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F20 lança recomendações que pautam a perspectiva favelada em discussão global

Foto: Fabricio Souza

Centenas de pessoas participaram das programações do F20 no dia Dia da Favela

Thaynara Santos

Na última segunda-feira (4), o teleférico do Adeus, no Complexo do Alemão, foi o cenário escolhido para o F20 (Favela 20), evento promovido para o lançamento do ‘communiqué’, relatório feito por e para favelados para o G20. Nele, estão reunidas recomendações políticas da favela relacionados à educação e saúde de qualidade, segurança alimentar, acesso à água potável e saneamento básico, fortalecimento das lideranças comunitárias, combate à violência de gênero e LGBTQIAP+ e outros temas. O documento será entregue para os chefes de Estado na Cúpula Social do G20, que acontecerá entre os dias 14 a 16 de novembro, no centro do Rio.

Sobre o F20 no CPX

De 09h às 16h, centenas de pessoas participaram das programações do F20. A data escolhida também simboliza a importância do encontro. No dia 04 de novembro é celebrado o Dia da Favela. Na parte da manhã, representantes do governo e do G20 discursaram sobre a importância do evento e assinaram um exemplar do ‘communiqué’.

O Secretário Nacional de Juventude, Ronald Sorriso, foi um dos muitos que estiveram presentes. “Nós precisamos estar abertos a todo tipo de sugestão, todo tipo de crítica, para poder crescer enquanto governo e cumprir aquela meta, aquele objetivo que é fundamental, que é transformar a vida das pessoas. E quando a gente recebe um debate global, como a gente fala de um Brasil sem as favelas? Como a gente fala de uma cidade do Rio de Janeiro que recebe esse evento que tem quase 7 milhões de habitantes e cerca de 2,5 milhões residindo em favelas. Precisamos, a partir do significado que a nossa população construiu, dessa favela como solução e como resistência. Esse povo que consegue construir, diante de todas as adversidades, um futuro e um presente cada vez mais feliz. Viva a favela, viva a juventude, viva o povo brasileiro!”, disse.

As apresentações artísticas também tiveram vez. A poetisa Anna Sol e a cantora Kaê Guajajara foram as artistas convidadas para o evento. No painel I ‘F20: desafios locais, respostas globais’, os convocados foram Douglas Campos (BemTV), André Guterre (Rolé Favela Geek), Adriana Soterro (Fiocruz/ENSP) e Thainar Xavier (Sebrae Rio).

Quem mediou a conversa deste painel foi Rene Silva, presidente da Voz das Comunidades e cofundador do F20, que explicou o processo de construção do evento e das recomendações para o G20. “Quando falamos sobre a construção do F20, falamos sobre um processo colaborativo e muito inclusivo. Dialogamos não só com as organizações do Rio de Janeiro, mas também com toda a sociedade civil e governantes do mundo inteiro. Quando a gente propôs esse evento, quando decidimos fazer o F20, pensamos em como dialogar com o poder público, como chegar nas autoridades, de que maneira poderiam levar em consideração as nossas recomendações. Entendemos que é necessário que a favela, de maneira geral, participe desse processo de decisão. A gente não está aqui hoje, só para ser ouvido. A gente está aqui para participar dessa construção, para participar do futuro do nosso país, do futuro do nosso Estado, da nossa cidade, do futuro do mundo. Isso depende de cada um de nós. Depende de cada um de nós individualmente e depende de cada um de nós coletivamente também”, diz.

O painel II ‘Financiando o futuro das favelas: onde estamos e para onde vamos’ foi mediado por José Henriques Jr. (gerente de projetos na Trilha de Finanças do G20). Quem integrou a mesa foi a Mariana Davi (coordenadora de projeto na Trilha de Finanças do G20), Lúcia Cabral (fundadora do Educap), Carlos Pignatari (impacto positivo – AMBEV), Andressa Dutra (coordenadora do Instituto Mirindiba de Ação Climática Popular) e Anselmo Leal (diretor-presidente da Águas do Rio).

Lúcia Cabral, liderança favelada no Complexo do Alemão e fundadora do Educap, falou sobre as dificuldades enfrentadas por ela e por muitas ONG’s faveladas quando o assunto é dinheiro. “Eu, como gestora de ONG, sou gestora e eu mesmo me financio, né? Quando se tem oportunidade de financiamento, existem várias barreiras construídas no meio do caminho. O que chega até a gente é o desafio de colocar um projeto no edital. Pedem tanta coisa, parece que criam barreiras para que a gente não chegue até esse financiamento. Por exemplo, tem um edital aí rolando, o que pedem de documento do que você fez às vezes a 10 anos atrás… a gente tem que provar que a gente faz, e a gente faz sem ter dinheiro. Pergunta se alguém está ganhando dinheiro ali. Ninguém está ganhando, eu preciso trabalhar para manter minha ONG. Será que ninguém enxerga isso?”.

Lúcia também traz um pequeno relato sobre a construção do fórum favelado. “O importante do F20 é porque a gente construiu o documento junto e que a gente fala dessa desigualdade social. Eu espero que o G20 e o F20 encontrem e vejam na favela realmente o potencial que a gente tem. A gente está aqui, eu acho que é para a nossa voz ecoar. É para ecoar em todo mundo, no G20, em todos os movimentos mundiais. A gente precisa acreditar que o Brasil é um país rico, mas ele é explorado por pequenos que assumem esse poder e a gente, como povo, tem que entender que realmente o poder é humano do povo. Porque se a gente não lutar e não pôr a cara para falar, para exigir nossos direitos, a gente vai continuar pequeno, sempre nesses pequenos espaços, falando para nós mesmos”, relata.

O que é G20 e G20 Social?

O G20 é um fórum de alcance internacional que discute temas relacionados à economia,  saúde, sociedade e outros desafios globais, além de reunir os líderes políticos dos países com as maiores economias do mundo (19 países além da União Africana e da União Europeia). Neste ano, o evento será sediado pelo Brasil e acontecerá entre os dias 18 e 19 de novembro, também no Rio de Janeiro. Já o G20 Social é uma plataforma criada para estimular a participação da sociedade civil (as instituições que não fazem parte do Estado) do G20.

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