Parlamentar esteve hoje na delegacia para fazer a ocorrência de ameaças que sofreu ao longo do ano
Por Andressa Cabral Botelho, em 21/12/2020 às 17h30
Editado por Edu Carvalho
A deputada estadual Renata Souza (PSOL) sofreu na última semana uma série de ameaças via Facebook e na manhã desta segunda-feira (21), encaminhou à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, no bairro de Maria da Graça, zona norte do Rio, o registro de ocorrência. Entre as mensagens, o agressor mencionou que “você fala de mais (sic)… Vai perder a linguinha”. A pessoa afirmou, ainda que “por isso que Marieli (sic) morreu.”
Renata Souza é mulher, preta, favelada e hoje é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Embora tenha recebido a ameaça, a deputada afirma que seguirá atuando em defesa dos direitos da população. “Nosso mandato defende o direito mais precioso, que é a vida. Apoiamos todos aqueles que têm seus direitos violentados e recebemos familiares de vítimas da violência indistintamente. Em plena democracia, não é possível que uma parlamentar tenha as suas atividades cerceadas e intimidadas”, observa. O registro de ocorrência feito leva em consideração também outras ameaças sofridas pela deputada ao longo do ano nas redes sociais. “Já mataram a Marielle, não posso subestimar qualquer ameaça e espero que nenhuma instituição democrática subestime. Não vão nos calar”, enfatiza Renata.
A ameaça sofrida por Renata não é um caso isolado. Ao longo do ano, parlamentares já com mandatos estabelecidos e recém-eleitas foram alvos de violência, como Ana Lúcia Martins, vereadora eleita de Joiville (SC), Benny Briolly, mulher trans e vereadora eleita de Niterói (RJ), Carol Dartora, vereadora eleita de Curitiba (PR) e Suéllen Rosin, prefeita eleita de Bauru (SP) foram ameaçadas logo após o resultados das eleições. As vereadoras entram para a estatística levantada pela pesquisa A violência política contra mulheres negras”, onde oito a cada 10 mulheres negras sofrem ataques virtuais.
“Dizem que eu deveria ser furada como Marielle”
Companheira de partido e hoje deputada federal, Talíria Petrone precisou recorrer à Organização das Nações Unidas frente às ameaças que recebe desde 2016, quando foi eleita vereadora em Niterói, na região metropolitana do Rio. Em duas situações, a deputada já precisou fazer uso da segurança parlamentar e em outubro de 2020, ela precisou deixar o estado por questão de segurança, ao saber que estavam planejando um atentado contra ela. A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) abriu um inquérito para investigar o planejamento do atentado e chegou ao nome de Edmilson Menezes, miliciano conhecido como ”Macaquinho”, ligado ao Escritório do Crime.
Além de exigir que a ONU cobre o governo brasileiro sobre o seu caso, Petrone também pede olhar atento ao assassinato da sua companheira de partido e amiga, Marielle Franco, também amiga de Renata, que foi executada em março de 2018. Dessa forma, a organização pode pensar em um plano de proteção a mulheres, principalmente as negras, que sofrem violência política. Talíria Petrone, Marielle Franco e Renata Souza são defensoras de direitos humanos, o que as coloca ainda mais em risco. O Brasil é o quarto país do mundo mais perigoso para quem se posiciona como defensor de direitos, segundo relatório anual publicado pela organização Frontline Defenders. Em 2019, ao menos 23 pessoas defensoras dos Direitos Humanos foram executadas no país.