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Em dia de audiência pública sobre ADPF das Favelas, Nova Holanda é alvo de operação policial

Foto: Reprodução

              Sete favelas registraram incursões policiais nesta terça, 28

Por Edu Carvalho e Jéssica Pires, em 28/06/2022 às 18h45.

Desde as primeiras horas da manhã desta terça-feira (28), a Maré foi alvo de operação policial na favela da Nova Holanda – foram quase 13 horas de ação ininterruptas. Coordenada pelas equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), a Subsecretaria de Inteligência da SEPM e do 22º BPM (Maré), a incursão teve como principal motivação, segundo nota, ‘’a captura de criminosos envolvidos com roubos de veículos e cargas, além de retirar barricadas das vias da região e a captação de dados de inteligência’’ e deixou mais uma vez danos para os moradores da região.

Nas ruas e redes sociais, moradores relataram apreensão desde a madrugada, indicando a circulação de veículos blindados, além do sobrevoo de um helicóptero da Polícia. No período da tarde a ação se estendeu para o Parque União. Ainda na primeira parte do dia, dois homens foram mortos na operação. Um deles foi socorrido pelos próprios moradores.  

Segundo coleta de atendimentos feitas pelo Maré de Direitos, moradores relataram casos de tortura – ainda sem confirmação – além de agressões e invasões de domicílio. Também foram coletados depoimentos que indicavam cortes no sinal de internet. Foi notado que não havia no local a presença de ambulância para pronto-socorro, como pede a ADPF das Favelas.

Nesta tarde, uma audiência pública foi realizada no Rio de Janeiro, exigida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde a sociedade civil pôde trazer pontos à respeito do Plano de Redução da Letalidade em operações policiais apresentado pelo Estado, como determinação ADPF 635, conhecida popularmente como #ADPFdasFavelas. Na reunião, ainda que fosse esperada, não contou com a presença do governador Cláudio Castro. 

Impactos que ampliam as violências

Ao todo, 35 escolas ligadas à rede municipal de ensino foram suspensas. ‘’O atendimento aos alunos está acontecendo de forma remota.  A SME trata como prioridade a segurança de toda a comunidade escolar e a medida de suspensão das aulas é para segurança dos alunos, professores e funcionários das escolas’’, trazia o comunicado da Secretaria. 

A pasta tem como parceria um projeto junto ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, com a criação do Programa Acesso Mais Seguro, ponto focal de assistência para unidades escolares localizadas em áreas de conflito. ‘’O programa tem como objetivo mitigar riscos por meio de protocolos que são aplicados por professores, alunos e toda a comunidade escolar em situações de risco. Sempre que há uma situação de risco o protocolo é acionado’’.

A Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva suspendeu o funcionamento da unidade durante a manhã, de acordo com a Assessoria de Comunicação Social da Secretaria Municipal de Saúde.

Cerca de cinquenta crianças deixaram de participar das oficinas de arte educação da Lona Cultural Municipal Herbert Vianna. E 730 crianças, adolescentes e jovens ficaram sem atividades educacionais e esportivas na ong Luta Pela Paz.

Redes da Maré emite nota sobre operação

Uma das proponentes da #ADPFDasFavelas, a ONG Redes da Maré emitiu nota sobre o episódio de hoje. No texto, a instituição cobrou respostas sobre a ação, enumerando a quantidade de favelas que, no mesmo dia, receberam a presença de agentes de segurança. ‘’Justamente hoje, estão acontecendo operações policiais em sete favelas da cidade do Rio: Morro do Dendê, Guarabú, Serrinha, Pedreira, Pavão-Pavãozinho, Cantagalo e Nova Holanda’’.

Responsável por monitorar e acompanhar permanentemente esses acontecimentos, o Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, esteve como com equipes na rua fazendo o acompanhamento dos casos, atendimento e encaminhamento das vítimas e produção de dados. ‘’O direito à vida é uma garantia fundamental e um direito inviolável, previsto no artigo 5º da Constituição Federal Brasileira. A defesa do direito à vida não é ideológica, é constitucional e imprescindível para o Estado Democrático de Direito’’.

A organização evidencia que, com a apresentação do Plano de Letalidade, outras possibilidades estão e são dispostas à sociedade, enfatizando uma real política de segurança que não criminalize o território, tampouco os moradores. ‘’A Redes da Maré acredita na importância do fortalecimento das políticas públicas para a garantia de direitos coletivos e individuais dos moradores de favela — mecanismos que ampliem espaços democráticos e de participação social e que colaborem para a redução da violência policial nesses territórios, sobretudo com a redução da letalidade violenta. Vivemos em uma sociedade democrática na qual o Estado deve garantir o bem maior que é a vida’’.


Questionada sobre as motivações da operação, bem como um pronunciamento oficial do governador Cláudio Castro, a Assessoria de Governo não respondeu às respostas enviadas pela equipe do Maré de Notícias.

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