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Visibilidade trans e travesti é sobre respeito à vida

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Em um país com preocupantes índices de violência transfóbica, normalizar corpos e vivências diversas é uma luta diária, urgente e de todos

Por Tamyres Matos, em 18/01/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho

A discussão sobre a transexualidade ganhou o mundo nos últimos anos. Seja em novelas da Globo – personagem Ivan em “A força do querer” – ou em séries de sucesso da Netflix, a vivência transgênero entrou para a pauta de debates e para a agenda cultural. Mas isso está longe de ser suficiente. Neste mês da visibilidade trans, é importante ressaltar que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis do mundo e que a marginalização desta parcela da população contribui diretamente para isto.

Para Indianarae Siqueira, transvestigênere* presidente do grupo Transrevolução e fundadora e coordenadora do espaço de acolhimento CasaNem, o tópico mais urgente deste momento (ainda) de pandemia é a sobrevivência da comunidade trans frente ao cenário de degradação social. “A experiência de abandono nós já temos desde a epidemia de Aids. Nós conhecemos bem o distanciamento social e físico da sociedade hétero-cis-normativa. Aliás, é o que a gente mais sabe fazer. E isso acontece por conta da nossa segurança física mesmo, além da situação com o vírus. Acredito que o mais importante nesse momento é mostrar que temos direito à cidade, a ocupar diferentes espaços. É essencial que as pessoas nos vejam como cidadãs de fato participando da vivência nos mais diversos lugares”, acredita.

Indianarae Siqueira, transvestigênere* presidente do grupo Transrevolução e fundadora e coordenadora do espaço de acolhimento CasaNem.

Gilmara Cunha, que recebeu, em 2015, uma Medalha Tiradentes pelo seu trabalho no grupo Conexão G, tem o pensamento alinhado com o de Indianarae. Cria da Maré, a estudante de psicologia chama a atenção para um dado marcante: a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos, o que representa metade da média nacional. “Isso é inadmissível. É preciso que se efetive, com urgência, o direito à vida. Corpos trans ainda são invisibilizados e marginalizados dentro e fora da favela. Mas para corpos favelados e especialmente corpos pretos, a violência é maior. Quando tratamos de população trans preta e favelada, fica ainda mais difícil acionar os mecanismos formais de proteção contra violência, com a presença do estado só como braço armado”, relata.

Gilmara Cunha, ativista LGBTQUIA+ da Maré. Arquivo Pessoal

Gilmara e Indianarae são figuras reconhecidas por seu importante trabalho, ambas seguem na luta com 37 e 50 anos de idade, respectivamente. A paranaense Indianarae – que também se identifica como Indianare e vive no Rio desde 1996 – teve sua vida contada em um filme exibido no Festival de Cannes, em 2019. Aos 27 anos, a acompanhante Ludmylla, mais conhecida como Mylla, ressalta o quão vital é falar sobre os corpos trans para que suas existências não sejam vistas como algo à parte da sociedade. “Isso (o mês da visibilidade trans) significa muito pra gente. Precisamos que as pessoas vejam que somos exatamente como elas: seres humanos de luz e merecemos brilhar como todas as outras pessoas”, afirma.

Mylla, moradora da Maré. Foto: Matheus Affonso.

Avanços e combate à marginalização

Pela primeira vez na história uma atriz trans foi premiada pelo seu trabalho com o Globo de Ouro (uma das mais importantes honrarias do universo cultural). Aos 31 anos, MJ Rodriguez recebeu no dia 10 de janeiro o prêmio de Melhor Atriz pela série “Pose”, da Netflix, e declarou que tinha o sonho de mudar a mente dos outros com amor. “O amor vence. Para meus jovens bebês LGBTQIA, estamos aqui! A porta está aberta. Agora, alcancem as estrelas”, celebrou.

É um consenso na comunidade trans de que houve melhoras ao longo dos anos. “Nós, que integramos a luta desde os anos 90, sabemos: não podíamos sair de casa durante o dia sem que a polícia nos levasse para a delegacia. Tinha que ter muita passabilidade (possibilidade de ser reconhecida como uma mulher cisgênero, ou seja, com aquelas que se identificam com o gênero de nascimento) ou não ser conhecida pela polícia porque você podia ser presa por vadiagem, sem motivo nenhum. Hoje ainda continua existindo a violência, mas as coisas mudaram”, explica Indianarae. Esse cenário é retratado no seriado “Pose”, em sua leitura estadunidense.

Então quais foram esses avanços? Com muita luta, as pessoas trans passaram a ter seu direito ao nome social reconhecido; foi aprovada a mudança de nome no registro civil sem necessidade de cirurgia; o processo transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS) está garantido; o direito à doação de sangue; retirada da classificação da transexualidade como transtorno mental (somente em 2018) e a criminalização da transfobia. Mas a jornada está apenas começando.

Para Gilmara, as pessoas cis precisam fazer diversos questionamentos para que continuemos avançando. “Quantas amigas trans você tem? Quantas pessoas trans estavam na sua ceia de Natal? Com quantas pessoas trans você já namorou? Com quantas pessoas trans você já trocou uma ideia à luz do dia? O primeiro passo é desmarginalizar essas vivências. Tem muito desconhecimento sobre a população trans e o desconhecimento é a base do preconceito. Pessoas cis precisam se abrir pra conhecer sobre essas vivências e as principais demandas pra se juntar na luta”, aponta a ativista.

A mareense aponta que, para que a violência extrema, como os casos de assassinato, aconteça, é preciso que muitos outros tipos de agressão sejam aceitos.

“Pessoas cis devem se responsabilizar por reverter essa situação, não foram as pessoas trans que criaram a transfobia. Contrate pessoas trans para trabalhos, convide pessoas trans pras comemorações, defenda-as em situações de violência, questione as ‘piadas’ transfóbicas nos seus grupos, declare seu apoio à causa, esteja aberta para acolhimento.”

Gilmara Cunha, que recebeu, em 2015, uma Medalha Tiradentes pelo seu trabalho no grupo Conexão G.

Indianarae reforça que, por mais que as pessoas cis precisam “reconhecer seus privilégios, seu lugar e debater as questões das pessoas trans, falar dessas pessoas para que se torne algo natural. Se colocando no lugar de escuta e ouvindo as necessidades dessa comunidade”, diz.

Importância dos dados e da informação

A Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) surgiu em 2018 com um grito de alerta representado pelo tema: “Resistir pra Existir, Existir pra Reagir”. O objetivo do coletivo é chamar a atenção para as graves violações de direitos humanos da população de travestis e mulheres transexuais no Brasil. No texto de apresentação no site, Keila Simpson, presidente da associação, clama sem rodeios: “Estamos à mercê de nós mesmas. Quem chora por nós? Quem vai contribuir com a vaquinha pra enterrar mais uma pra que não seja enterrada como indigente? Sim, porque ‘abjetas’ já somos, a sociedade já nos cunhou esse adjetivo”.

O ano de 2020, para além das tristes marcas com as mortes da pandemia, tem outra mancha: foi o ano em que foram registrados 175 assassinatos cujas vítimas eram pessoas que expressavam o gênero feminino em contraposição ao designado no nascimento. Desta maneira, ocupamos o primeiro lugar em crimes deste tipo e ainda superamos os dados dos anos anteriores.

“Os dados apresentados, além de denunciarem a violência, explicitam a necessidade de políticas públicas focadas na redução de homicídios contra pessoas trans, traçando um perfil sobre quem seriam estas pessoas que estão sendo assassinadas a partir dos marcadores de idade, classe e contexto social, raça, gênero, métodos utilizados, além de outros fatores que colocam essa população como o principal grupo vitimado pelas mortes violentas intencionais no Brasil”, diz o texto da pesquisa.

Para Gilmara, o dia 29 de janeiro, Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais, ainda é necessário para visibilizar a luta trans, chamar atenção para a situação de vulnerabilidade que marca essa parcela da população. “Estamos organizadas demandando direitos iguais, uma vida digna e livre de sofrimento, garantia de acesso a políticas públicas, ao mercado de trabalho formal. As pessoas trans precisam ter o direito de não serem expulsas de casa por serem quem são, o direito de serem acolhidas nas escolas e nos mais diversos espaços. Visibilidade trans é sobre denunciar o número assustadoramente alto de pessoas trans assassinadas todos os anos no Brasil, mas também sobre chamar atenção para como as vivências trans são também sobre sonhos e potências”, sentencia.

*O termo transvestigênere, que reúne as identificações trans, travesti e transgênero, foi criado recentemente por Indianarae e pela vereadora de São Paulo Erika Hilton.

Rio começa vacinação de crianças de 5 a 11 anos; saiba quais são os postos

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Por Redação, em 17/01/2022 às 10h50

A vacinação para crianças de 5 a 11 anos começa nesta segunda-feira (17/01) na cidade do Rio, de forma escalonada, e segue até 9 de fevereiro nas mais de 230 unidades de saúde da capital e em postos extras. Escolas municipais e espaços culturais também entraram na campanha para ampliar a imunização dos cariocas. Nesta segunda recebem a dose meninas de 11 anos.

Na Lona Cultural João Bosco, em Vista Alegre, as crianças serão recebidas por palhaços e pernas de pau, vão ganhar balões de gás e poderão deixar escrita uma frase sobre o que desejam para o futuro. O Museu do Amanhã e algumas escolas municipais – como a Henfil (Caju), a Prudente de Morais (Tijuca) e o Ciep Papa João XXIII (Santa Cruz) – também estão aplicando as doses. A lista completa, com endereços e horários, pode ser consultada em coronavirus.rio/vacina.

A criança deve ser levada ao posto pelos pais ou responsáveis, com o cartão de vacina, se disponível, e um documento de identificação. Pessoas com Deficiência e/ou comorbidades têm prioridade e podem ser imunizadas a qualquer momento, independentemente da idade, desde que tenham entre 5 e 11 anos.

A aplicação será feita com a vacina da Pfizer pediátrica, a única autorizada até o momento para essa faixa etária, em duas doses de 0,2 ml, com intervalo de 8 semanas. A imunização contra a Covid 19 é comprovadamente segura na prevenção do agravamento da doença. Nas crianças, a eficácia da proteção da vacina alcança 90,7% uma semana após a segunda dose.

A Secretaria Municipal de Saúde aguarda a regularidade na entrega das remessas de vacinas pelo Ministério da Saúde para manter o calendário anunciado.

Confira as unidades escolares que estão de portas abertas para a vacinação:

– CIEP Henfil – Rua Carlos Seidl, 71 – Caju
– EM Dr. Cícero Pena – Av. Atlântica 1976, Copacabana
– EM Prudente de Morais – Rua Enes de Souza, 36 – Tijuca (Próximo ao CMS Heitor Beltrão)
– Escola Municipal Anibal Freire – Av. Professor Plínio Bastos, 631 (em frente ao Olaria Atlético Clube)
– Ciep Patrice Lumumbe
– E.M Paraíba (Unidade de referência: CF Maria de Azevedo Rodrigues)
– CIEP Margaret Mee – Recreio dos Bandeirantes (Ao lado do CMS Harvey Ribeiro de Souza Filho) – (início terça, 18/01)
– EM Embaixador Dias Carneiro – Tanque (Ao lado do CMS Jorge Saldanha Bandeira de Melo) – (início terça, 18/01)
– EM Paulo Maranhão – Rua do Governo 866, Realengo – (início terça, 18/01)
– CIEP Raymundo Ottoni de Castro Maya – Rua Moranga, s/n, Campo Grande (Referência: CF David Capistrano e cms Mário Vitor)
– CIEP PAPA JOÃO XXIII – Avenida João XXIII, S/N SANTA CRUZ, CEP 23570-000 (Unidade de Referencia CF. Ernani Braga)
Além das crianças, quem mais deve tomar vacina nesta segunda?
A campanha inclui a dose de reforço (DR) para pessoas com 18 anos ou mais que tomaram a segunda dose há quatro meses ou mais. A vacinação é destinada ainda às pessoas com 12 anos ou mais que não foram vacinadas contra a Covid-19 até o momento e segunda dose.
É possível antecipar a dose de reforço até o intervalo mínimo de três meses em casos de viagem, problemas de saúde e outras questões pessoais.
Pessoas com 18 anos ou mais que tenham imunossupressão e receberam três doses no esquema primário (duas doses e uma de reforço) devem tomar uma nova dose de reforço (DR 2) com intervalo de quatro meses da primeira DR.

Ômicron avança perigosamente e quebra recordes de infectados

Capital corre para frear disseminação do vírus em meio a debate sobre realização do Carnaval

Por Jorge Melo, em 12/01/2022 às 17h55. Editado por Edu Carvalho

Na segunda-feira (10), mais um recorde de casos de Covid-19 foi quebrado. Foram registrados mais de três milhões de infecções em 24 horas. E mais uma vez os Estados Unidos foram os responsáveis pelo maior número, um milhão 480 mil pessoas infectadas. Pela primeira vez a marca de três milhões de casos foi ultrapassada e o quarto recorde mundial foi quebrado em apenas oito dias.

Secretaria Municipal de Saúde autoriza servidores públicos para trabalho em testagem

No Rio de Janeiro, na terça-feira, 11 de janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde – SMS registrou 9.135 novos casos, o maior número desde o início da pandemia. O recorde se deve também ao aumento da oferta de testes. Nove polos de testagem foram instalados em diferentes pontos da região metropolitana do Rio de Janeiro: Hospital Estadual Dr. Ricardo Cruz, Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense; Iaserj do Maracanã, Estádio de Atletismo Célio de Barros, também no Maracanã. E mais seis centros de testagem nas Unidades de Pronto Atendimento de Bangu, Campo Grande II e Jacarepaguá, na Zona Oeste, e Tijuca, Penha e Marechal Hermes, na Zona Norte.

Decreto publicado pela Prefeitura do Rio autoriza o pagamento de uma gratificação de R$ 100 por dia para agentes públicos trabalharem em polos de testagem. A decisão se deve à necessidade de reforçar a capacidade da SMS na testagem da população e vale para o período entre os dias 11 de janeiro de 2022 e 31 de janeiro de 2022.

Segundo Leonardo Bastos, pesquisador associado da Fundação Oswaldo Cruz-Fiocruz, a testagem é o início de tudo “é muito importante se ações foram tomadas depois de identificar casos positivos; a pessoa deve se isolar, e para isso ela precisa de condições adequadas como dispensa do trabalho, orientações corretas, boas máscaras ´para evitar transmitir. E ter um suporte que auxilie a pessoa em caso de piora nos sintomas, quando ela deve procurar um hospital. Outro motivo importante para a testagem é que um caso positivo identificado serve de alerta para que seus contatos testem ou se isolem pois eles podem também estar infectados.”

De acordo com a SMS, as internações, embora estejam crescendo, estão sob controle. Isso se deve, segundo as autoridades, à vacinação, principal bloqueio contra o vírus. A rede pública municipal tem 181 internados por Covid-19, e outros 56 pacientes na fila por vagas. Leonardo Bastos acredita que ainda não chegamos ao pico do contágio pela nova variante Ômicron. Segundo ele, faltam dados para uma avaliação mais orecisa, “no entanto, a tendência atual das hospitalizações no Rio é de crescimento. Não na mesma velocidade dos casos e isso é por conta da alta cobertura vacinal.”

Na cidade do Rio de Janeiro, 81% da população tomou pelo menos duas doses de vacina. E 28% completaram o ciclo vacinal com a terceira dose, a de reforço. No entanto, mais de 30 mil pessoas não tomaram nem mesmo a primeira dose.

Dos internados na rede do Sistema Único de Saúde – SUS, 90,7% não concluíram o ciclo de vacinação e 38% não tomaram nenhuma dose. A Secretaria municipal de Saúde reabriu 50 vagas para pacientes de Covid-19 no Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, hospital que no auge da pandemia era a referência para os casos de Covid-19.

A situação na Maré

Segundo o coordenador da Coordenação Geral de Atenção Primário Saúde – CPA3.1, que engloba Maré, Complexo do Alemão, Olaria, Ramos, Bonsucesso e Jardim América, Thiago Wendel, houve um aumento do número de casos de Covid-19 na região. No dia dez de janeiro foram realizados mais de treze mil testes. E quarenta por cento dos testes deram positivo. Segundo Wendel, a Secretaria Municipal de Saúde reforçou as equipes, inclusive na Maré, para fazer frente ao aumento da procurar por testes. Ele lembra que mais do que nunca é importante manter os cuidados como usar máscara, higienizar as mãos com álcool gel água e sabão e manter o distanciamento social.

Dados do Fogo Cruzado indicam recorde de mortes em única operação no Grande Rio

Relatório foi divulgado na manhã de hoje, quarta (12)

Por Redação, em 12/01/2022 às 13h55.

A retomada dos eventos presenciais e o avanço da vacinação contra a Covid-19 foram marcos de 2021 no Rio de Janeiro. A segurança pública fluminense também poderia ter dado passos à frente, mas não foi isso o que aconteceu. Em 2021, houve 4.653 tiroteios/disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Ao todo, 2.098 pessoas foram baleadas (1.084 mortas e 1.014 feridas), segundo Relatório anual lançado hoje pelo Instituto Fogo Cruzado. Houve, em média, 13 tiroteios por dia no Rio de Janeiro, e cinco baleados a cada 24 horas.

Em 2020, a morte de João Pedro, baleado em casa durante uma operação policial, motivou o Supremo Tribunal Federal (STF) a adotar medidas que pudessem conter também a violência. A ADPF 635, que desde o dia 5 de junho daquele ano passou a restringir operações policiais não urgentes e não planejadas nas favelas do Rio durante a pandemia, buscava evitar que moradores que se protegiam da pandemia fossem vitimados. Naquele ano, houve 4.585 tiroteios no Grande Rio, deixando 1.795 baleados – 896 mortos e 899 feridos.

A despeito da ADPF, a atuação policial chamou atenção em 2021. 64% (1.342) dos baleados foram atingidos durante ações/operações policiais. Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, lembra da importância do planejamento e justificativa das operações, assim como as investigações quando necessário, como no caso de João Pedro. “Sem planejamento, inteligência, responsabilidade e a devida fiscalização do Ministério Público, que tem entre suas funções o controle externo da atividade policial, não haverá mudanças. Pelo contrário, este ano, o GAECO, grupo que investigava excessos e má conduta policial, foi extinto. Hoje há apenas um grupo menor e temporário fazendo parte do trabalho. Quem se preocupa com estas famílias e com o futuro destas crianças e adolescentes?”, questiona.

Chacina foram tornam-se rotina

Ao todo, em 2021, houve 61 chacinas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Segundo relatório anual sobre violência armada do Instituto Fogo Cruzado, 255 civis foram mortos nestas circunstâncias. As ações ou operações policiais foram responsáveis por três a cada quatro chacinas ocorridas no Grande Rio, vitimando 195 civis no total. Foi em uma operação policial no Jacarezinho, em 6 de maio, que 28 pessoas foram mortas, entre elas um policial civil. A Chacina do Jacarezinho, como ficou conhecido o episódio, foi a operação mais letal da história da polícia do Rio de Janeiro. Além do elevado número de mortos, houve ainda outros cinco baleados na ocasião: dois policiais civis e três vítimas de balas perdidas, entre elas dois passageiros do metrô e um morador da região. O Ministério Público denunciou dois policiais pelos crimes de homicídio doloso e fraude processual cometidos durante a operação. Em comparação com 2020, que concentrou 44 chacinas com 170 mortos, houve aumento de 39% nos casos e de 50% nas mortes. 33 das chacinas ocorridas em 2020 foram em ações e operações policiais.

Crianças e adolescentes são os mais afetados

A violência armada não poupou nem os mais jovens, segundo o relatório. Em 2021, 17 crianças e 43 adolescentes foram baleados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Desse número, quatro crianças e 15 adolescentes não resistiram e morreram, como aconteceu com Alice Pamplona, de 5 anos, atingida por uma bala perdida nas primeiras horas de 2021. Em 2020, foram 22 crianças e 40 adolescentes baleados no Grande Rio.

“Muito se fala na proteção de crianças e adolescentes, mas quase nada é feito para garantir isso. Os dados mostram que eles estão sendo feridos, mortos, que têm problemas psicológicos, mas pouco ou nada é feito por aqueles que têm o dever constitucional de garantir um crescimento saudável e com direitos garantidos para estes pequenos cidadãos”, cobra a diretora do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Olliveira.

Mortes de policiais também crescem

Ao todo, 181 agentes de segurança foram baleados no Grande Rio em 2021. Entre as vítimas, 82 morreram. Os Policiais Militares foram a categoria mais afetada pela violência armada, representando 77% do total de baleados. Cecília Olliveira lembra que atualmente, o plano de segurança do Rio de Janeiro não consta em nenhum lugar. “Isso dificulta que jornalistas, pesquisadores e gestores públicos cobrem medidas que poupam a vida dos agentes de segurança pública, já que não temos sequer um plano de segurança para nos basear”, completa. Em comparação com 2020, quando 142 agentes de segurança foram baleados, sendo 54 mortos e 88 feridos, houve aumento de 52% entre os mortos e de 13% entre os feridos.

Sobre o Fogo Cruzado

O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 20 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e, em breve, em mais cidades brasileiras.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

Mobilização da Maré realiza sopão e coleta de roupas e calçados

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Moradores da Maré se unem em prol de pessoas em situação de rua e quem sofre em decorrência de enchentes

Por Hélio Euclides, em 10/01/2022 às 15h50.

De um lado, uma população de rua que aumenta a cada dia. Do outro lado, desabrigados de enchentes que devastaram cidades da Bahia. São inúmeras pessoas que necessitam do básico, como água potável, comida e vestuário. Com a ausência do poder público, dezenas de ações da sociedade são organizadas como forma de solidariedade e minimizar o sofrimento dessas famílias.

Na Maré, Alberto Araújo Duarte, conhecido como Beto, cabeleireiro e representante do Movimento LGBTQI+, realiza a coleta de alimentos para a realização de um sopão que é distribuído para moradores de rua da cidade. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que a população em situação de rua cresceu 140% a partir de 2012, chegando a quase 222 mil brasileiros em março de 2020. Com a pandemia, esse número aumentou.

Outra situação de pessoas em situação de vulnerabilidade são as que sofreram com as chuvas que caíram no estado da Bahia. Segundo balanço divulgado pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), 32.737 pessoas ficaram desabrigadas. No total, foram 153 municípios atingidos, o que casou o resultado de 57.531 desalojados, que são as pessoas que também perderam os imóveis, mas foram alocadas em casas de familiares ou amigos. Com a decisão de ajudar de alguma forma essas pessoas, Beto transformou seu salão de cabeleireiro na Vila do João em ponto de recebimento de doações.

“Eu tenho esse movimento de solidariedade há 14 anos. Com a pandemia, tomei a iniciativa há mais de um ano o sopão para pessoas em situação de rua. Estamos recebendo doações de legumes de um mercado e clientes do cabeleireiro, e ossos de um açougue. Toda segunda-feira tem o sopão e agora a coleta de material para o envio aos desabrigados da Bahia”, diz. Toda as doações serão entregues ao Corpo de Bombeiros.

Quem desejar realizar as doações de itens, como cobertores, roupas e calçados, pode entregar na Rua Dezoito, número 134, Vila do João. Beto e sua equipe também realiza a coleta na casa do doador. Para agendar, é só ligar para (21) 99283-8497.

Pandemia e educação: o que esperar da retomada em 2022

De acordo com estudo sobre os impactos da epidemia global para os estudantes, 5,1 milhões de crianças e adolescentes perderam o vínculo escolar em 2020

Por Gracilene Firmino

O vírus da covid-19 não diferencia nem privilegia quais seres humanos ele vai infectar, mas as consequências de sua ação produziram um impacto sentido com muito mais intensidade pelos mais pobres. Se para muitos a educação chegou pela internet, para milhares ela foi a grande ausência nesses quase dois anos de pandemia — nas escolas fechadas, nos dispositivos antigos e sem memória suficiente, na internet instável. 

Andréia Martins, membro da direção que acompanha o Eixo Educação na Redes da Maré, relembra que apenas 36,7% dos domicílios da Maré têm internet: “Mesmo entre as famílias que tinham rede, os pacotes de dados eram, na maioria das vezes, insuficientes para chegar até o fim do mês. Professores relataram ter que adaptar as atividades, já que vídeos e participação em aplicativos de reuniões requerem uma qualidade melhor da internet.”.

Segundo Andréia, o ensino remoto aprofundou as desigualdades. “Desde o início da pandemia, as dificuldades para a continuidade do processo educativo de estudantes pobres, moradores de favelas e periferias, têm sido enormes. Muitas famílias só dispõem de um celular, que é utilizado pelo adulto ao longo do dia, só estando disponível para o aluno estudar à noite.” 

Não apenas os estudantes sofreram com a adaptação. “As dificuldades atingiram tanto as famílias quanto os profissionais de educação, que lutaram para manter o vínculo do aluno com a escola e a continuidade do processo educativo”, afirma.

Para especialistas, o ensino remoto aprofundou as desigualdades sociais por conta do limitado acesso à internet e a dispositivos – Foto: Matheus Affonso

Ano de incertezas

Andréia conta que, mesmo com dificuldades, estudantes da Maré chegaram a frequentar as aulas presenciais. “Os anos da pandemia foram de muitas incertezas quanto ao retorno, anunciado inúmeras vezes e depois, cancelado por conta da dificuldade de controle da doença. A volta foi gradativa e algumas escolas da rede municipal na Maré conseguiram retornar no formato híbrido em março de 2021. O momento tem sido de adaptação, de cuidados sanitários redobrados, de busca ativa de estudantes que não retornaram à sala de aula. Nesse processo, vale ressaltar que as escolas da Maré não têm muitas fragilidades em relação à infraestrutura dos prédios.”

Os professores tiveram papel fundamental na luta por manter as aulas e o vínculo com os alunos. Viviane Couto, que é professora da rede pública de ensino e dá aulas na Escola Municipal Olimpíadas Rio 2016, na Maré, fala sobre as dificuldades. “Foi bem difícil retornar ao presencial. O protocolo é muito bonito no papel, mas no dia a dia sofremos para dar conta de tudo, o pedagógico, a burocracia e a saúde de todos”, conta. 

A educadora fala das particularidades da escola em que leciona. “Quando retornamos ao presencial, as aulas transcorreram normalmente, com conteúdos, projetos, avaliações individuais, integradas, e avaliações externas. Além disso, promovemos uma rigorosa busca ativa por estudantes que se afastaram. Não havia nenhuma orientação de aprovação automática, o que nos pegou de surpresa. Mas nossa escola fez um trabalho sério durante todo o ano. Reprovar nunca é uma meta; o problema é sempre a falta de diálogo”, diz Viviane.

O aviso na entrada de uma das escolas da Maré mostra aos estudantes os cuidados sanitários a seguir – Foto: Matheus Affonso

O que diz a Prefeitura

Atualmente, 16.491 alunos são atendidos em 45 escolas da Prefeitura no conjunto de favelas da Maré. Em nota, a Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que pretende implementar uma série de projetos. Além disso, “os alunos que acompanharam as aulas de forma virtual ou presencial em 2021 não serão reprovados por nota, somente por frequência. No entanto, essa não é uma aprovação automática. O Rio optou por um modelo de priorização curricular, que é uma forma de retomar no ano seguinte habilidades que não foram trabalhadas o suficiente e são necessárias para o seguimento do aprendizado. Essa medida é aplicada em situações de emergência e é aprovada pela Unesco.”

A Prefeitura anunciou ainda projetos como o Carioca I e II e o Travessia, além do reforço escolar que deve acontecer no contraturno escolar (período oposto ao que o aluno frequenta a escola). Serão cinco horas semanais de reforço para 75 mil alunos com defasagem na aprendizagem, com o apoio de professores e estagiários em aulas presenciais ou remotas, e planos individualizados elaborados pelo professor a partir das avaliações diagnósticas.

Já os projetos Carioca I e II são estratégias de correção de fluxo de aprendizado que buscam atender estudantes que apresentam defasagem em idade/ano escolar. “Para 2022, serão abertas vagas para atender também alunos do Carioca I, que são aqueles do 6° e 7° anos. O Carioca I é voltado para estudantes entre 13 a 15 anos e o Carioca II, para jovens entre 14 e 16 anos”, diz a nota.

Quanto ao Projeto Travessia, ele é “uma estratégia que visa atender estudantes que chegaram ao 6º ano do Ensino Fundamental ainda com dificuldades de aprendizagem do primeiro ciclo. O projeto oferecerá material elaborado exclusivamente para esses alunos que apresentaram baixo desempenho nas avaliações de leitura e escrita”.

ANO LETIVO DE 2022
1º Bimestre 20222º Bimestre 20223º Bimestre 20224º Bimestre 2022
Equivalente ao 1º semestre do ano de 2021Equivalente ao 2º semestre do ano de 2021Equivalente ao 1º semestre do ano de 2022Equivalente ao 2º semestre do ano de 2022

A previsão é de que as aulas nas escolas do município retornem, a princípio de forma presencial, no dia 7 de fevereiro.      

Bora pra escola!

A evasão escolar tem preocupado as organizações sociais e as autoridades de educação. Segundo o estudo Cenário da Exclusão Escolar no Brasil – um Alerta sobre os Impactos da Pandemia da Covid-19 na Educação, em 2020, 5,1 milhões de crianças e adolescentes perderam o vínculo escolar. Os motivos podem ser muitos, desde a necessidade de trabalho, para que os jovens consigam ajudar a família, quanto por medo de reprovação, por não se sentirem capacitados ou até mesmo por não terem quem leve uma criança pequena para as aulas.  

Nesse cenário, de recuperação após o avanço da vacinação, foi lançada a campanha “Bora pra Escola!”, pelo Centro de Referências em Educação Integral. O objetivo é mobilizar estudantes que abandonaram a escola durante a pandemia a voltarem para a escola. Mais de 30 organizações sociais de todo o Brasil se uniram nessa mobilização.