Após um ano paradas, as obras do BRT Transbrasil são retomadas.
O Bus Rapid Transit, mais conhecido pela sigla BRT, que na tradução significa Transporte Rápido por Ônibus, teve sua obra retomada na Avenida Brasil. A Transbrasil, com orçamento contratual de 1,4 bilhão de reais, começou as obras em janeiro de 2015. O prazo para o término do corredor expresso era até o fim de dezembro de 2016, fim do mandato do prefeito Eduardo Paes. Acabou sendo suspensa em julho do ano passado para evitar transtornos ao trânsito durante as Olimpíadas Rio 2016. A obra deveria ter sido retomada após as Paralimpíadas, em setembro de 2016, o que não ocorreu. O corredor terá 32 quilômetros de ônibus expresso e ligará o Centro da cidade a Deodoro.
Quem circula pela Avenida Brasil deve ter reparado os engarrafamentos diários que mexem com a vida do carioca. “Talvez fosse a solução se implantado nos anos 1980, quando a cidade começou a sua consolidação, em especial a Zona Oeste. Essa seria uma demanda, mas 30 anos depois, os BRTs são obras tardias. Além de serem projetos que trouxeram remoções, em virtude de exploração imobiliária”, revela Jorge Luiz Barbosa, geógrafo e diretor de cultura do Observatório de Favelas.
A obra agora segue em frente à Praia de Ramos, com diversas máquinas retirando asfalto, operários a refazê-lo e inúmeros caminhões de materiais, todos com a inscrição “terra prometida”. Para Jorge, a obra não vai trazer nenhuma terra prometida. “A mobilidade é um direito universal, uma forma de acessar a saúde, educação e cultura. Essa extensão pela cidade não foi associada à questão da locomoção, que há 50 anos só vem aumentando o período em que o passageiro fica dentro do ônibus, hoje de duas a três horas”, detalha.
Após a conclusão, a expectativa da Prefeitura é que sejam atendidos 900 mil passageiros por dia, sendo o BRT que provavelmente terá maior demanda entre os outros três já implantados. Os quatros BRTs juntos terão 178 km de corredor para ônibus articulados. “O BRT veio para suprir a fragmentação da cidade, mas veio junto o monopólio territorial. Nasceu pela função de estar junto à copa e às olimpíadas. É um serviço público, realizado por particulares, nas mãos das concessionárias. É um transporte que, no futuro, pode ficar sucateado, como o metrô, que não supre as necessidades de integração”, prevê.
Jorge credita que para o transporte público funcionar é necessário integração. “O primeiro BRT nasceu em Curitiba, mas não deu certo, pois não acompanhou o crescimento da cidade. O transporte público precisa ter uma integração de fato, se materializar com as ciclovias, barcas e ônibus convencionais, ampliando a locomoção e oportunidade na cidade. O sistema precisa ter uma ligação modal, hoje ele funciona para si mesmo”, avalia. Ele entende que a favela precisa estar integrada ao corredor. “Quando começou o projeto da Transbrasil, não se falava em estação, a favela ficava de fora, seria um corredor ligando um ponto a outro, sem paradas. Não é só ônibus maiores e novos, é preciso ter uma ligação com as comunidades. É preciso uma cidade compartilhada e, não, fragmentada”, afirma. Ele exalta que o transporte precisa ser pensado para o ser humano e como sujeito de direitos. “Era necessário investir no sistema hidroviário, com estações no Fundão, na Praia de Ramos e Penha, relembrando os portos e investimentos no litoral norte, algo eficaz e racional”, conclui.
Os problemas nas estações do BRT que já estão em funcionamento
Para a compra do bilhete ou recarga do cartão RioCard, o passageiro utiliza a máquina ou o guichê. Nas duas opções, o usuário pode não conseguir o seu objetivo. Quem utiliza as estações reclama das máquinas sempre com defeito e, no guichê, da recarga máxima ser de apenas 10 reais – o que corresponde a duas passagens. “No dia anterior a máquina estava quebrada, aqui na estação Maré. Esse sistema está horroroso. Às vezes tenho de ir para outra estação para colocar crédito”, desabafa Maria do Socorro Sousa, moradora do Parque União.
Outro problema é a falta de orientação sobre a utilização da máquina. Eliete Santos, moradora do Rubens Vaz, não conseguiu manusear o equipamento e desistiu. “Queria colocar 40 reais, mas vou para o guichê e ficar com menos da metade. São algumas dificuldades, como a distância. Outro dia, coloquei a recarga no guichê e quando cheguei na roleta não tinha entrado, então tive de voltar para reclamar. Falta até equipamentos, antes eram duas, agora ficamos só com uma”, revela.
Na estação Santa Luzia, em Ramos, também há reclamações. “Quase todo dia uso essa estação e o serviço. O equipamento do RioCard vive com defeito e, no guichê, um valor irrisório”, detalha William Domingos, morador do Conjunto Pinheiros. Esses transtornos atrapalham a vida dos usuários. “O serviço oferecido é horrível, um sistema lento. Quero colocar mais dinheiro e não consigo. Já fiquei na mão por causa disso”, confessa Joel de Jesus, morador de Ramos.
Funcionários das estações disseram que, muitas vezes, a máquina trava por falta de retirada de valores. Outro problema apontado é o calote constante, com quebra de dispositivos e portas de vidro. Eles acreditam que o serviço fica inferior, com gastos extras com os consertos. E o prejuízo fica para os usuários que usam a roleta. “Penso que os que entram por fora, para não pagar a passagem, são pessoas com problemas financeiros. Só que o risco de serem atropelados pelo ônibus é grande”, adverte Juliana Monteiro, moradora de Nova Holanda.
A Secretaria Municipal de Transportes respondeu que já tomou conhecimento desta questão e enviará uma equipe nas estações citadas para uma vistoria e tomar medidas cabíveis para que o serviço seja prestado de forma satisfatória para os usuários.
As estações do BRT Transbrasil na Maré
A obra do BRT Transbrasil está na fase do asfaltamento, mas uma estação teve o seu início realizado e interrompido. “Entramos em contato com a concessionária sobre o abandono da estação em frente à Vila do João. Eles fizeram a limpeza do ambiente e prometeram retomar as obras. Aqui será a maior estação, a mais próxima da Linha Amarela. Acredito que, após a conclusão, o trânsito vai melhorar”, anuncia Paulinho Esperança, diretor social da Associação de Moradores da Vila do João.
Essa estação já teve uma polêmica, se terá o nome de Vila do João ou Fiocruz. “Entendo que no futuro terá de ter uma discussão sobre o nome das estações. Os presidentes de associações vão se reunir para entrar num consenso sobre os nomes a indicar das estações que funcionarão nas passarelas 6, 8, 10 e 12”, observa Paulinho.
A Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação confirmou que serão 18 passarelas/estações e que, no momento, os nomes não estão definidos.
É pau, é pedra, é o fim do caminho
Em todos os lugares da Avenida Brasil que terão uma estação, as passarelas fixas foram substituídas pelas feitas de andaimes e madeiras. “O que fizeram foi péssimo. Montaram uma passarela próxima a fios e depois maquiaram com canos separados. Outro problema é a descida íngreme, o medo é derrapar, imagine um cadeirante. A passarela balança de um lado para o outro na hora do rush. Quando passo, peço a Deus para não cair”, desabafa Raquel Mattos, professora na Praia de Ramos, sobre a passarela 12.
A nova passarela não agradou. “Está feia, ainda bem que é provisória. Apesar de que montaram em frente ao Conjunto Esperança como provisória e está até hoje”, lembra Naid do Nascimento, moradora da Praia de Ramos. As reclamações são inúmeras. “Essa passarela é horrível, não tem iluminação e as rampas são muito inclinadas, já vi idosos caírem”, denuncia Susana França, também moradora da Praia de Ramos.
A Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação informou que a principal melhoria do BRT será na acessibilidade, com transporte público e passarelas. Além disso, há melhorias no sistema de drenagem nos locais da obra.