Canal do Youtube mostra com humor cotidiano de mareenses
Por Hélio Euclides, em 22/10/2021 às 09h37
Amaury Jr, com seu programa Flash, fica no chinelo quando moradores da Maré saem às ruas para visitar as festas da favela para entrevistar convidados. Esse trabalho realizado com muita alegria e humor é feito pelos criadores do canal do Youtube ‘Na Favela‘. O canal surge em 2014, quando quatro amigos, dentre eles o saudoso cineasta Cadu Barcelos, se reuniram para transformar ideias em produtos audiovisuais. Hoje, Diogo Santos, Josinaldo Medeiros e Allan Farias seguem em frente levando à internet histórias da favela, por meio dos quase 100 filmes produzidos.
Tudo começou timidamente, quando o grupo gravou o filme ‘Quem matou Gilberto?’, que chegou a participar da nona edição do Festival Visões Periféricas. De lá para cá, os amigos continuaram gravando seus vídeos, tendo o humor como pano de fundo. Com a pandemia, o trio mirou no YouTube para dar continuidade ao trabalho e por meio do filme os jovens conhecidos na Maré. Nas redes sociais eles chamam atenção, com mais de três mil seguidores no Instagram e quase 100 mil no Facebook.
No dia a dia os três fazem roteiro, produção, direção, edição, câmera e atuação. No canal são apresentados filmes, esquetes, talk show e agora vão começar os podcast. “Temos muitas coisas ainda para fazer, como séries e filmes. Até novela já escrevemos e o roteiro está guardado esperando conseguir apoio. Nosso carro chefe no momento são esses programas de entrevistas, que rendem uma graninha e é bem legal mostrar o que tem de bom na noite da Maré”, conta Diogo, morador da Nova Maré.
Os programas de entrevistas são realizados em festas locais, onde os frequentadores se sentem vips. Tudo começa quando os comércios ou os organizadores dos eventos chamam o grupo para a cobertura das festas. “A meta é continuar com o canal e conseguir financiamento. Quando criamos um vídeo temos o sentimento de esperança, porque nossa intenção é repassar isso para a molecada, por meio de oficinas. Ensinar a eles como nosso trabalho é feito é nosso maior incentivo”, diz.
O começo da empreitada
Ultimamente o trio também produz alguns vídeos clipes de artistas de rap e trap da Maré. Mas até chegar nesse processo foi uma evolução. Allan Farias, morador da Nova Holanda lembra da época que fazia curso de audiovisual junto com o Diogo. “Ele me disse do que se tratava o projeto na época. De início entrei para botar em prática o que havia aprendido. Hoje, como nosso trabalho evoluiu bastante, podemos, de certa forma, contribuir com a comunidade repassando tudo aquilo que aprendemos”, comenta.
Com sentimento de esperança no futuro, Allan já pensa em ensinar o que fazem para os mais jovens. Para isso, o grupo ampliou o trabalho com esquetes, podcast, paródias e cobertura de eventos e aniversário, para ajudar na captação de recursos. Com a arrecadação, o grupo têm como objetivo realizar uma oficina de cinema. O outro é conseguir viver da arte, com toda renda sendo possível por meio do canal.
Josinaldo Medeiros, morador da Vila dos Pinheiros, um dos criadores do canal, recorda como tudo começou. Em 2014, era instrutor de uma oficina de roteiro no Morro do Timbau do Projeto Cine Maneiro. “O Diogo se apresentou na recepção com uma pasta de roteiro para participar. O curso já estava do meio para o final, mas me interessei pelos roteiros e fizemos o primeiro vídeo. Uma sátira que envolveu humor, mas falando de uma coisa séria que foi a ocupação militar e as mortes que vinham acontecendo. No vídeo, equilibram-se o real e a ficção com referência ao teatro do oprimido e a Glauber Rocha, fontes de inspiração”, afirma. A partir desse vídeo foi criado o selo do grupo.
“Nesses sete anos produzimos diversos trabalhos e experimentamos diversos formatos. Mas em 2020 conseguimos entender melhor o nosso objetivo e o foco, por conta da pandemia que nos fez refletir sobre o que fazemos. De um modo geral, estamos satisfeitos em captar a emoção e ser reconhecidos na rua. Com nosso trabalho de produção e exibição no canal e no cine clube, conseguimos atingir as pessoas que entendem o que estamos fazendo. Isso não tem preço, me sinto feliz. A comunidade nos abraça”, expõe. Ele detalha que no ano passado foram 60 vídeos, algo muito intenso, o que deixa o grupo cansado, mas próximo de alcançar o objetivo da sustentabilidade.