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Especial saúde mental: juventude mareense também precisa de cuidados

RAP da saúde tem 20 jovens que aprendem e multiplicam informações. | Foto: Affonso Dalua

Thais Cavalcanti

Maré de Notícias #152 – setembro de 2023

Cada mudança ou desafio enfrentado tem um impacto importante na vida do jovem morador de favela. A Rede de Jovens Promotores da Saúde (RAP da Saúde), é um projeto da Secretaria Municipal de Saúde que contribui positivamente no apoio a essa transição. 

Mais do que pensar ações de conscientização para meses como o Setembro Amarelo, o RAP é uma ponte que liga a unidade de saúde ao jovem, tornando-o protagonista no próprio território.

Micael Dutra é morador do Piscinão de Ramos e professor do grupo Alakazam. Ele conheceu o RAP ainda criança, participando das rodas de leitura oferecidas pelo Centro Municipal de Saúde Américo Veloso.

 “Quando cresci, entrei na equipe como multiplicador e depois, virei dinamizador. Mesmo sendo jovem, é importante ter uma formação na promoção de saúde, num espaço onde você é tratado como responsável pelas atividades. Ali, aprendi que saúde não significa ausência de doença. Antes de entrar na Rede, eu não me conhecia totalmente. Saber quem eu sou também é uma forma de saúde”, explica.

Milena Dutra, moradora da Roquete Pinto, é articuladora territorial. | Foto: Affonso Dalua

Milena Dutra, moradora da Roquete Pinto e articuladora territorial, foi cria do RAP assim como seu primo Micael. Hoje ela é apoiadora do grupo. 

“A ideia do RAP é a gente ser capacitado nas instituições da favela e dar informações de saúde para jovens em vulnerabilidade, seja por meio da música, da aula de teatro ou de uma conversa”, diz.

 Hoje, 20 jovens selecionados aprendem sobre diversos temas em saúde e multiplicam as informações para mais adolescentes em seus territórios. Milena reforça que “mais do que multiplicar, a ideia é que o jovem entenda o que é saúde, que a gente precisa se cuidar, se amar e como isso pode melhorar a consciência no dia a dia”.

Stallone Abrantes é psicólogo e atende jovens na ONG Luta Pela Paz (LPP) na Maré há quase cinco anos. Ele conta como o vínculo esportivo pode ser um recurso importante para o jovem “colocar para fora” o que está passando. Segundo ele, a família nem sempre é a primeira a saber.

“Garantir a saúde mental envolve o jovem ter emprego e alimentação, e acesso à saúde, ao lazer e às práticas comunitárias. Por exemplo, vi um jovem descobrir que podia perder a visão, um problema físico. Isso o deixou com medo de não conseguir atendimento hospitalar, desencadeando uma questão de saúde mental. Ao fortalecer esses sistemas, vamos diminuir a possibilidade de adoecimento no campo psicológico”, explica Stallone.

Você sabia? 

O atendimento público é o principal meio através do qual os mareenses obtêm cuidados psicológicos e psicossociais, da primeira consulta ao acesso a medicamentos gratuitos. 

No Sistema Único de Saúde (SUS) existe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), com serviços e espaços que dão apoio integral e gratuito para quem precisa de atendimento psicológico. A rede abrange os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura, as Unidades de Acolhimento (UAs) e os leitos de atenção integral (em hospitais gerais e nos CAPS III).

Trabalhando junto à RAPS, estão organizações locais que contribuem para a redução de danos da população mais vulnerável. Vanda Canuto é cria da Vila do Pinheiro e coordenadora do Espaço Normal — Espaço de Referência sobre Drogas na Maré.

Esse equipamento da Redes da Maré recebe diariamente cem pessoas, em média, e tem como objetivo ser um espaço de convivência (pessoas que estão em situação de rua e que têm questões de saúde mental são acompanhadas por outros equipamentos públicos de saúde).

O espaço não oferece assistência psicológica e funciona na verdade como ponte. A ideia é ampliar os cuidados através do exercício dos direitos da população invisibilizada dentro e fora da Maré, e dar voz e lugar a quem não tem acesso à saúde. 

Vanda conta que “tem pessoas que precisam ser encaminhadas para o CAPs. Já outras, a gente entende que a saúde mental envolve a questão socioeconômica, ou que o sofrimento delas é causado pela falta de políticas públicas. Com um atendimento voltado para educação, arte, cultura, trabalho e renda, conseguimos fazer com que a pessoa consiga lidar com o problema de outra forma.”

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