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Familiares dão continuidade ao Memorial das Vítimas da Violência Armada na Maré

Parentes de vítimas letais da violência do Estado colocam emoção em homenagem nos azulejos.

Parentes das vítimas imortalizaram suas emoções em azulejos que serão implantados na ampliação do Memorial em 2025

No coração de Berlim, na Alemanha, encontra-se o Memorial do Holocausto, dedicado aos seis milhões de judeus mortos durante o regime nazista. Já no Centro de Medellín, na Colômbia, é instalado o Museu Casa da Memória, que lembra os mais de 200 mil mortos provocados por conflito armado. Na Maré, tem o Memorial das Vítimas da Violência Armada, uma homenagem às vítimas letais da violência de Estado no território. Na tarde da última sexta-feira (8/11) familiares das vítimas estiveram presentes na Areninha Cultural Herbert Vianna para dar continuidade ao memorial para 2025. 

A homenagem começou com uma oficina livre de azulejaria, onde os parentes das vítimas imortalizaram suas emoções. “Um lado legal é ver participantes que estão retornando. Elas têm um desejo sobre-humano de deixar a homenagem ao seu ente, registrar a dor e também o amor. O memorial tem o objetivo de deixar vivo essas homenagens e fortalecer essa rede de amor”, lembra Laura Taves, coordenadora do Projeto Azulejaria, da Redes da Maré. Os azulejos confeccionados serão implantados na ampliação do Memorial, para 2025. 

O encontrou lembrou que as vítimas não são números, mas que tem diversas histórias impactadas pelo não direito à Segurança Pública que é vivenciado, historicamente, por moradores de favelas. “Não podemos naturalizar as mortes. A Constituição de 1988 afirma que todos somos iguais perante a lei e temos direitos. Essa ferramenta nos faz lutar por uma Maré que queremos e não aceitar as violações. O memorial 2025 mostra a luta diária dessas mães. Queremos pegar essa energia para lutar pela reparação coletiva. Hoje temos aqui o tom da esperança e que a mobilização é possível”, comenta Liliane Santos, analista de incidência política, da Redes da Maré.

“Hoje podemos nos expressar realmente sobre a nossa luta por meio do azulejo”

Maria da Conceição

No evento ocorreu uma roda de conversa sobre o direito à memória, ao luto e justiça, com um espaço de acolhimento para os familiares das vítimas. “O memorial é o local da saudade e de mostrar algo que não queríamos que tivesse acontecido. Esse encontro mostra afeto e luta de uma rede de energia. Cada um tem a sua história e merece atenção. Queremos escutar e propor uma contrapartida, de mostrar que essas pessoas não são apenas um CPF e que não estão só. As pessoas mortas são seres humanos, temos que potencializar e trazer isso à tona”, afirma Lucas Lima, psicólogo social do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré.

Um luto que se transforma em luta

Os trabalhos foram cercados por emoção, pelo encontro dos familiares das vítimas, que demonstraram amor a quem não se encontra fisicamente, mas está presente no coração. “Venho sempre participar deste memorial, essa já é a terceira vez. Sinto a dor, algo que mexe no meu emocional, a saudade do meu filho Marcos Paulo, que não está comigo há 14 anos. Se tivesse vivo estaria com 40 anos. O painel é um momento legal e algo emocionante”, diz Djanicy Conceição, moradora do Morro do Timbau. Já Maria da Conceição, membro do Coletivo Mães Enlutadas da Maré, estava construindo o memorial pela primeira vez. “É uma oportunidade de expressar a saudade do meu filho Taylor, que esse mês completa 6 anos de seu assassinato. Uma violência que não tem fim nas favelas. Hoje podemos nos expressar realmente sobre a nossa luta por meio do azulejo, colocando tudo para fora, o sofrimento de mães”, conclui. 

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O evento fez parte da programação do Novembro Negro, da Casa Preta da Maré, em conjunto com o Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça. A cerimônia, além da participação de moradores da Maré, contou com a presença de Fabiana Silva, pedagoga e ouvidora-geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro. 

O memorial fica localizado próximo a Areninha Cultural Herbert Vianna, na Rua Ivanildo Alves, s/nº, Nova Maré.

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