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Histórias de paternidade na Maré

Neste Dia dos Pais, conheça histórias que retraram a importância do cuidado, diálogo e amor na paternidade nos territórios da Maré

Andreza Paulo, Hélio Euclides, Lucas Feitoza e Maiara Carvalho*

No passado colocava-se a música na vitrola, hoje a música Pai, na voz de Fábio Junior, toca nos celulares dos filhos para homenagear os pais. É o momento de dar aquele abraço no “coroa” pelo Dia dos Pais. Neste segundo domingo de agosto, o Maré de Notícias traz a vida na visão paterna de cada um que cumpre adequadamente seu papel em diferentes territórios do Conjunto de Favelas da Maré. 

A presença, o amor e o apoio do pai são fundamentais para que os filhos se sintam seguros e possam construir uma vida plena, e isso cabe também aos cuidados cotidianos,  como levar à escola, ao médico, colocar para dormir e outros afazeres do dia a dia. Afinal, ser pai vai muito além de colocar no mundo: é indicar o caminho!

A origem da data e a representatividade na Maré

A data surgiu nos Estados Unidos em 1909, quando Sonora Louise Smart Dodd ouviu um discurso para o Dia das Mães na igreja e pensou em também homenagear seu pai, William Jackson, que criou ela e seus irmãos sozinho após a morte da sua mãe. Já no Brasil, a comemoração veio pelas mãos do publicitário Sylvio Bhering, em 1953. 

A Maré tem muitos exemplos de pais que devem ser seguidos. Imagina você com nove filhos, o mais novo com apenas dois anos de vida, sem sua mulher, que faleceu há pouco tempo. Isso aconteceu com Paulo César, conhecido como Marreco, morador da Nova Holanda, em 1982. Não foi fácil, mas com ajuda de amigos e familiares, ele criou os filhos.

Como forma de apoio, ganhou um compressor de um compadre. Com a ferramenta, pintava os carros na porta de casa e assim acompanhava o crescimento de cada uma das crianças. Os mais velhos também ajudavam e assim foi seguindo. “Eu tinha 16 anos e vi esse pai levantar a cabeça e criar todos com muito carinho. Eu avalio meu pai pelo mesmo número da casa, nota 10! Somos abençoados”, conta a filha Marília da Silva, de 60 anos. 

Sua neta, Juliana da Silva, de 29 anos, compartilha do mesmo pensamento. “Esse carinha é incrível. Sou a secretária dele, levo ele ao banco e vamos parando, pois conhece todo mundo, é uma graça. Esse Marreco é demais”, diz. Hoje Paulo está com 84 anos, sendo 54 anos de Maré e se emociona ao falar da família. “São mais de 30 netos, perdi as contas dos bisnetos, mas já sou tataravô, com cinco crianças. Sou um pai realizado, fico sem palavras. , conta. 

Na Praia de Ramos se encontra Geraldo Arnaldo, de 69 anos. Ele conta que veio do Rio Grande do Norte para encontrar o amor. Com a esposa tiveram três filhos, dois meninos e uma menina. “Com três anos, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso [o diagnóstico] uniu mais a família, tive que trabalhar muito como motorista e me esforçava para vê-los crescer”, detalha. Para o sustento da casa, aprendeu a fazer sabão utilizando o óleo usado.

Hoje tem dois netos e um bisneto. Aposentado, Geraldo se dedica ainda mais a eles e confessa que agora é só alegria. “É muito bom ser pai, mas agradeço a parceria de 43 anos com a minha esposa, pois juntos fizemos a nossa casa. Para ser pai é preciso ser responsável, ter respeito e é fundamental o entendimento de que a esposa e filhos são prioridade”, diz. O seu filho, Luciano Nascimento, afirma que tem muito orgulho do pai, que trabalhou muito pela família. “Nos deu educação e proporcionou estudo, o sentimento é de gratidão. Teve um tempo que ficou desempregado e pegou pesado no Ceasa de madrugada para não deixar faltar nada. É um guerreiro. Aprendi com ele que ser pai não é só colocar no mundo, é preciso ter compromisso, afeto, amor e carinho. Até hoje ele está de prontidão, me ajuda no meu comércio”, conclui.

Diálogo e parceria são a chave

É comum que a figura paterna seja vista, muitas vezes, como símbolo de dureza para os filhos. No entanto, o amor e o diálogo são ferramentas essenciais para fortalecer a relação e abrir espaço para o companheirismo. Foi desta forma que Jorge Araújo da Silva, de 57 anos, morador da Vila dos Pinheiros, decidiu criar suas três filhas: Thais de 33 anos, Eduarda de 18 e Manuella de 7. A primeira filha, ele conta que não esteve tão presente na infância dela, por trabalhar muito. No entanto, a pequena Manu, de 7 anos, diz que ele é totalmente participativo na criação.

O militar aposentado, e casado com Monia Medeiros há quase 27 anos,  explica que na sua casa não existem comandantes, mas sim, o diálogo. “Às vezes tem algo errado acontecendo, a gente senta e conversa e um apoia o outro”, comenta. Ele diz que mesmo sendo adulto, sente falta do seu pai. E que por saber a falta que faz a presença paterna, busca ser um bom pai. 

Para os novos papais, Araújo aconselha estar presente na vida dos filhos, ser leal à família e compartilhar as tarefas de casa. “Sempre amar os filhos, não pode fazer a esposa de escrava, tem que ajudar em casa […] os filhos tem que levar para passear, brincar junto, se não puder sair, senta pelo menos na calçada, ou na sala. A criança vai gostar”, completa. Jorge conta que mesmo tendo sido pai aos cinquenta, não vê diferença, e diz que ainda gostaria de ter outro filho. Agora, já tem três netos e participa da vida deles.   

Outro pai que também mostra o orgulho pela paternidade é Ricardo Gonçalves, de 42 anos, borracheiro morador da Vila do João, pai de Jeniffer de 15 anos e Luís Felipe, um bebê de 1 mês. Ele conta que pais são tão importantes quanto às mães. “Ser pai é maravilhoso, muito bom. Amo os dois, o mesmo amor que tenho por ela [a filha], eu tenho por ele.”, comenta. 

Além do ensinar: ser pai também é aprender

Uesdley Pitanga, de 42 anos, é pai de William, um menino de 8 anos diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e junto com a mãe, Eliane, moram no Parque União. Ele expressa com emoção a alegria e a gratidão de ser pai. A paternidade foi um marco em sua vida, e desde os primeiros momentos, ele se dedicou a compreender e cuidar do filho: “Eu sempre quis ser pai, e a chegada do William foi muito gratificante. Participei do parto, cortei o cordão umbilical e foi uma alegria que não tem como mensurar”, conta Uesdley.

A jornada como pai de um menino neurodiverso tem sido marcada por aprendizado constante. Ele busca informações, participa de terapias e acompanha de perto o desenvolvimento de William. “Aprendi e estou aprendendo, as terapias têm nos ajudado bastante”, revela o pai e destaca a importância das orientações dos médicos: “Os profissionais sempre falam para dar o máximo de independência a ele, para fazer suas coisas cotidianas e eu acredito que é fundamental incentivar a autonomia do William, mesmo que isso exija mais paciência e esforço da gente.” 

A celebração das pequenas conquistas também é um momento de grande alegria para a família que vibra em cada avanço na escola ou na fonoaudióloga. Mas Uesdley reforça que o mais importante é o vínculo afetivo do dia-a-dia: “Não sei o que mais amo, se é a alegria ou o abraço dele”, fala orgulhoso.

Esses pais são exemplos da importância do papel paterno no desenvolvimento dos filhos, desde o sustento aos cuidados cotidianos. Ser pai é ser presente e participativo na construção social e subjetiva de cada um dos filhos.

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