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Especialistas e profissionais de saúde sintetizam, em depoimento, o que viram do primeiro ano da pandemia

O retrato do primeiro ano da pandemia sintetizado por quem esteve diariamente na linha de frente

Por Edu Carvalho em 11/03/2020 às 6h40, editado por Daniele Moura

Para entendermos exatamente o que acontecia a partir de 11 de março de 2020, precisou que toda a população global voltasse sua atenção para profissionais da saúde nas mais diferentes vertentes. É na voz destes profissionais que, todos os dias, descobrimos os passos de uma pandemia distante de chegar ao fim. Como forma de homenageá-los, reunimos depoimentos exclusivos e publicados ao longo dos últimos doses meses. 

“Falo com segurança e propriedade: não tenham medo”.

Enfermeira Mônica Calazans, primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 no Brasil.

‘’É um momento único na história do mundo moderno, em termos de saúde pública. Ao mesmo tempo que é desafiador participar disso, é uma coisa inédita na carreira. É um momento de mais dedicação, envolvimento, pessoalmente falando. Me dediquei muito a imunizações, a infectologia, então participar ativamente desse processo, em todas as esferas onde atuo, é um desafio, uma honra, ao mesmo tempo de colaborar de alguma maneira. Você sentir seu esforço, seu estudo, sua dedicação profissional, com algum resultado importando no andar das coisas. A beira dos dois mil mortos, é um misto de enfrentamento de uma guerra, de que você está na frente de batalha, ativamente. 
Poucas horas de sono, muito estudo, muita leitura, muitas reuniões, muitas decisões, mas com coragem e disposição para contribuir’’.

Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

’Essa pandemia me pegou completamente desprevenido. Não acreditava como ela seria, e nesse momento, tenho alguma ideia do que ela está sendo, e de que não terminará tão cedo. Vamos sofrer muito e vamos ter ainda muitas mortes antes de conseguir chegar a uma imunidade. Infelizmente, tem muitas surpresas pela frente. Mas tem algumas coisas que acho que foram positivas: descobrir que vivemos em um mundo extremamente desigual, e que a desigualdade faz mal para civilização. Espero que a gente consiga, pelo menos, não esquecer disso. E no momento seguinte, após estarmos esperando a próxima pandemia, a gente resolva diminuir a desigualdade. Ela só diminuirá se nós quisermos. E dessa maneira, estaremos nos preparando melhor para a próxima pandemia, fruto da destruição que nós estamos preparando no mundo”.

Gonçalo Vecina Netto, médico sanitarista, professor e um dos fundadores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

‘’Estamos vivendo a maior crise sanitária dos últimos cem anos. O mundo todo. Precisamos entender as dificuldades e dores desse momento, muitas pessoas e famílias marcadas para sempre com essa pandemia. É impossível alguém que não tenha alguém próximo que perdeu para essa doença. Estamos num momento de tristeza, mas ao mesmo tempo, um momento onde consegue entender a importância da solidariedade e de pensarmos no outro. Tanto nas medidas de prevenção, como na utilização de máscaras, que é um respeito ao outro, no distanciamento físico, também num respeito ao outro. E todas as medidas que precisamos tomar nesse momento, culminando agora com a vacinação, que é uma estratégia coletiva, é uma estratégia que eu preciso pensar não só em mim, mas nas pessoas que estão próximas. E a vacina é a única coisa que pode nos tirar dessa pandemia. E nós precisamos nos unir para que o maior número de pessoas possa ser vacinada no Brasil, além de todas as dificuldades, o ano de 2021 ainda vai trazer desafios, com essa campanha tão lenta de vacinação até aqui. Precisamos pressionar para que o governo faça novos acordos, e tenhamos uma ampliação na compra de vacinas e possamos ampliar a oferta de vacinas para nossa população. É isso que a gente espera”. 

Ethel Maciel, enfermeira, epidemiologista, pesquisadora do CNPq e presidente da Rede Tuberculose, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

‘’Foi muito ruim, mas infelizmente vai piorar muito’’

Miguel Nicolelis, neurocientista, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

‘’De início, não imaginava que poderíamos chegar a esse ponto. O fortalecimento de políticas anti-científicas, a utilização de medicamentos ineficazes, entre outros fatores, desencadeou uma falta de esperança e de que realmente o pior estava ainda por vir. Observo que muitos profissionais estão desgastados, com insônia, medo, depressão e estresse. Muitos estão desistindo de sua carreira profissional e com sobrecarga de trabalho, mudando até de profissão’’.

Jonathan Vicente, biomédico, mestrando em Medicina Preventiva/Saúde Coletiva na Universidade de São Paulo-USP, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

‘’Informação sobre ciência errada tem grande potencial de prejuízos à sociedade, mesmo se corrigirmos depois. Ao mesmo tempo, o público exige dos cientistas e de nós comunicadores respostas rápidas e completas que nem sempre temos. Outro desafio são as fake news, também carregadas de ideologia. Informar é um problema menor, fizemos isso a vida toda. Já lidar com desinformação é mais complexo: não adianta só encher as pessoas de informação. Estamos aprendendo’’.

Luiza Caires, jornalista, editora de Ciências do Jornal da USP. Mestre em Comunicação e divulgadora científica, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

‘’O Brasil infelizmente ocupa posição de destaque mundial no evento histórico pandemia de Covid-19, não só por incompetência, mas também por ação deliberada do governo Bolsonaro’’.

Daniel Dourado, médico e advogado sanitarista, professor e pesquisador, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

“Cuide de você e de todos! Entenda que o momento, mais do que nunca, exige um comportamento coletivo e individual responsável. As vacinas farão a diferença, mas enquanto isso, pessoas vacinadas ou não precisam manter o distanciamento social e o uso de máscaras e buscar ficar mais em casa, saindo apenas quando essencial.”

Isabella Ballalai, Vice- Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

“As vacinas sozinhas não são a solução para a pandemia! Para vencermos a COVID-19 use  máscaras, lave as mãos , mantenha distância de 1, 2 metros e evite aglomerações.”

Juarez Cunha, Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

“Não podemos pensar somente nos nossos familiares e amigos e sim no coletivo. Quando ficamos doentes, usar máscara é um ato de amor. No momento atual todos devemos utilizar para o bem comum. Os meus, os seus e os nossos parentes merecem respeito. A ciência trabalha para uma melhor qualidade de vida de toda comunidade.”

Elvira Alonso Lago, médica em Gastroenterologia Pediátrica integrante dos Ensaios Clínicos Biomanguinhos/Fiocruz, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

“A vacina é  essencial para o combate à COVID-19,  mas o real controle vai depender da participação de cada um de nós.”

Maria de Lourdes de Sousa Maia, coordenadora da Assessoria Clínica (Asclin) do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos – Fiocruz), em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

“Estamos num momento difícil, que vai passar. A Ciência de qualidade é inquestionável, e nos ajudará a sair dessa.”

Eliane Matos dos Santos, professora titular da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em depoimento exclusivo ao Maré de Notícias

  “Próximos dias da pandemia serão horríveis”

Drauzio Varella, no último domingo, no Fantástico, da TV Globo

 ‘Teremos o março mais triste de nossas vidas’

Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fiocruz, em entrevista à BBC News Brasil

“A ciência já fez sua parte: há estudos e planos sobre lockdown e vacina. A bola agora está com a política. E o governo federal nos abandonou.”

Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, bióloga e divulgadora científica brasileira
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