mesmo nome, É o Complexo já conta com 11 episódios e 150 mil visualizações.

“Diversos assuntos são abordados na série, como o envolvimento da juventude na criminalidade, políticas públicas, danos causados pelas drogas, violência doméstica, maternidade precoce, preconceito territorial, trabalho informal, depressão, ansiedade, entre outros”, diz Jedai. A maioria dos atores da série são moradores do Complexo do Alemão, assim como seus criadores, Leonardo de Jesus e Ricardo dos Santospor, que são nascidos e criados no território. Por isso, a série foi toda  ambientada e gravada na comunidade da Zona Norte do Rio. A escolha do formato visou à distribuição. “A websérie é fácil de produzir e colocar na internet, o alcance é muito maior”, conta o roteirista. 

Da Paraíba para a Maré

Aos 33 anos, Jedai é natural da Paraíba e não esconde o orgulho de nordestino. “Nasci na terra de Suassuna, Juliette, Gkay, Chico César, Zé Ramalho… Não pedi pra nascer na Paraíba, eu tive foi sorte!”, diz a cria da Favela da Kelson’s, no conjunto Marcílio Dias.  De Campina Grande, ele veio para o Rio de Janeiro ainda bebê. “Viagem de ônibus, três dias na estrada, e eu tinha apenas um mês. Minha mãe diz que o motivo da migração para o Rio foi a busca por melhores condições de vida e trabalho.” E foi no conjunto de favelas da Maré que a família encontrou acolhimento (segundo o censo populacional da Maré, existem mais de 14 mil paraibanos nas 16 favelas). 

Apesar de hoje em dia não morar mais na Maré, Jedai sempre está circulando pelo território. “Ainda moro muito perto da Maré, praticamente do lado. E é o que eu digo, quem nega sua raiz, nega a si mesmo. Foi na favela que aprendi a ser sagaz, ficar na atividade, não fazer mal a ninguém, ter empatia, se colocar no lugar do próximo — lá eu aprendi a ser o que sou. A Kelson’s me forjou”, diz ele, grato pelo pedaço do Rio que o acolheu.

Talento multimídia

A carreira de escritor e roteirista de Jedai começou de maneira despretensiosa> ele foi convidado a participar da Festa Literária das Periferias (Flup) e fato de ser cria de favela não o impediu de crescer na profissão. “Consegui emplacar um poema em um livro físico, e a partir daí, vi que tinha talento com a caneta. Por incrível que pareça, nunca sofri preconceito por ter vindo da favela, sou muito respeitado pelo que faço”, conta.

Jedai ainda assina algumas músicas interpretadas pelo MC Jamil e parte do roteiro da websérie Assalto Perfeito, do youtuber e escritor Renan R10 ainda a estrear, além dos episódios de É o Complexo, produzida pela Jayzz Produções e gravada pela Direct Q websérie tem criação assinada por Leonardo de Jesus e Ricardo dos Santos, com com a direção de Gabriel Machado.

E ele já está cheio de planos para 2022. “Sou responsável por organizar os Workshops do Rei das Unhas, colocar ele nos jornais, e ser o cara do marketing de relacionamento. Este ano estarei envolvido num grande projeto com ele, mas ainda não posso dar spoiler (risos). Acompanhem as redes sociais, no Instagram, é @reidasunhasoficiall”, indica. 

E já está cheio de planos para 2022. “Vou roteirizar dois documentários este ano. Um com o Douglas Andrade, jovem lutador de boxe da Kelson’s, e outro com o  Rei das Unhas, intitulado Da laje ao palácio. Ambas as produções vão contar as histórias de vida desses protagonistas que lutaram muito para chegar onde chegaram e que são crias da Maré. O do Rei das Unhas já começa a ser gravado agora em fevereiro e o do Douglas e estamos acertando os últimos detalhes”, conta. 

Onde está a creche?

Moradores do conjunto de favelas da Maré reivindicam mais unidades para o ensino infantil

Por Hélio Euclides

“Tive que matricular meu filho em uma creche bem longe de casa. É preciso construir berçários”, reclama Juliana Abreu, que, como outros moradores da Praia de Ramos e Roquete Pinto, sofrem com a falta de creches que atendam crianças de zero a três anos. Em Marcílio Dias a situação ainda é pior: a favela só conta com uma escola que atende apenas da primeira à quarta série. O projeto do Campus Educacional da Maré não beneficiou as três favelas mais distantes.

A Constituição Brasileira diz, no seu Artigo 208, que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento em creche e pré-escola de crianças de zero a cinco anos. O mesmo é dito nos artigos 4, 29 e 30 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Apesar disso, na Praia de Ramos só existe o Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Armando de Salles Oliveira, que recebe alunos também da Roquete Pinto, atendendo cerca de 420 crianças na faixa etária acima de três anos, divididas em dois turnos. Este ano, foram abertas apenas cem vagas, o que não resolve a necessidade dos moradores. As mães de crianças abaixo de três anos precisam procurar unidades escolares do outro lado da Avenida Brasil.

O Conselho Tutelar de Bonsucesso frequentemente recebe reclamações, e sua resposta é, geralmente, indicar a 4ª Coordenadoria Regional de Educação para que as crianças sejam encaminhadas para outras unidades educacionais que atendam a essas faixas etárias. Rosinaide de Oliveira, moradora da Praia de Ramos, não conseguiu vaga perto de casa e deixa a filha de cinco anos com a irmã mais velha. “Tinha que ter outra creche aqui, onde antes era uma lona cultural, que virou estacionamento. O EDI daqui só recebe crianças a partir de três anos, então as mães precisam improvisar até os filhos chegarem nessa idade e depois, torcer para conseguir uma vaga”, diz. 

Alguns responsáveis da Praia de Ramos e Roquete Pinto tentam por seus filhos numa creche conveniada da Prefeitura que fica fora das favelas. Mas nem todos conseguem vaga. “Precisamos muito de um espaço público perto de casa para deixar nossos filhos. Para piorar, o EDI daqui funciona em dois turnos, o que não soluciona a vida de quem trabalha. No turno que a criança não está na creche é preciso pagar alguém para ficar com ela. Já vi muitas mães com dificuldade de deixar os filhos para trabalhar. Tem umas que pagam transporte para levar as crianças em creches longe das favelas”, comenta Jacira Lima, moradora da Praia de Ramos. 

Criatividade x adversidade

Fachada da Creche Popular Hotelzinho, creche e pré-escola criada para atender a comunidade de Marcílio Dias – Foto: Matheus Affonso

A favela de Marcílio Dias já teve uma creche conveniada da Prefeitura, que dava suporte aos responsáveis com crianças pequenas. Com o fim do contrato, a creche se transformou em particular e a favela ficou sem uma unidade gratuita. Sílvia Regina, professora e fundadora do Projeto Belo Herança, diz que sem a creche não há socialização escolar e afinidade com o caderno: “Aqui é um lugar sem muitas expectativas, com déficit educacional muito grande. Em Marcílio só há disponibilidade do miolo educacional, faltando a creche, a Pré-escola e o Ensino Fundamental II. O único colégio [a Escola Municipal Cantor e Compositor Gonzaguinha] só comporta 293 alunos e abre somente 60 vagas por ano”.

Regina explica que um responsável na favela precisa fazer um tour diariamente: acordar cedo, caminhar até a passarela da Avenida Brasil, atravessá-la e seguir até a Penha para deixar os filhos em uma creche pública, antes de ir para o trabalho. Na volta do serviço, a rotina é igual, nos últimos quatro anos. E ainda precisa ter sorte para conseguir uma vaga na escola local. “Ainda há casos em que a criança fica com o irmão mais velho, com um vizinho ou parente. Muitas crianças de até cinco anos vagam pela rua o dia inteiro, que futuro ela terá? A creche pública é um direito assegurado por lei. As creches privadas da favela chegam a cobrar mensalidade de R$ 400, algo longe da realidade local”, lamenta. 

Para remediar a situação, Regina criou o Hotelzinho das Crianças, creche e pré-escola comunitárias. Num prédio de três andares dentro de Marcílio Dias, 15 crianças matriculadas ou hospedadas, como ela prefere chamar, estudam, dormem e se alimentam com refeições balanceadas, fartas de legumes e verduras. Durante o dia, outras crianças da favela buscam abrigo no espaço. Cinco profissionais tomam conta das crianças, que chegam antes das seis da manhã; muitas só vão embora às sete da noite.

“Sem dinheiro, com a cara e a coragem, alugamos um imóvel. O objetivo é que as crianças sejam tratadas com dignidade. No hotelzinho, as crianças aprendem a socializar, a ter higiene, a cuidar dos brinquedos, fazem atividades e exercícios. Eu quero que a Prefeitura me veja como uma aliada. Como ajuda de custo, o responsável colabora com R$ 150 mensais, e é só isso: não tenho apoio de nenhuma empresa. É uma luta todo mês”, conta. O hotelzinho sobrevive com doações de amigos, que ajudam com alimentos. 

Falta de creche é realidade nacional

Segundo dados do Censo 2010, o percentual de mulheres com filhos não atendidas pelas creches chega a 41,2%. A oferta de cuidado em tempo integral é fundamental para permitir que as mulheres consigam conciliar casa e trabalho ou estudo. No ano passado, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal lançou o Índice de Necessidade de Creche (INC), indicador que mostra a real demanda por unidades de educação infantil em cada município brasileiro. A pesquisa revela que o acesso às creches é um dos temas centrais no campo do direito à educação no Brasil.

Em 2014, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) que previa alcançar, em até dez anos metas como ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até três anos. No caso do Rio, a necessidade é ainda maior: 53,8%, de acordo com o INC. Também de acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município do Rio tem 441 mil crianças entre zero e seis anos. 

Heloísa Oliveira, diretora de relações institucionais e governamentais da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, diz que, pelo percentual de atendimento, não há vagas suficientes para atender os pais do Rio de Janeiro. “Há um grande desafio para os municípios de modo geral, que é identificar a demanda nas comunidades mais pobres. O que percebemos é que muitas famílias estão sem atendimento nesses locais e não são visibilizadas pelas prefeituras. Por isso, estamos em um grande esforço, inclusive apoiando um projeto de lei que obriga as prefeituras a apurar anualmente as demandas, fazendo uma consulta pública. Só assim é possível se planejar e saber o quanto tem que ampliar essa oferta e, claro, lutar para que seja um serviço de qualidade”, avalia Heloísa. 

Para 2022, ela afirma que a educação é uma prioridade e tem que estar em todas as propostas de candidatos a qualquer cargo público. Por isso, os eleitores precisam escolher quem vai priorizar temas relevantes para a sociedade, com propostas objetivas.A Secretaria Municipal de Educação informou que no território da Maré a educação infantil é atendida por sete creches municipais, 14 EDIs e cinco creches conveniadas.

Espaço de Desenvolvimento Infantil Armando de Salles Oliveira serve a alunos da Praia de Ramos e da Roquete Pinto