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Em quem votou a Maré? Caveirão, santinhos e resultados locais das eleições

Propaganda de candidato ao governo do Rio de Janeiro no chão

Santinho com a imagem de Claudio Castro, governador do Rio eleito no primeiro turno, espalhado no chão das ruas da Maré | Foto: Jéssica Pires

Acompanhe o resumo do Maré de Notícias sobre o primeiro turno do pleito mais importante dos últimos anos no conjunto de favelas da Maré

Por Jéssica Pires, em 07/10/2022 às 8h

Uma semana após a tensão vivida durante mais uma operação policial, os mareenses saíram de casa para exercer seu direito democrático durante o primeiro turno das eleições de 2022 sob forte presença policial. Claudio Castro, que foi reeleito com 58,67% dos votos (4.930.288), também foi maioria na 161ª Zona Eleitoral, que abrange o conjunto de favelas da Maré, com 43,2%. O candidato do PL que inicialmente foi vice-governador e assumiu interinamente o governo do estado em 28 de agosto de 2020 em decorrência do afastamento do titular Wilson Witzel, utilizou como uma das ferramentas de campanha o Programa Cidade Integrada, e tem como uma das propostas ampliar as ações desse projeto.

Na disputa entre os presidenciáveis mais bem colocados, Lula recebeu 54,6% dos votos dos mareenses enquanto o candidato Jair Bolsonaro obteve 37,6%. Ou seja, nesse caso, o resultado específico na Maré apontou uma vantagem maior para o candidato do PT, que também venceu o primeiro turno no resultado nacional por 48,4% X 43,2%, o que definiu a realização do segundo turno eleitoral no próximo dia 30 de outubro.

No caso da disputa pelo Senado Federal, o candidato mais votado na Maré foi Alessandro Molon, com 27,4% dos votos. Romário, vencedor no estado do Rio, teve quase 24% dos votos mareenses. O candidato mais votado para deputado federal foi Felipe Brasileiro, que foi escolhido por 11,35% dos eleitores mareenses, mas não teve votos suficientes para chegar ao Congresso Nacional.

Caveirão durante as eleições

No dia 1 de outubro, sábado véspera do primeiro turno das eleições, a Polícia Militar do Rio de Janeiro divulgou por meio de pronunciamento do tenente-coronel Ivan Blaz o reforço do policiamento na Maré durante a eleição: “este é o maior esquema de segurança já planejado para uma eleição”, destacou o porta-voz da polícia. Veículos blindados e homens da PM puderam ser vistos em diversos pontos da região e dentro das próprias seções eleitorais. A presença incomum das forças policiais nas favelas da Maré durante as eleições gerou curiosidade dos moradores que fizeram vídeos que circularam rapidamente nas redes sociais.

O Rio registrou 3 das 4 chacinas mais letais da história durante o atual governo. Foram 72 mortos nessas três operações, segundo dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF). A segunda-feira anterior às eleições, dia 26 de setembro, também foi marcada por uma operação policial que deixou mortos, feridos e diversas violências e violações para a Maré.

Mareenses aglomerados durante a passagem de um caveirão
Mareenses aglomerados durante a passagem de um caveirão; momento ocorreu seis dias antes das eleições | Foto: Pedro Prado

“É em alguma medida espantoso que um governador que está a frente de uma gestão pública que produziu em aproximadamente 1 ano e meio, 3 das operações policiais mais letais da história do RJ tenha sido bem votado”, comenta Flávia Oliveira, colunista do jornal O Globo, comentarista do programa Em Pauta e do Jornal das Dez desde junho de 2020, além da rádio CBN.

 Para a jornalista, isso pode ter haver com a perspectiva de que a segurança pública é vista por boa parte da população como um ciclo repetitivo do qual não há saída. “A esquerda não conseguiu dialogar, propor e convencer a sociedade de que tem um plano para a segurança pública”, opina. 

A estreiteza do debate e a composição do novo Congresso Nacional são desafios para a discussão de outros modelos de políticas de segurança pública para Flávia: “Vai ser preciso que um novo Governo Federal assuma em alguma medida esse debate, algum protagonismo, uma articulação com os estados na direção de operações e contextos de investigações policiais fora dos territórios, que impeça a chegada de drogas e armas”.

Representatividade 

Renata Sousa, cria da Maré, feminista negra, defensora dos direitos humanos foi a mulher candidata à deputada estadual mais votada do estado do Rio de Janeiro com 174.132 votos. Destes, 5.249 votos foram de eleitores mareenses.  

Outras importantes candidaturas faveladas eleitas indicam maior representatividade das questões e desafios dos territórios de favela, como Benedita da Silva, nascida no Chapéu Mangueira, Zona Sul, foi eleita deputada federal com a maior votação de suas candidaturas, e Dani Monteiro, do São Carlos, foi reeleita como deputada estadual.

A abstenção dos votos na Maré foi de 24%, superando a média nacional, mas ficando abaixo da taxa de 32,79% de eleitores no estado (1.590.879 pessoas não exerceram o direito de voto no RJ). 

Campanhas 

O descuido com o meio ambiente por parte de algumas campanhas pôde ser percebido por moradores desde o início da corrida eleitoral. Porém, os dias antecedentes ao fim de semana das eleições escancarou esse modo antigo e pouco profundo de comunicação e publicidade dos candidatos e legendas. Recebemos algumas imagens e relatos de moradores e em uma rápida ronda, ainda nesta quinta-feira, 4 dias depois das eleições, muito papel ainda podia ser visto nas ruas das favelas.

Sujeira espalhada nas ruas da Maré | Foto: Gabi Lino
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