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História do acesso à saúde no território da Maré

CMS da Vila do João passou por reformulação para ser um equipamento reconhecido pela população da comunidade - Foto: Gabi Lino

Primeira reportagem da série Raio X da Saúde da Maré analisa a importância das unidades de saúde do conjunto de favelas até mesmo para a unificação do território

Por Samara Oliveira

O Dia Nacional da Saúde é celebrado no dia 5 de agosto, aniversário do médico e sanitarista Oswaldo Cruz. Por isso, o Maré de Notícias traz, na edição deste mês, a primeira reportagem da série Raio X da Saúde na Maré, que pretende revelar o panorama da saúde pública nos territórios e o que é oferecido à população mareense.

Atualmente, o Conjunto de Favelas da Maré conta com 11 unidades de saúde pública: uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), quatro Clínicas da Família (CF), três Centros Municipais de Saúde (CMS), um Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II), um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil II (CAPSi II) e um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas III (CAPSad III). 

Mas essa estrutura não nasceu do dia para a noite. De acordo com pesquisas do coordenador de projetos na Redes da Maré Henrique Gomes, em 1970 foi aberta a primeira unidade de saúde da região: o pronto-socorro Américo Veloso, localizado na Praia de Ramos, território que faz limites com Olaria, o Complexo do Alemão e Bonsucesso. A unidade foi, durante um bom tempo, o que garantiu o acesso da população mareense ao direito básico à saúde. Algum tempo depois, ele se tornaria um Centro Municipal de Saúde (CMS), espaço popularmente chamado de posto de saúde.

Ainda segundo o estudo, a Maré só foi reconhecida como bairro em 1994, e foi a Vila do João, uma das 16 favelas da Maré, a primeira a receber uma unidade de saúde pública depois da regularização do território. O CMS da Vila do João foi inaugurado somente em 2007, mas Henrique garante que ele já funcionava antes: ”De 1983 a 1998, o posto estava sob gestão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Quando foi repassado à Prefeitura, ele ficou um tempo fechado, para reabrir depois como um equipamento público municipal.” 

A técnica de enfermagem Nadir Damião, que trabalha no local desde a reinauguração, teve como primeiro posto em saúde a unidade da Praia de Ramos. “Vim pra cá na campanha da poliomielite junto com outros profissionais do Américo Veloso. O trabalho lá foi importante porque treinamos a questão da proximidade com o território, com os moradores. Para mim foi marcante como minha primeira oportunidade de trabalho na área, depois de três anos formada”, relembra a profissional de 67 anos.

Nadir trabalha no posto da Vila do João desde a reinauguração, antes disso atuou na unidade da Praia de Ramos – Foto: Gabi Lino

Postinho da Vila do João

“Era uma casa muito engraçada/ não tinha teto, não tinha nada”. A letra de Vinicius de Moraes relembra um passado não muito distante do CMS da Vila do João. Há cerca de dois anos era possível ver na unidade de saúde paredes com infiltrações, um pedaço do teto desabado por conta da chuva e partes da estrutura ameaçando cair por conta do mofo.

A falta de infraestrutura, além de desestimular os profissionais, afastava também os moradores. Ao longo dos anos, o posto da Vila do João foi sendo valorizado pelos órgãos públicos, além de ser reconhecido e valorizado como um serviço importante pela própria população. 

O coordenador geral de Atenção Primária e mestre em Saúde Coletiva e Políticas Públicas Thiago Wendel relembra: “Em 2010, o Rio começou a reforma da atenção primária que foi referência para o mundo. O município do Rio de Janeiro saiu de 3% de cobertura e chegou no fim de 2016 com 70%. Ou seja, estamos falando de somente 3% da população do município do Rio que tinha acesso à saúde, sabia quem era seu médico de família e seu enfermeiro.”

O tempo fez surgir nos moradores o sentimento de pertencimento ao espaço. O aposentado Francisco Rodrigues, de 69 anos, faz acompanhamento médico no posto e consegue responder, sem pestanejar, quais são os profissionais responsáveis pelo seu atendimento. “Minha equipe médica é o Conjunto Esperança e a enfermeira que me acompanha é a dona Nadir. Hoje o atendimento está muito bom e o espaço também, tudo está muito diferente”, diz, enquanto recebe os cuidados de Nadir. 

Sobre o progresso e os problemas enfrentados recentemente, Thiago Wendel diz que “em 2016, a  população sabia quem era quem, e a Maré foi contemplada com 100% de cobertura e um acesso à saúde muito bom. Depois de 2016 sofremos o desmonte da saúde, com profissionais sendo mandados embora, salários atrasados, unidades precárias. Esse prejuízo no sistema de saúde impactou de forma geral o Rio de Janeiro e, consequentemente, a Maré”.

Onde ir quando ficar doente

A gerente do CMS da Vila do João, Patrícia Soares, explica a diferença do atendimento das unidades de saúde: “Aqui no CMS da Vila do João somos da atenção primária de saúde. Se chega algum paciente com febre ou pressão alta, por exemplo, atendemos aqui na unidade. Mas se tem uma pessoa com dor aguda na barriga, que pode ser apendicite. ou dores no peito que são indicativos de infarto, é na UPA. Lógico que não vamos deixar de acolher nenhum caso que chegue, mas há situações que fogem do nosso escopo.”

Confira quais os serviços que cada unidade de saúde oferece e aonde ir em caso de mal estar. 

Preciso de atendimento médico: onde devo ir?

Endereços

CAPS – Os Centros de Atenção Psicossocial são unidades especializadas em saúde mental, prestando atendimento interdisciplinar através de equipe multiprofissional, para a  reinserção social de pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e/ou com transtornos mentais decorrentes do uso prejudicial de álcool e/ou outras drogas. Por isso, elas são específicas para tipos de transtorno e faixas etárias atendidas

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