Coletivos, projetos e ONGs de favelas e periferias de todo o Rio de Janeiro aderem à campanha #Covid19NasFavelas, para levar informação sobre a pandemia e ajudar no sustento das famílias.
Maré de Notícias #112 – maio de 2020
Flávia Veloso
Antes das esferas municipal, estadual e federal do Estado pensarem ações diretamente para as favelas e periferias do Rio, as próprias comunidades perceberam que, mais uma vez, teriam de estudar e colocar em prática estratégias para ajudar as famílias que moram nestes territórios. Foram criados, então, Gabinetes de Crise locais, para atender a demandas de alimentação e higiene das populações faveladas em várias localidades. Assim, nasceram muitas campanhas nas periferias do Brasil – e não foi diferente no Rio de Janeiro.
Na Maré, a Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus, da Redes da Maré junto com instituições e parceiros, distribui cestas básicas e kits de higiene e limpeza para famílias em maior situação de vulnerabilidade das 16 favelas da Maré, além de “quentinhas”, produzidas por mulheres do projeto Maré de Sabores, da Redes da Maré, que acontece na Casa das Mulheres. A campanha terá a duração de três meses e outras frentes de atuação. No primeiro mês de trabalho, foram mais de 300 toneladas de itens doados, entre eles 7.272 cestas básicas de alimentos e kits de limpeza , além de 4.600 “quentinhas” que foram entregues para pessoas em situação de rua, da Cena de Crack, na Rua Flavia Farnese (Parque Maré), e na Avenida Brasil (na altura do Parque União). As “quentinhas” foram produzidas por mulheres do buffet Maré de Sabores, que por causa da pandemia tiveram suas rendas impactadas devido ao cancelamento dos eventos. Haverá também produção de máscaras e arrecadação de EPIs (equipamentos de proteção individual) para unidades de saúde, entre outros locais.
Já a iniciativa #Covid19NasFavelas direciona recursos para oito coletivos periféricos: Conexão Favela e Arte (Niterói), Projeto SAAF (Vila Kennedy), B.A.S.E. (Santa Cruz), Fala Akari (Acari), União Coletiva pela Zona Oeste (Santa Cruz, Paciência e Sepetiba), Movimenta Caxias, Maré 0800 (Conjunto de Favelas da Maré) e Coletivo Papo Reto (Complexo do Alemão). Com a visibilidade da #Covid19NasFavelas, outros projetos, coletivos e ONGs de favelas adotaram a hashtag (#) para chamar a atenção para outras localidades e sinalizar a importância de se pensar soluções de cuidado e prevenção para as favelas.
Essas ações despertaram a atenção de artistas, que resolveram contribuir com a causa. O cantor Belo se apresentou pelo YouTube, para arrecadar itens que foram doados aos coletivos da #Covid19NasFavelas e Ivete Sangalo fez sua live transmitida de casa, por onde arrecadou doações para diversos projetos, entre eles o “Maré Diz NÃO ao Coronavírus”, da Redes da Maré.
“Expor as principais necessidades da favela é um movimento que sempre aconteceu, principalmente em articulações de associações de moradores, coletivos, núcleos de pré-vestibular, núcleos de alfabetização (como é o Nica). Mas o mais importante de tudo isso, que está sendo de grande visibilidade, é entender que, dentro do contexto da pandemia do novo coronavírus, as favelas têm mostrado um potencial muito grande de organização e coletividade. A gente vê que a favela tem desenvolvido um potencial de articulação muito grande, e tem conseguido se organizar, dialogar com os nossos e até ampliar esse diálogo para fora”, disse Bianca Peçanha, coordenadora do pré-vestibular Núcleo Independente Comunitário de Aprendizagem (Nica Jacarezinho).
Para Nathalia Cardoso, gerente de comunicação da ONG Luta Pela Paz, na Maré, o movimento de articulação entre núcleos da favela vai gerar bons frutos para depois da pandemia: “Trabalhar em conjunto com outras organizações é juntar forças para conseguirmos apoiar os moradores em um momento ainda mais delicado. Também vai nos ajudar a ter mais sinergia para futuras ações, não relacionadas à COVID-19, mas sempre pensando em apoiar o nosso território e seus moradores.”
A união dos coletivos das favelas
Partindo da importância de uma informação correta e bem comunicada em tempos de crise, a iniciativa “Se liga no Corona”, juntou coletivos que atuam em Manguinhos e na Maré, para criar peças de comunicação para serem disseminadas nas ruas, pontos de ônibus, mototáxis e nas redes sociais como posts, gifs, cards, spots para carro de som, radionovelas e vídeos. Todo esse material tem conteúdo verificado pela Fiocruz, que criou um selo para que outros coletivos, associações, organizações e iniciativas pudessem ter o conteúdo chancelado pela Organização. Para isso, é só enviar um e-mail para seliganocorona@gmail.com, com o conteúdo proposto. Todas as peças de comunicação estão disponíveis para download no portal da Fiocruz e também no portal de notícias www.mareonline.com, para uso nas demais periferias do Brasil.
Outras frentes mareenses também estão se mobilizando não só para comunicar, mas também para arrecadar alimentos e produtos de higiene e limpeza. Depois que o isolamento social foi instaurado, muitos moradores perderam seus postos de trabalho ou não podem abrir seu comércio e não conseguem sustentar suas casas. Entretanto, é importante frisar a necessidade do isolamento para tentar frear o contágio do coronavírus e evitar, ao máximo, o caos no sistema de saúde, neste momento que os casos só aumentam.
A Comunicação Integrada COVID-19 na Maré é uma iniciativa de organizações do território (Maré Vive, data_labe, Luta Pela Paz, Redes da Maré e Observatório de Favelas) e tem como objetivo unir esforços para levar informação sobre o novo coronavírus e outros questionamentos que surgem a partir da pandemia.
A Frente de Mobilização da Maré (Maré 0800, Maré Vive, Amarévê, Casulo, Roça Rio, Ceasm, Museu da Maré, ONG Pra Elas, RatoPretoStudio, LABirinto CriAtivo, Ativa Breakers Crew, Podcast Renegadus e mais 50 moradores) também está se articulando em prol dos moradores, com cartazes informativos, carros de som para conscientizar sobre a prevenção e a importância de ficar em casa, combater fake News, entre outras iniciativas. Até 11 de abril, a Frente de Mobilização da Maré conseguiu distribuir 100 cestas básicas de alimentos e produtos de higiene e limpeza, 600 luvas e 53 máscaras. Para a ação de conscientização, espalhou cinco mil cartazes em tamanho A4, 70 faixas de três metros e contratou carro de som para rodar por várias ruas. “Estamos trabalhando com rádio poste, rádio comunitária, carro de som, faixas, cartazes, além da internet. Temos de pensar que não é toda a favela que tem internet, que sabe ler, então a gente precisa sempre de um plano de comunicação que chegue a todos e todas”, disse Gizele Martins, comunicadora comunitária da Maré.
Com o aumento de casos e óbitos pelo novo coronavírus, Gizele alerta: “É de extrema importância que os moradores e moradoras fiquem em casa o máximo possível. Se tiver de ir à rua, ao mercado, à padaria, que vá de máscara, e siga todas as demais recomendações das autoridades de saúde.”
As campanhas continuam e podem receber doações pela internet, onde também fazem prestação de contas de tudo que recebem e doam. E a mensagem permanece: lavem as mãos e fiquem em casa!
Maré
- redesdamare.org.br/quemsomos/coronavirus
- frentemare.com
Jacarezinho
@nicajacarezinho (Instagram)
Complexo do Alemão
@gabinetealemao (Instagram)
Baixada, Zona Oeste e Zona Norte
covid19nasfavelas.meurio.org.br