Por Edu Carvalho, em 02/03/2021 às 20h30
Na noite em que o Brasil registra 1.726 mortes pela covid-19, maior média de óbitos em 24 horas, a Fundação Oswaldo Cruza lança um boletim extraordinário com um panorama do vírus no país.
”Pela primeira vez, desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos, de óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de SRAG, alta positividade de testes e a sobrecarga de hospitais. Esta Nota Técnica Extraordinária do Observatório Covid-19 Fiocruz apresenta um conjunto de dados, envolvendo casos, óbitos e taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no país e relativas ao SUS, observadas no dia 01 de março em contraponto àquelas divulgadas na última semana, obtidas em 22 de fevereiro de 2021, e divulgadas no último boletim. Os dados apresentados, embora alarmantes, constituem apenas a ponta de um iceberg de um patamar de intensa transmissão no país”, diz a publicação.
‘’Os dados consolidados para o país confirmam a formação de um patamar de intensa transmissão da Covid-19. Se até este momento mais de 255 mil pessoas morreram por Covid-19, em alguns casos sem acesso à assistência e ao direito à saúde previsto na Constituição Federal, nas últimas semanas foram registradas as maiores médias de óbitos por semana epidemiológica e nos dias 13 e 28 de fevereiro pela primeira vez tivemos mais de 1.200 óbitos registrados em um único dia.
Na última semana epidemiológica (21 a 27 de fevereiro) foram registrados uma média 54.000 casos e 1.200 óbitos diários por Covid-19.Pela primeira vez, desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos, de óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de SRAG, alta positividade de testes e a sobrecarga de hospitais. Esse conjunto de fatores deve ser enfrentado estrategicamente, em todos os setores do sistema de saúde, não apenas em hospitais, mas igualmente no reforço de ações de atenção primária (APS) e vigilância em saúde.
Este crescimento rápido a partir de janeiro vem conformando o pior cenário no que se refere as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos em vários estados e capitais que concentram a maior parte dos recursos de saúde e as maiores pressões populacionais e sanitárias que envolvem suas regiões metropolitanas’’.
No momento atual da pandemia estão combinados paradoxos. Por um lado os muitos avanços na Ciência, que permitem melhorar as medidas de prevenção e de controle, o diagnóstico e o tratamento dos doentes e desenvolver vacinas em curto período; por outro, as incertezas que envolvem tanto as novas variantes e o que ainda se deve conhecer sobre seus impactos nos processos de reinfecção e eficácia das vacinas, assim como o longo período de exposição da sociedade ao vírus SARS–CoV-2 e à Covid-19, com todos os seus impactos econômicos, sociais e sanitários.
Por um lado, os muitos avanços na Ciência, sendo o mais notório o desenvolvimento de
vacinas em curto período; por outro as incertezas que envolvem tanto as novas variantes e o que ainda se deve conhecer sobre seus impactos nos processos de transmissão,
reinfecção e eficácia das vacinas, assim como o longo período de exposição da sociedade ao vírus SARS-CoV-2 e à Covid-19, com todos os seus impactos econômicos, sociais e sanitários.
Estamos diante de novos desafios e de um novo patamar,exigindo a construção de uma agenda nacional para enfrentamento da pandemia, mobilizando os diferentes poderes do
Estado brasileiro (executivo, legislativo e judiciário), os diferentes níveis de governo (municipais, estaduais e federal), empresas,instituições e organizações da sociedade civil (de nível local ao nacional). Esta agenda deve combinar medidas de mitigação que devem durar até o fim da pandemia, com medidas de supressão sempre que a ocupação de leitos UTI Covid-19 estiver acima de 80%, bem como as que envolvem campanhas de comunicação para maior fortalecimento destas medidas.
Considerando que a pandemia combina uma crise sanitária e social simultaneamente, é fundamental também combinar medidas que envolvem o nosso sistema de saúde nas suas capacidades de vigilância e atenção à saúde, bem como medidas econômicas para mitigar os impactos sociais da pandemia, principalmente para os mais vulneráveis. A combinação destas medidas vem sendo apontado por diversas entidades nacionais, como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), as quais sistematizamos:
Medidas não-farmacológicas
Medidas de Mitigação
• Manutenção de todas medidas preventivas (distanciamento
físico, uso de máscaras e higiene das mãos) até que a pandemia
seja declarada encerrada.
Medidas de Supressão
• Adoção de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais, de acordo com a situação
epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região,
avaliadas semanalmente a partir de critérios técnicos como taxas
de ocupação de leitos e tendência de elevação no número de
casos e óbitos.
Estratégias de Comunicação para Ampliar Medidas de Mitigação e Supressão
• Implementação imediata de planos e campanhas de comunicação com o objetivo de esclarecer a população e reforçar a
importância das medidas de prevenção e da vacinação.
Medidas envolvendo o sistema de saúde
• Reconhecimento legal do estado de emergência sanitária e
a viabilização de recursos extraordinários para o SUS, com
aporte imediato aos Fundos Estaduais e Municipais de Saúde
para garantir a adoção de todas as medidas assistenciais necessárias ao enfrentamento da crise.
• Fortalecimento da vigilância em saúde em sua dimensão
territorial e integrada com a Atenção Primária em Saúde, objetivando as medidas de controle e atenção: detecção precoce, investigação laboratorial (incluindo a ampliação da vigilância genômica no
país), isolamento, quarentena e busca ativa de casos suspeitos e
confirmados, além de estratégias de teleconsulta.
• Ampliação da capacidade assistencial em todos os níveis,
incluindo leitos clínicos e de UTI para Covid-19 combinada com
proteção, capacitação e valorização dos profissionais de saúde.
• Aceleração da vacinação para toda a população coordenada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) do SUS.
Medidas de mitigação dos impactos sociais, sobretudo para os mais pobres e vulneráveis
• Aprovação de um Plano Nacional de Recuperação
Econômica, com retorno imediato do auxílio financeiro emergencial enquanto durar o estado de emergência, combinado
com as políticas sociais existente de proteção aos mais
pobres e vulneráveis.