Ômicron avança e vacinação reduz a força do vírus no RJ
Avaliação da Secretaria Municipal de Saúde é de que vacinação infantil está com baixa adesão
Por Jorge Melo e Bianca Ottoni (*), em 28/01/2022 às 07h.
A cidade do Rio de Janeiro retomou na última quarta-feira (26/1), a vacinação de meninas e meninos de 10 anos ou mais. A ação foi possível graças à chegada de 100 mil doses de Coronavac, fabricada no Brasil pelo Instituto Butantã, de São Paulo. No entanto, para que a vacinação cumpra o cronograma estabelecido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) será necessária a chegada de novas remessas de vacina nos próximos dias. A Secretaria Municipal de Saúde está convocando os pais para que levem as crianças aos postos.
A avaliação da primeira semana de vacinação infantil é de que houve uma baixa adesão das famílias. Segundo Leonardo Bastos, estatístico e pesquisador-associado do Programa de Computação Científica da Fiocruz, ao contrário do que muitos pensam, as crianças estão sendo afetadas pela pandemia, “A COVID-19 já causou mais óbitos em crianças que todas as outras doenças evitáveis por vacina.”
Mesmo com alta de infecção, número de óbitos segue reduzido
Conforme dados da SMS, 630 mil pessoas não retornaram aos postos para a dose de reforço, o que é preocupante. Em menos de um mês de 2022, o Rio de Janeiro alcançou a metade dos casos de Covid de 2021. Só a cidade do Rio de Janeiro registrou 167 mil novos casos até a terceira semana de janeiro. No entanto, foram registrados apenas 81 óbitos. Leonardo Bastos explica esses número. “A taxa de transmissão dessa variante (Ômicron) é muito alta, isso faz com que a gente observe um grande número de infectados em um período curto de tempo. E não importa muito o status de vacinação da pessoa, se você se expõe ao vírus dificilmente não vai se infectar. É importante separar indivíduo da população, é uma doença mais leve para o indivíduo, mas perceba que isso não significa que seja uma doença leve. Ela é mais leve quando comparada as outras variantes, possivelmente graças as vacinas.”
Momento atual da pandemia indica importância da testagem em massa
Uma das razões desses números é positiva, o aumento da capacidade de testagem, o que permite uma avaliação mais precisa do avanço da doença. Segundo a SMS, a capacidade de testagem foi ampliada 48 vezes desde o início do ano e mais de 1 milhão de testes foram realizados. A taxa de positividade, que de início era de 50%, na segunda semana de janeiro, caiu para 39%. De acordo com Leonardo Bastos, “a testagem em massa ajuda o estado a entender a situação epidemiológica.” No entanto, o Rio de Janeiro pode ficar sem testes. Segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde, um pedido ao Ministério da Saúde, de três milhões de kits, encaminhado no dia 19 de janeiro, ainda não foi respondido. Esses kits atenderiam às necessidades de um mês de testes.
A situação do Rio de Janeiro era a seguinte ontem, quinta-feira, 26/01/2022:
- 5.916.791 vacinados com a primeira dose
- 5.391.620 vacinados com a segunda dose
- 148.201 vacinados com a dose única
- 2.255.285 – vacinadas com dose de reforço
- 13.711.897 vacinas aplicadas
Probabilidade é de que número de casos diminuam
O número de infectados e a boa cobertura vacinal que a cidade do Rio de Janeiro apresenta podem contribuir, no médio prazo, para que a incidência de Covi-19 diminua na cidade. O Rio de Janeiro tem 87,7% da população com a primeira dose ou a dose única; 82,1% com duas doses ou a dose única; e 33,4% da população com a dose de reforço. Para Leonardo Bastos, o cenário pode mudar nas próximas semanas. “Certamente vai cair, mas não vai sumir. Não dá pra saber qual o nível vai ficar, e sempre há o risco do surgimento de novas variantes, basta ver o histórico da doença com frequentes variantes, e vale lembrar que tem muitos lugares no Brasil e no mundo que onde a cobertura vacinal ainda é baixa e o vírus vai seguir circulando, infelizmente. No entanto, com uma boa cobertura vacinal que é para onde nós, aqui no Rio, estamos caminhando e com tanta gente já infectada pelo menos uma vez, o número de casos futuros deve mesmo diminuir.”
Estresse e ansiedade voltam a dominar rotina de profissionais da saúde na Maré
Um rápido giro pelos postos de Saúde da Maré revela que os primeiros dias de 2022 foram de muito trabalho, estresse e ansiedade. Segundo funcionários que optaram por não se identificar, houve um impacto muito grande com a chegada da nova variante. O significativo número de casos aumentou a demanda no atendimento sem que as equipes fossam reforçadas. Ou seja, não houve acréscimo ou mesmo reposição dos trabalhadores que foram infectados, mesmo vacinados, e se afastaram.
Os funcionários reclamam também das condições de trabalho. Em uma das clínicas, por exemplo, em função dos casos de Covid, a equipe sofreu uma redução de 50% no efetivo. Segundo os funcionários, foi um movimento inverso, enquanto o número de pessoas aumentava em busca, principalmente de testes mas também de atendimento, a equipe se via reduzida.
Os próprios trabalhadores desenvolveram ações para otimizar o atendimento e se proteger. Foram criadas alas separadas para pacientes com quadro de gripe, que poderiam testar positivo para Covid. E uma área diferente para os casos já agendados como gestantes etc. Os demais atendimentos foram reduzidos por conta da demanda do Covid-19, que tornou-se a prioridade do atendimento.
Risco de contaminar família é ponto entre os moradores
A carga de trabalho e a preocupação com o vírus provocaram estresse e ansiedade. Segundo um dos profissionais ouvidos, “havia o medo permanente de infectar alguém da família.” Apesar do desgaste físico e da tensão os profissionais comemoram o fato de que o número de caos positivos está diminuindo. E falam sobre a importância da testagem em massa. Nos últimos dias, segundo um dos funcionários ouvidos pelo MN, o número de pessoas que procurou o posto para teste foi pequeno, ao contrário das primeiras semanas do ano. No entanto, os profissionais se preocupam com o número de pessoas que ainda reluta em tomar a vacina, usar máscara, álcool gel nas mãos, não aglomerar, se isolar quando infectadas. Lembram que apesar de ter diminuído o número de óbitos registrados ainda tem gente morrendo por causa da Covid-19.
Os números da Maré
Apesar do avanço da nova variante, a Maré não registra um óbito desde outubro de 2021 em função do trabalho realizado pelo Conexão Saúde – De Olho na Covid, parceria da Redes da Maré com a Fiocruz e o Conselho Comunitário de Manguinhos, Todos pela Saúde, SAS Brasil e Dados do Bem. No entanto, só nesse primeiro mês de 2022 segundo dados da Coordenação Geral de Atenção Primária-CP3.1, da SMS, responsável pela Maré, entre primeiro e 24 de janeiro foram identificados 8724 casos positivos nos postos da Maré: 1560, na CAF Adib Jatene; 1438 na CF Augusto Boal; 914 no CMS Américo Veloso; 1280 na CF Diniz Batista dos Santos; 1094, na CF Jeremias Morais Silva; 218, no CMS Vila do João e 297 no CMS João Cândido; confirmando as informações dos funcionários dos postos de saúde ouvidos pela reportagem sobre o aumento na procura por testes e atendimento nos postos e os índices de testagem positiva. Na Maré até o dia 21/01/2022, num universo estimado em 140 mil habitantes, 82% receberam a primeira dose; 72,4% a segunda dose ou dose única e 16% a dose de reforço.
(*) Bianca Ottoni é estudante universitária vinculada ao projeto de extensão Laboratório Conexão UFRJ, uma parceria entre o Maré de Notícias e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Mulheres Protagonistas: Projeto lança mapeamento de mães trabalhadoras das artes
Observatório de Favelas apresenta neste dia 26, catálogo que reúne informações de cerca de 100 mulheres do estado do RJ, profissionais das artes
Por Renata Oliveira – Observatório de Favelas, em 27/01/2022 às 09h45
O Observatório de Favelas lançou ontem (26/1) a publicação ‘Mulheres Protagonistas: Mães trabalhadoras das artes”. A apresentação do mapeamento aconteceu de maneira online, junto com o encontro com mulheres artistas. Sobre o tema Mulheres Protagonistas mães trabalhadoras das artes – Artistas SIM!, o bate papo virtual contou com a participação da artista multimídia Agrade Camiz e da professora e mestre em Letras, Luana Rodrigues com mediação da educadora e pesquisadora Mara Pereira.
O projeto Mulheres Protagonistas tem como principal objetivo fortalecer as discussões sobre a importância da mulher na sociedade, proporcionando condições para a conscientização dos desafios a serem enfrentados.
A publicação conta com mapeamento que reúne informações de trabalhadoras das artes e que são mães, residentes no estado do Rio de Janeiro, com finalidade de dar visibilidade a atuação destas profissionais. São informações de perfil e contato de 98 mulheres produtoras, educadoras, artistas, curadoras, entre outras profissões, que se dividem entre a missão de dar vida aos palcos, bastidores e a maternidade.
Segundo Rebeca Brandão, coordenadora de Desenvolvimento Institucional do Observatório de Favelas, o Programa Mulheres Protagonistas nasce a partir de 2018, após um projeto musical desenvolvido na Arena Carioca Dicró, o Lab Dicró, em que percebeu-se que de 50 inscrições, apenas 3 grupos tinham presença feminina e 1 grupo era composto majoritariamente por mulheres. Surgiu então a preocupação da equipe que coordenava o projeto sobre a pouca participação feminina e perguntas sobre quais eram as questões que faziam as mulheres assumirem menos posições de protagonismos dentro da cadeia produtiva das artes. Foi então que nasceu o programa Mulheres Protagonistas, que promoveu durante todo o ano de 2019, encontros de formação, eventos e visibilização do trabalho artístico de mulheres.
“Durante o desenvolvimento do programa em 2019, identificamos que parte deste protagonismo dividido era por conta das funções domésticas e começamos a pensar como oportunizar que mais mulheres pudessem ocupar mais lugares de destaque dentro da indústria cultural e criativa. E estamos resgatando este programa agora com temática específica que é a maternidade, para dar visibilidade às mulheres que são mães e trabalhadoras das artes e então vamos oferecer este mapeamento.” – destacou Rebeca Brandão
Nesta edição o ‘Mulheres Protagonistas’ realizou quatro lives desde outubro passado, reunindo duplas de mães trabalhadoras das artes e moradoras de favelas e periferias do Rio de Janeiro. Durante este período, profissionais de todo o estado foram convidadas a participar do projeto, preenchendo o formulário que deu origem ao catálogo com o mapeamento de mães trabalhadores das artes.
A segunda edição de Mulheres Protagonistas – mães trabalhadoras das artes é uma realização do Observatório de Favelas, através do eixo de Arte e Território, com apoio da Fundação Heinrich Boll.
Sobre o projeto Mulheres Protagonistas
Em 2019, as mulheres colaboradoras do Observatório de Favelas se reuniram no palco da Arena Carioca Dicró, espaço cultural que a organização é cogestora com a Secretaria Municipal de Cultura, com outras dezenas de mulheres para se questionarem juntas sobre a baixa adesão de projetos artísticos protagonizados por mulheres nos editais públicos de residência de curta duração do equipamento.
O debate público ali iniciado foi a primeira edição do programa Mulheres Protagonistas que no seu primeiro ano realizou cerca de 15 atividades e mobilizou mais de 500 pessoas, contando com espetáculos e oficinas em parceria com a unidade Ramos do Sesc Rio e com espaços de diálogos com Taísa Machado, criadora do AfroFunk; a rapper Nega Giza; e Eliana Silva, curadora do Festival das Mulheres do Mundo no Brasil, entre outras.
Lançada em 2021, a segunda edição do Mulheres Protagonistas tem como foco as Mães Trabalhadoras da Cultura. De outubro/21 até janeiro/22 foram realizados 4 encontros online com duplas de artistas, curadoras, produtoras e educadoras. Fechando o ciclo de encontros, o Mapeamento Mães Trabalhadoras da Artes visibiliza a atuação, potência e desafios desse público na cena cultural do Rio de Janeiro.
Sobre o eixo de Arte e Território
Acredita-se na centralidade política da cultura e da arte para a construção de um projeto transformador da cidade. Esse é o eixo mais recente da atuação pública do Observatório de Favelas, cujos projetos se construíram a partir do entendimento de que práticas culturais e artísticas podem nos levar ao fortalecimento da democracia e à redução de desigualdades. Neste sentido, as iniciativas buscam impactar políticas públicas de arte e cultura, evidenciando favelas e periferias como territórios de formação, difusão, produção e mobilização criativas; ao mesmo tempo que afirmam linguagens artísticas diversas como ferramentas de visibilização de sujeitos, territórios e questões periféricas.
Sobre o Observatório de Favelas
Criado em 2001, o Observatório de Favelas é uma organização da sociedade civil sediada no Conjunto de Favelas da Maré e atuação em escala nacional. Dedica-se à produção de conhecimento e metodologias visando incidir em políticas públicas sobre as favelas e promover o direito à cidade. Fundado por pesquisadores e profissionais oriundos de espaços populares, tem como missão construir experiências que contribuam para a superação das desigualdades e o fortalecimento da democracia a partir da afirmação das favelas e periferias como territórios de potências e direitos. Atualmente, tem em andamento projetos, divididos em cinco áreas: Arte e Território, Comunicação, Direito à Vida e Segurança Pública, Educação e Políticas Urbanas. Site – observatoriodefavelas.org.br
Vans e kombis são solução diária para passageiros que vivem na Maré
Serviço complementar de transporte no Rio ainda precisa de ajustes para maior número de legalizações e oferecer mais segurança
Por Hélio Euclides, em 26/01/2022 ás 07h. Editado por Edu Carvalho
“Gol bolinha parado na (rua) Cardoso de Morais, em frente ao meia um”, passageiros e motoristas escutam mensagens como estas diariamente sobre a fiscalização da Prefeitura. São cooperativas de vans e kombis que um dia foram regularizadas como transporte complementar e hoje, depois de mudanças em gestões na Prefeitura do Rio, atuam na informalidade utilizando carros particulares e fugindo de apreensões. Na Maré, existem 16 linhas de vans externas, mas apenas cinco seguem os moldes traçados pela Secretaria Municipal de Transporte. Esse é o desenho do sistema modal alternativo na cidade do Rio de Janeiro.
As vans e kombis regularizadas transitam em dois modelos: o Sistema de Transporte Público Local (STPL) e o Sistema de Transporte Público Comunitário (STPC), esse segundo também conhecido como Cabritinhos. Ao todo, os dois sistemas reúnem 3.680 veículos. A licitação foi realizada em 2016, mas não agradou a todos. Em 2019, os motoristas de vans da cidade fizeram protestos com reivindicações de conclusão de licitação para o transporte alternativo. No ano passado, em entrevista ao RJ2, da TV Globo, o prefeito Eduardo Paes admitiu falhas no sistema, que é preciso definir tecnicamente os roteiros complementares e completou que é preciso fiscalização para se cumprir regras nas linhas.
Em reportagem do mesmo telejornal, a Rio Ônibus revelou que as vans são o principal sistema de condução da cidade, transportando até 60 milhões de passageiros por mês. Esse é o potencial de um sistema importante que faz parte da mobilidade urbana da cidade. A Maré é cercada pelas linhas Vermelha e Amarela e ainda pela Avenida Brasil. Mesmo assim, grande parte dos moradores não têm acesso a alguns pontos da cidade, como Zonas Sul e algumas áreas da Zona Norte. Com o tempo, algumas linhas de ônibus que circulam dentro da Maré foram desativadas. Hoje, apenas a linha de ônibus 919 faz ponto final na entrada da Vila dos Pinheiros, ligando a favela ao bairro da Pavuna.
Os moradores da Maré precisam diariamente de transporte alternativo para se locomover. Isso é o que revela o fiscal, que não quis ser identificado de uma linha informal que sai de uma favela da Maré até Bonsucesso. “O transporte público no município está precário. Nós queremos ser legalizados, mas falta oportunidade. É preciso entender que os ônibus são dos empresários, mas a van é de propriedade de um pai de família. Nós levamos o morador da Maré á diversas áreas da cidade, por isso fazemos parte do dia-a-dia desse passageiro”, conta. O fiscal preferiu não mencionar a rota da cooperativa.
Um motorista da Maré, que também não revelou o nome por não ser legalizado, reclama que se sente um criminoso ao fugir diariamente da fiscalização da Prefeitura. “Somos trabalhadores e prestamos um serviço à comunidade. Muitas vezes levamos moradores ao médico. Se parar o transporte alternativo vai fazer muita falta na mobilidade. Sou motorista há 27 anos nessa linha, que já foi regularizada, mas tivemos o documento cassado”, diz. Ele afirma que a linha existe por não existir ônibus fazendo esse serviço na Maré.
Diálogo necessário no modal
A implantação do STPL permitiu que as vans fossem administradas e operadas como parte importante na mobilidade da cidade. Essa organização começou a partir de 2010, em diferentes regiões da cidade, a fim de reordenar a circulação de vans e kombis e de melhorar a fiscalização do serviço. O sistema está implementado em locais como Rocinha, Vidigal, Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Maré, num total de 143 linhas. Já o STPC é o serviço de transporte comunitário, com itinerários definidos em mais de 20 favelas da cidade do Rio de Janeiro. São 100 linhas do serviço, ajudando regiões que não são atendidas por linhas de ônibus a fim de atender à necessidade de deslocamento de moradores de favelas como Morro da Pedreira, Rio D’Ouro, Parque Columbia, Manguinhos e Maré.
Valdete Pergentino, administradora da linha STPC Nova Holanda X Cachambi, antiga 818, acredita que o serviço é bem avaliado por usuários. “Temos um transporte que funciona e está fazendo a diferença, sendo em alguns lugares a única opção. Esse tipo de transporte dá acesso ao mareense ao lazer, ao comércio, à igreja e ao emprego”, comenta. Ela avalia a importância do sistema para a cidade. “Neste momento, com a dificuldade na escassez de ônibus, estamos salvando a galera. É claro que temos como em qualquer segmento alguns problemas, porém todos fáceis de resolver, só falta o apoio e a parceria da Prefeitura’’.
Como fiscal, a administradora pede um diálogo maior com a administração municipal. “A Prefeitura deveria ser mais acessível para os representantes da STPL e STPC, para discutir melhorias. O nosso futuro é sempre de incertezas, quando muda a gestão. Temos dificuldades por não termos isenção de impostos e facilidades na renovação de frota”, expõe. Uma das reclamações da Prefeitura junto às vans e às kombis é a recusa de gratuidade, algo que ela nega que aconteça na cooperativa, por defender que o passageiro é um parceiro.
Moradores acreditam que o transporte complementar é a única alternativa, como Alaine Santos, moradora da Vila dos Pinheiros que usa sempre as opções comunitárias. “Apesar de estar geograficamente posicionada entre as três principais vias urbanas do Rio de Janeiro, nós não temos acesso a transporte público regular circulando dentro da comunidade. Nossa opção de locomoção internamente são os mototáxis e para bairros próximos às vans. A alternativa de modais informais de transporte, especialmente o uso das vans para os principais pontos da cidade, tornou-se um facilitador e em muitos aspectos essencial para os moradores”, avalia.
A mobilidade urbana na cidade não integra os modais e precisa de uma reestruturação. “A relevância não se dá apenas pela ausência do transporte público formal dentro da Maré, mas também pela superlotação dos ônibus e o medo de atravessar a passarela que fica nas proximidades do Conjunto Esperança e liga ao ponto de ônibus da Avenida Brasil. A passarela está inacabada, sendo um perigo. Esses motivos levam o uso das vans ser uma alternativa de locomoção e necessidade, já que a infraestrutura do sistema modal da cidade se encontra escasso”, conclui Santos. A Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) declara que hoje as maiores reclamações por parte dos usuários do STPL e STPC são a recusa de gratuidade, transporte irregular e ponto irregular. Detalhou ainda que no território são regularizadas as linhas STPL: Maré X Bonsucesso, Vila dos Pinheiros X Bonsucesso e Vila do João X Bonsucesso, todas pelo Decreto 40.876. Outras duas linhas STPC: Roquete Pinto X Bonsucesso, na Resolução 3.331 e Nova Holanda X Cachambi, na Resolução 3.221. Por fim, afirmou que de acordo com a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), não há previsão de novas licitações.
“A vacina para crianças não é experimental, ela é segura e efetiva”, aponta pediatra Daniel Becker
Defensor da volta às aulas presenciais, seguindo protocolos de segurança – com destaque para as atividades ao ar livre – o pediatra Daniel Becker é um defensor da vacinação infantil contra a Covid-19 em qualquer circunstância
Por Luciana Bento – Conexão Saúde, em 25/01/2022 às 07h.
Um dos maiores especialistas em saúde de crianças e adolescentes do país, sanitarista e médico do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Daniel Becker responsabiliza o governo federal pelo atraso na vacinação das crianças e pelo crescimento de grupos anti-vacina em um país que é exemplo mundial em campanhas de imunização. “Não é por causa da volta às aulas que devemos vacinar as crianças. É para protegê-las contra o vírus, já que hoje elas – não vacinadas – são o público mais suscetível à contaminação”, explica. “A escola é um espaço de sociabilização, não apenas de aprendizado de matérias e conteúdos tradicionais”, diz.
“Esta resistência toda à vacina, em um País como o Brasil, é resultado de uma campanha sistemática do Presidente da República”, diz sem rodeios. E completa: “o SUS é reconhecidamente um dos sistemas de saúde que melhor vacinam no mundo e 80% da nossa população é favorável à imunização infantil”.
Nesta entrevista, exclusiva para o boletim Conexão Saúde – De Olho no Corona, ele fala sobre volta às aulas, vacinação infantil, importância de estudos e pesquisas e o impacto cruel da pandemia sobre a saúde das crianças e adolescentes. “Eles sofreram muito com a pandemia, pais estressados e muitas perdas. Houve muitos quadros depressivos neste período”.
A vacina pediátrica finalmente começou a ser aplicada no Brasil. É uma boa notícia?
É uma ótima notícia! Ela é importante para proteger nossas crianças, que atualmente são o grupo mais vulnerável em relação à Covid.
Havia a expectativa de que ela chegasse logo, mas o governo federal protelou o máximo que pode, com esta consulta e audiência pública ridículas, que não têm o menor sentido.
Vacinar ou não é uma decisão técnica, tomada por epidemiologistas, infectologistas, pediatras, especialistas na área. Mas não faz mais nada, a não ser obedecer ao seu chefe, que resolveu ser contra a vacina infantil.
Felizmente as crianças não desenvolvem casos graves, em geral. Mas mesmos alguns poucos casos precisam ser evitados, este é o objetivo de qualquer vacina. E ainda assim, a Covid é a doença infecciosa que mais matou e hospitalizou crianças. Então não há dúvida de que a vacinação é muito necessária.
Pessoas que são contra a vacinação de crianças dizem que os imunizantes são recentes e que não foram testados o suficiente, correndo riscos de efeitos colaterais graves. Qual a sua avaliação sobre isso?
Esta resistência toda à vacina, em um País como o Brasil, é resultado da campanha sistemática do Presidente da República e do seu grupo, que vive de teorias conspiratórias, radicalismos e extremismos.
Aqui temos uma longa tradição de vacinação em massa, o SUS é reconhecidamente um dos sistemas de saúde que melhor vacinam no mundo e 80% da nossa população é favorável à imunização infantil.
Sobre esta polêmica entre testar ou não, isso é bobagem. A vacina é recente, mas não é experimental. Ela passou pelas três fases fundamentais de testes e está na fase 4, que é a que todos os medicamentos do mundo estão continuamente, é a fase pós-marketing, quando ela já é comercializada. A partir daí milhares e milhares de pessoas passam a usar e sintomas raros podem surgir.
A vacina já foi aplicada em mais de 10 milhões de crianças com efeitos extremamente leves. Houve alguns efeitos mais sérios, como da miocardite, mas foram apenas 12 casos e todos se recuperaram bem. Não é uma vacina experimental. É uma vacina efetiva e segura.
O Ministério orienta os pais a buscarem recomendação médica antes de imunizar seus filhos contra a Covid-19. Do ponto de vista médico, esta consulta é necessária?
Pais devem consultar o pediatra para suas crianças periodicamente, apenas isso. Não é necessária uma consulta ao pediatra para saber se seu filho deve ser vacinado contra a Covis. Se ela é uma criança saudável, não tem contraindicação para outras vacinas, como imunodeficiência, não há nenhum motivo para não vacinar.
O senhor é favorável ao passaporte da vacina para a volta às aulas de crianças e adolescentes?
Passaporte de vacina é algo polêmico para se pedir na escola. Se a criança tem direito à vacina, garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ela também tem garantido o direito de estudar. Então a escola não pode impedir a criança de frequência escolar, isso é altamente polêmico.
Algumas escolas privadas estão exigindo o passaporte vacinal, isso é bom, mas é um assunto muito polêmico. Acho válido convencer as pessoas pela educação antes de partir para um condicionamento ou uma exigência como esta.
Mas será possível vacinar em massa as crianças brasileiras antes da volta às aulas? Seria um risco ou irresponsabilidade elas retornarem às escolas sem estarem vacinadas?
A escola não é apenas um local de aprendizado formal, é muito mais que isso. É o espaço público essencial da criança, onde ela desenvolve habilidades fundamentais pra vida, aprende a se comunicar, a negociar, a brincar, a colaborar… Onde ela estabelece relações especiais, com professores, com amigos.
Fora que para muitas crianças é também um espaço de segurança alimentar, onde elas fazem suas principais refeições, e um elo da cadeia de proteção social contra abusos e violência.
O Brasil cometeu um crime de negligência contra a infância ao deixar tudo aberto e só fechar a escola. Abrir escolas não aumentaria a transmissão. A verdade é que a gente simplesmente não trabalhou esta questão.
Escolas com protocolos adequados de ventilação, uso de áreas externas, uso de máscaras pelos professores, são seguras mesmo antes da vacinação. Com professores e adolescentes vacinados, a volta às aulas é muito mais segura mesmo que as crianças não sejam vacinadas a tempo.
A Fiocruz está coordenando um estudo na Maré onde inclui a contaminação de crianças e como a doença se desenvolve sobre este grupo. Qual a importância de estudos como este? São muito específicos sobre uma população ou podem servir de referência para outros territórios e países?
O estudo da Maré é fundamental tanto em relação à contaminação quanto em relação aos efeitos da vacina em crianças. Ela é muito importante, as pesquisas orientam todas as medidas epidemiológicas, foi graças a elas que a gente conseguiu desenvolver vacinas, estudar o comportamento do vírus e a importância das medidas de mitigação de transmissão.
E há poucas pesquisas populacionais, a maior parte foi sobre remédios e vacinas, então ela tem uma importância capital pra gente entender o comportamento do vírus e os efeitos das medidas em populações mais vulneráveis, com especificidades próprias.
Qual a sua avaliação sobre o impacto psicológico e emocional da pandemia de Covid-19 sobre crianças e adolescentes?
Sobretudo os primeiros meses da pandemia foram muito impactantes pras crianças, um período em que as pessoas ficaram mais confinadas em casa, com muitos fatores de estresse.
Foram muitos meses sem acesso a direitos fundamentais ao bem-estar, como o contato com a natureza, ar livre, ambientes externos, a própria cidade. Elas ficaram trancadas em casa com pais extremamente sobrecarregados, tensos, super atarefados, em home office, cheios de medo, vivendo perdas terríveis, pessoais, financeiras, de amigos, de parentes, de pais e mães – que vêm a ser os avós das crianças…
E quem estava trabalhando presencialmente estava exposto ao vírus em um momento de muitas dúvidas, em que ninguém sabia nada direito sobre as consequências, sem vacina…
Estes fatores de estresse pros pais fizeram aumentar violência doméstica e a tensão no cotidiano. O confinamento também gerou excesso de telas, muitas crianças ficaram horas e horas vendo TV e celular, o que faz muito mal à saúde delas. Muitas ficaram exiladas de seus avós e amigos, do contato social, especialmente a falta da escola. Tudo isso foi muito impactante pras crianças e adolescentes.
Elas tiveram muitos sintomas emocionais e psicossomáticos. Dores abdominais e de cabeça, retenção urinária e de fezes, distúrbios de apetite e de comportamento, hiperatividade, distração, excesso de introspecção… Os adolescentes em particular sofreram muito, com afastamento dos pais, quadros depressivos e muito sérios de saúde mental.
Por isso é muito importante levá-los para a natureza, para o ar livre, para a rua, para a praça. Espaço aberto para crianças é muito importante. Idosos quando ficam confinados desenvolvem quadros de alucinação e com criança a mesma coisa. Ela não consegue ser feliz, desenvolver seu bem-estar trancada em casa.
28 anos da Maré como Bairro
Revisitar o passado, olhar para o presente e atuar para o futuro.
Por Jéssica Pires e Julia Bruce em 24/01/2022
Em 19 de janeiro de 1994, a lei municipal 2.119/94 criou o bairro Maré e agrupou favelas que até então não eram reconhecidas como uma unidade. Com mais de 140 mil pessoas em 16 favelas, se fosse uma cidade, a Maré seria maior que 96% dos municípios brasileiros, segundo dados do Censo Maré. Dentro do território, os moradores vêm contando as histórias e particularidades de cada uma das comunidades, como os mareenses André Galdino (34), Andreza Dionisio (23) e Shirley Rosendo (38).
Para vocês que nasceram e cresceram na Maré, quais suas primeiras lembranças desse território?
Shirley: Eu nasci no Parque União onde fui criada pelos meus avós. Tenho muitas lembranças, mas a que me marcou muito foi o processo de transição urbana. Morei em uma rua que não tinha asfalto e só depois ela foi asfaltada. Também vi o Sem Terra nascer. O primeiro era uma fábrica, o pai de um amigo meu era caseiro e íamos para lá brincar. O que me marca é mais essa ideia de Maré. Eu nasci na rua São Pedro e cresci na rua Tiradentes [no Parque União], onde minha tia morava. Achavam que quem morava depois do armazém da Dona Nevinha era de classe baixa, e eu só podia ir lá se fosse acompanhada de alguém. Era uma cidade dentro de uma cidade, eu não lembro de ter visto barracos de madeiras no Parque União. O que me marca muito é essa questão de organização territorial, e como isso vai sendo apropriado e usado no decorrer do tempo, porque as pessoas do início do PU não se misturavam muito com as que moravam no final. A entrada do Curso Pré-Vestibular foi importante para ampliar a circulação de pessoas que eram de diferentes favelas.
André: Eu e Shirley temos uma vivência muito parecida. Eu morava na rua do armazém da Dona Nevinha, e toda a minha infância foi na Conquista e no Sem Terra 1. Inclusive, fui uma das primeiras pessoas a morar no local, mas havia um certo preconceito. Tenho a lembrança dessa estrutura que ainda não era cidade. Mas o interessante é que, de alguma forma, eu andava nos submundos dentro do Parque União. Por exemplo, eu tinha amigos que moravam próximos da Avenida Brasil, e tinha família que morava no final da Maré. Chegou um momento em que eu perguntei para os meus pais: “será que eu estou tendo essa imagem inventada na minha cabeça?”. Lembro de tudo ser água e andar em madeiras. Eu entendia a Conquista mais como a classe média, e no final da Maré tinha uma ideia de ser mais carente. Eu só vim a conhecer outros locais, como a Nova Holanda e Rubens Vaz, com o advento da ponte.
Andreza: Vocês estão falando de circular e essa questão sempre foi muito diferente pra mim… Eu tenho 23 anos, sou cria da Vila do João, morei até meus 20 anos na mesma casa, mas a minha mãe vive na Maré desde a época das palafitas na Baixa do Sapateiro, e meu pai é cria do Parque União. Meus pais sempre foram muito protetores. Tudo passava pela minha rua, tinha o baile da Disney… Minha mãe não deixava eu ir pra rua sozinha e meu pai também tinha um bar e sempre comentava das coisas que aconteciam. Eu estudava na divisa. Então, na minha vida toda eu circulei muito. A partir dos meus 15 anos, parei de apenas passar pelos lugares e pela minha família, e comecei a criar laços, a curtir a favela de fato.
Shirley: Eu sempre fico me perguntando: o que aconteceu? Na época havia muitos guetos, hoje vejo as crianças circulando muito mais. Como cuidar das crianças e dos adolescentes da Maré e garantir, de fato, que eles circulem? É preciso ter uma rede de cuidado mínimo. Era uma comunidade muito pobre, sem estrutura de lazer. Hoje temos mais, mas as pessoas não aproveitam os espaços. Talvez as crianças hoje brinquem menos na rua do que a gente brincava. Eu acho que esses espaços de encontro são fundamentais, porque é na rua que sua vida começa, que você aprende a lidar com a diferença. Onde estão as crianças brincando? A urbanização é boa até que ponto? E que tipo de urbanização pode-se fazer? Porque hoje as ruas são dos carros e das motos.
Andreza: Shirley está falando disso e me lembro da ciclovia na Vila do Pinheiro, como que foi perdendo aquele espaço. Eu ia sempre fazer piquenique lá. Eu fico pensando que tem um processo de entender a Maré como um todo. A internet tem possibilitado muito esses encontros, esse fluxo, como o grupo de Facebook dos moradores. Acredito que agora tem muito mais gente de fora circulando pela Maré, e nos sentimos mais seguros.
Como chegaram na Redes da Maré?
Shirley: Eu fazia parte de um setor de mobilização, cheguei a participar da Comunicação, fazia a gestão do site do jornal, fui coordenadora do Curso Pré-Vestibular e até diretora. Fiquei 3 anos fora da Redes, mas voltei para o Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça. Vivi guerras no território, movimentos contra a violência, e acredito que evoluímos muito na discussão sobre segurança pública. Mas o desafio para toda a Redes, que tem mais de 20 anos de história, é vislumbrar o futuro. O que queremos para a Maré em 10 anos? E o que vamos fazer para isso?
André: Eu também gosto de trabalhar com essa perspectiva de futuro: o que a gente quer, para onde queremos ir e como podemos alcançar? E a minha relação com a Redes começou há muito tempo. Cheguei a ter aula de redação no CPV com a Eliana Sousa. A Redes sempre foi o lugar de acesso, ia assistir a palestras, debates, eventos, seminários. Sempre me senti parte da Redes. Em 2010, comecei a trabalhar como agente comunitário de saúde e foi a partir dali que essa ideia de andar no território ampliou a forma como eu entendia a favela para além de ser apenas um morador: conheci diversas Marés dentro da Maré. Em 2016, entrei no coletivo Movimentos, que pensa segurança pública a partir das favelas e conversa com os maiores especialistas da área de drogas, participando de eventos e ações nas escolas. A partir dessa ligação, e pelo fato de eu sempre estar presente nas ações da Redes, minha chegada na organização culminou com a criação do Espaço Normal em 2018.
Andreza: Diferente da Shirley e do André, eu não tinha nenhuma relação com a Redes. Eu nunca soube o que era a Redes, vim a saber quando teve uma campanha “Jovem Negro Vivo” (2015), com a Anistia Internacional, e senti vontade de me aproximar. Quando estava na faculdade, abriu uma vaga de estágio na Casa das Mulheres, entrei em 2018 e me encontrei. Criei um afeto grande e trouxe muito isso pra mim, mas como vivia na Vila do João, alertei que os moradores de lá não tinham acesso à Redes e que a gente tinha que ultrapassar esses limites de alguma forma. Assumi depois a responsabilidade da organização das confecções de máscaras durante a pandemia, e fui contratada como tecedora, fazendo parte da equipe de atendimento da Casa das Mulheres. A Redes reconfigurou minha relação com a Maré, e hoje, na Casa, também tento construir perspectivas e sonho alto, porque ela me permite isso.

A mobilização territorial acabou se tornando uma metodologia importante no trabalho da Redes da Maré. Vocês podem explicar o que é isso, como isso acontece na Maré e porque se tornou fundamental pensar em ações com essa estratégia?
André: Ficamos muito presos a essa ideia de estar articulando com os territórios e estar presente em todos os lugares, e fazer ações com grandes proporções. Mas quando penso em mobilização, são as redes que criamos com o intuito de chamar a atenção, é a mobilização pontual permanente no dia a dia, trabalhando a ideia de entender até onde essa mobilização pode ir. Ela se dá muito no micro, e quando juntamos esses pedaços, gera o macro. Eu trabalho muito na questão da acessibilidade, e a mobilização é constante.
Shirley: As pessoas que chegam pra gente têm demandas individuais, mas a virada é você sair de mobilizações individuais para mobilizações coletivas, porque só estas podem impactar a estrutura. Mobilizar é mover-se para algum lugar. E como a gente contribui para que as pessoas se apropriem disso, no sentido de pertencer? Também é olhar para trás e entender a nossa história, entender quais foram os erros. É a ideia de como você olha para o passado para mudar o futuro.
Andreza: Concordo muito com o André que a importância da mobilização tem esse papel de micro no território. É onde acontecem as coisas, está no lugar de planejar, de incidir políticas. Eu acredito que mobilizar é uma ponte, é o que leva, é pôr em prática.
Shirley: Eu acho que temos que ser otimistas, mas com razão. Temos as possibilidades de fazer, mas o fim não pode ser em si mesmo. Talvez a gente vá ganhando com as experiências de fato, porque é um processo de mudança coletiva, mas não é fácil. A Maré não consegue visualizar que as ações de demandas individuais são coletivas. Ser otimista e sonhador é também olhar para o que é a vida.