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Casas de acolhimento para população LGBTQIA+ tem mais procura após alta da inflação

Foto: Matheus Affonso

Produtos ‘encolhem’ e consumidores pagam o mesmo valor. População periférica e LGBTQIA+ são mais afetadas

Por Samara Oliveira, em 30/06/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho

Ir ao mercado e andar pelos corredores ouvindo os comentários sobre o alto preço dos produtos virou uma rotina para os brasileiros. Andando em alguns de diferentes regiões, a equipe do Maré de Notícias pôde constatar que os movimentos são similares: passam, olham as prateleiras, se chocam com os preços e conversam sobre isso com indignação.

Na parte do açougue pudemos ouvir: “Com 20 reais hoje não se compra um quilo de carne”. Nos últimos dias, virou assunto nas redes sociais o valor do litro de leite, que em alguns mercados já ultrapassa R$7. É um fato já sentido pelos consumidores e confirmado pelas pesquisas. O IPCA, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, usado nas metas de inflação do governo, subiu 1,06% em abril e já acumula alta de 12,13% em 12 meses, impactando diretamente nas prateleiras dos pequenos e grandes mercados.

https://twitter.com/templariosimoes/status/1539933165707485190

Em contrapartida, dificilmente você encontra o bom e antigo “leite condensado”, ou os biscoitos no tamanho que estava acostumado. Ao invés disso, encontramos a “mistura láctea condensada” e embalagens de outros produtos reduzidos de tamanho em 20%. Na caixa de fósforo como mostrado na foto abaixo, são menos 40 palitos para a casa do consumidor e o pior: pelo mesmo preço.

Na imagem que circulava em redes sociais podemos observar a redução da quantidade de palitos
Parte de açougue é uma das que mais apresenta constante variação de preços. Foto: Matheus Affonso

O feito tem um nome: estagflação. É quando o preço de tudo está aumentando (inflação), mas a renda da população permanece a mesma (estagnada) ou sem aumento real que acompanhe a inflação. Ou seja, os custos dos fabricantes também aumentaram e para não aumentarem (ainda mais) o valor dos produtos, reduzem o tamanho das embalagens ou mudam os ingredientes para manter o mesmo preço. Fenômeno também é conhecido como: reduflação.

O economista Matheus Peçanha, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta um dos motivos para que ocorra esse efeito. “O que mais está caracterizando o nosso processo inflacionário agora é a inflação de custos, também chamada de inflação de oferta. É quando movimentos exógenos, ou seja, fora do próprio sistema econômico do país geram dificuldades na oferta de um bem e com menos oferta, o preço também sobe. É o outro lado daquela lei da oferta e procura”, explica o profissional formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Segundo o especialista, outro fator que também causa impacto direto nesses valores são as crises climáticas.
“Desde 2020 a gente tem sofrido problemas climáticos em sequência. Tivemos seca, geada, no último verão tivemos chuvas torrenciais que impactaram sobretudo os horts fruits. O preço da cenoura, tomate, batata mais que dobraram em 12 meses. Agora temos um inverno que também promete ter bastante geada que deve impactar de novo várias lavouras. Não tem lavoura que aguente sucessivos choques climáticos, por isso a gente nota uma inflação de alimentos bem generalizada”, afirma.

O impacto nas favelas e na população LGBTQIA+

Uma pesquisa realizada no segundo semestre de 2021, feita pela Outdoor Social Inteligência, empresa especializada no consumo da classe C, concluiu que o gasto médio com alimentação nas favelas teve um aumento significativo durante a pandemia, consumindo mensalmente R$ 1079,00, quase o valor de um salário mínimo (R$ 1212,00), para uma renda mensal média de R$ 2.781,14 — ou seja, comer leva uma fatia de quase 40% dos rendimentos.

David Almeida, morador da Nova Holanda do Conjunto de Favelas da Maré, é um dos moradores de periferia que passou a ter que cortar até o essencial da sua alimentação na tentativa de deixar a compra mais barata.
“Eu moro sozinho e minhas compras agora ficam em quase 700 reais com o básico como arroz, feijão, açúcar, proteína. Eu tenho anemia falciforme, que é uma doença genética que os glóbulos vermelhos são em formas de foice, então sou uma pessoa que preciso fazer todas as refeições do dia certinhas. Esses dias eu estava querendo colocar frutas e legumes que são essenciais pra mim e vi que ia ficar muito caro. Eu fico imaginando para quem tem 5 ou mais pessoas em casa”, conta o jovem de 27 anos, indignado.

Indianara Siqueira, umas das fundadoras da Casa Nem, um centro de acolhimento da cidade do Rio de Janeiro que abriga pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social, afirma que com o aumento da inflação mais pessoas procuraram o espaço e também a Rede Brasileira de Casas de Acolhimento, a Rebraca. “O aumento da inflação coloca outra vez o Brasil no mapa da miséria e da fome que já havia saído. Dessa população lógico que a comunidade LGBTQIA+ está inserida por ser uma população vulnerabilizada que não está inserida no mercado formal de trabalho e não tem renda, o que agrava também a questão da moradia e essas pessoas vão morar na rua. Cada vez que precariza a sociedade em geral, precariza ainda mais a vida dessas pessoas”, afirma a ativista de 51 anos.

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