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Com ‘Cidade Integrada’, Polícia ocupa Jacarezinho e Muzema

Projeto reedita plano das Unidades de Polícias Pacificadoras, as UPP’s, após 14 anos na cidade do Rio

Por Edu Carvalho, em 19/01/2022 às 12h50. Editado por Dani Moura

Na manhã desta quarta-feira (19), as polícias militares e civis começaram um processo de ocupação das favelas do Jacarezinho, na Zona Norte, e Muzema, na Zona Oeste do Rio. A ação faz parte da implementação do projeto ‘Cidade Integrada’, instituído pelo Governo do Rio de Janeiro, sem consultar a sociedade civil. Segundo informações do Voz das Comunidades, cerca de 1.200 policiais, 400 civis e 800 militares fazem parte do processo.

”Damos início a um grande processo de transformação das comunidades do estado do Rio. Foram meses elaborando um programa que mude a vida da população levando dignidade e oportunidade. As operações de hoje são apenas o começo dessa mudança que vai muito além da segurança”, publicou o governador do Rio, Claúdio Castro, nas redes sociais. Castro disse ainda que todos os detalhes do programa serão anunciados no próximo sábado, 22, apenas três dias depois do ínicio do projeto.

O prefeito da cidade do Rio, Eduardo Paes, saudou a ação no Twitter. Mas disse desconhecer que houve reuniões prévias que discutissem o plano. ”Não é verdade que tenha havido qualquer programação ou reuniões prévias com equipes da prefeitura a esse respeito. Aliás, diga-se de passagem, único ente da federação sempre presente com o seu serviços em qualquer canto dessa cidade”.

Nas redes sociais, moradores lamentaram a incursão das polícias sem comunicação oficial. Desde a noite de ontem, terça-feira (18), havia apreensão nas duas favelas. ”Será que esqueceram que há dez anos a UPP “ocupava” o Jacarezinho e resultado disso? A militarização da vida cotidiana, a invasão de casas, o abuso em revistas toda hora, a entrada em casas e uma montanha de recursos que foram gastos de forma equivocada”, questionou o pesquisador da Redes de Observatórios da Segurança Pedro Paulo. Além de pesquisador, Pedro é morador do Jacarezinho.

https://twitter.com/_pedro_paulo__/status/1483770458495406086?s=20
https://twitter.com/biancatpe/status/1483781241195405315?s=20
Bianca Peçanha, Coordenadora Executiva e de Comunicação do NICA Jacarezinho, em sua conta do Twitter.

Segundo o G1, um dos eixos do ‘Cidade Integrada’ será a implementação de câmeras para reconhecimento facial no Jacarezinho. Para Pablo Nunes, pesquisador da Redes de Observatório de Segurança, a ação como um todo causa espanto. ”Estamos surpresos com essa notícia de que serão instaladas câmeras. Perguntamos no ano passado se o Governo iria continuar investindo em reconhecimento facial no moldes do governo Wilson Witzel, e foi dito que não tinham planos. Isso nos chama muita atenção”.

Pablo salienta que não só o Estado, mas o país está fazendo grandes investimentos na área de reconhecimento facial, quando países mundo afora seguem colocando em questão o uso, além de banir o processo. ”Nos surpreende o Rio voltar a essa aventura, uma vez que o projeto de 2019 (quando colocado em prática na orla de Copacabana) não foi excrutinado, não trouxeram dados de impacto que pudessem dizer, com clareza, os avanços da utilização para segurança pública”.

Para o pesquisador, não ficam claras as propostas de uso no contexto da favela. ”No quê as câmeras vão ajudar Jacarezinho e um plano de cidade integrada? Isso não ficou claro, assim como todo o projeto do governo, que tem nome bonito, impacto, mas que não tem substância que o sustente”, questiona.

Em 2021, o Jacarezinho foi cenário da maior chacina registrada no Rio de Janeiro. No episódio, 28 pessoas morreram. E a comunidade da Muzema é uma região sabidamente dominada pela milícia.

Saiba mais:

https://www.vozdascomunidades.com.br/comunidades/upp-em-10-anos-fracasso-ou-progresso/
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