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Completar o ensino básico ainda é um desafio para mulheres negras mães, revela estudo

A gravidez foi o principal motivo para deixar a escola (23,1% das respondentes), ficando apenas atrás da necessidade de entrar no mercado de trabalho | Foto: Patrick Marinho / Redes da Maré

 Millena Ventura – Educadora da Casa Preta da Maré

O ano de 2024 marca o fim do ciclo do Plano Nacional de Educação (PNE) instaurado em 2014 que tinha como uma das metas elevar a escolaridade média de pessoas entre 18 a 29 anos, no entanto, de acordo com a pesquisa da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), essa e outras metas não foram alcançadas. 

Essa informação foi reforçada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua) realizada em 2023, que mostrou que mais de 9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos não concluíram o ensino básico. Desse número, cerca de 58,1% são homens e 71,6% são pretos ou pardos. Entretanto, quando olhamos para o público feminino fora da escola (41,1%), percebe-se que oito em cada dez jovens do sexo feminino são mães, formando o número de 2,4 milhões de jovens, desse número, 72% são negras. Esses dados são parte da pesquisa “Juventudes fora da escola” do Itaú Educação e Trabalho com Fundação Roberto Marinho, que em parceria com o Datafolha, partindo dos dados do IBGE, gerou um prognóstico do perfil do jovem fora da escola. 

Para as mulheres, a gravidez foi o principal motivo para deixar a escola (23,1% das respondentes), ficando apenas atrás da necessidade de entrar no mercado de trabalho, tendo também destaque para o cuidado familiar como um fator de evasão (9%), que foi nulo quando perguntados para pessoas do gênero masculino. O levantamento também mostrou que a falta de creches e de horários adequados à rotina afastam as mães de um possível retorno para a conclusão dos estudos.

Desafio para mulheres negras mareenses

O cenário educacional na Maré não diverge muito do panorama nacional. O Censo Maré de 2019 apontou que um há um alto número dos jovens da Maré que não terminaram o ensino básico, assim como o alto índice de evasão ainda no ensino fundamental, com apenas 37,6% da população concluinte dessa etapa. Apesar do maior número de mulheres alfabetizadas, os desafios apresentados no Brasil são espelhos na Maré.

Apenas quatro escolas no território oferecem a modalidade de Ensino para Jovens e Adultos, e desses somente uma escola oferece no horário diurno e vespertino. Além da pouca oferta de ensino, as mães enfrentam dificuldades para organizar o cuidado com as crianças, sendo creches e escolas uma pauta histórica para a Maré. Mesmo com a construção do Campus Maré, que aumentou o número de Equipamentos Municipais de Educação, pulando de 21 para 46 espaços, sendo 10 Espaços de Desenvolvimento Infantil, vagas ainda são insuficientes, levando as famílias a buscarem espaços privados de ensino ou a construção de redes de apoio para que as crianças possam ser cuidadas por familiares ou amigos. 

Por isso, iniciativas como o EJA ofertado pela Redes da Maré em parceria com a Fundação Roberto Marinho são importantes para a construção de outras possibilidades para essa modalidade de ensino. Com seis turmas para a formação no ensino fundamental e ensino médio, que acontecem em três horários distintos do dia de segunda a quinta-feira, o modelo permite que esse grupo tenha poder de escolher o horário a partir da sua realidade e com proximidade da residência. 

Raquelly, de 20 anos, moradora da Nova Holanda,  aluna do EJA do horário matutino e formada na Escola de Letramento Racial da Casa Preta da Maré, aponta que além dos motivos citados acima, poder levar seu filho Rael, tanto no EJA quanto para as aulas da Escola a motivaram a continuar a formação. Ela acredita que esses foram e são espaços seguros, e que isso promove a permanência dela nas salas de aula. O apoio da família e dos amigos da Escola de Letramento, e a vontade de concluir os estudos para avançar na carreira também foram fatores que contribuíram para o retorno aos estudos. Os motivos de Raquelly são semelhantes aos dos respondentes da pesquisa da Fundação Roberto Marinho. Entretanto, a falta de espaços como os que ela acessou impedem que esses jovens possam voltar para o ensino básico. 

*Essa matéria foi escrita pela Casa Preta da Maré em comemoração ao Dia 25/07, Dia da Mulher Negra latino-americana e caribenha, que também homenageia Tereza de Benguela. 

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