Ícone do site Maré de Notícias Online | Portal de notícias da Maré

Hospital de Bonsucesso sofre com anos de descaso e agora vive nova gestão

Empresa estatal pública do Rio Grande do Sul inicia gestão do HFB | Foto: Hélio Euclides/Maré de Notícias

O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) é formado por um conjunto de hospitais públicos federais

Uma passarela na Avenida Brasil separa a Maré do Hospital Federal de Bonsucesso. Pela proximidade, a grande maioria dos mareenses nasceu nesta unidade de saúde. Essa população conta com nostalgia o tempo de glória desse hospital, referência em várias especialidades de média e alta complexidade. De alguns anos para cá, muita coisa mudou. Os leitos foram fechando, a emergência encerrou atividade e até um prédio deixou de funcionar após incêndio. A solução apresentada pelo Ministério da Saúde foi a terceirização dos serviços, o que não agradou os funcionários estatutários. 

Dentre os que nasceram no hospital de Bonsucesso, uma é Ana Cláudia Oliveira, moradora da Nova Holanda, que nasceu em 1973 e conta o fato com orgulho. “É um lugar de referência para diversas especialidades. Meu tio se operou lá, deu tudo certo. Já meu sobrinho que nasceu em 1999, a sua mãe não foi tão bem atendida. Teve que ficar numa cadeira até a liberação de um leito. Não sei como esse hospital chegou nesse ponto, se as verbas não chegaram ou foram desviadas”, questiona. 

O hospital é composto por seis prédios, sendo um complexo hospitalar com mais de 42.242m2. Apesar do tamanho, o hospital não lembra os tempos áureos, quando tinha 412 leitos. Os mais antigos moradores da Maré, ao falar do hospital, vão mencionar que nasceram ou se trataram no Iapetec. Mas o que significa isso? A explicação vem lá da sua inauguração em 1948, com o nome de Hospital General do Nascimento Vargas, sobre administração do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em Transportes e Cargas (Iapetec). 

Depois disso, tiveram diversas mudanças na gestão, na década de 1960 passou para o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Já nos anos de 1970 passa para o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Na década de 1990, o hospital é integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e tem a inauguração do prédio de ambulatório. Uma outra alteração é em relação ao nome, que depois de 2007, deixa de ser Hospital Geral de Bonsucesso para ser denominado de Hospital Federal de Bonsucesso (HFB).

O hospital mostrou o seu lado negativo na imprensa em janeiro de 2019, quando a farmacêutica Luana Camargo, então diretora da unidade foi exonerada por promover festas, sendo um dos eventos no valor de R$ 156 mil, dinheiro doado por empresas que prestavam serviços à unidade. Enquanto isso, pacientes reclamavam da falta de leitos e remédios. O pior aconteceu no dia 27 de outubro de 2020, quando um incêndio atingiu o prédio 1 do hospital, deixando vítimas fatais. A partir daí o hospital fechou a emergência. Antes disso, em 23 de agosto de 2012, o Maré de Notícias divulgou ato que servidores do HFB realizaram por aumento salarial, melhores condições de trabalho e contra a privatização da saúde pública. Com carro de som, faixas e apitos, o protesto chegou a fechar a pista lateral da Avenida Brasil por quase uma hora.

Uma moradora da Baixa do Sapateiro, que preferiu não se identificar por receio de represália, já que tem familiares como pacientes do HFB, já teve momentos bons e ruins na unidade. “Para mim é referência no seu quadro de médicos, minha filha sempre foi bem atendida e cuidada. Meu segundo filho nasceu no prédio da maternidade, também fui bem atendida. Entretanto, minha filha faz acompanhamento de alergia, e passou meses sem a injeção de tratamento, e isso fez regredir o seu quadro alérgico, não por culpa dos médicos, mas sim da área administrativa do hospital”, comenta. 

Para explicar sobre a nova gestão do HFB, o Maré de Notícias entrou em contato com o Ministério da Saúde, que declarou que demandas referentes ao hospital deveriam ser encaminhadas diretamente para o Grupo Hospitalar Conceição (GHC).

Uma gestão com sotaque gaúcho 

Após anos de sucateamento do HFB, o Ministério da Saúde precisava tomar uma decisão para o resgate na qualidade do funcionamento. Para isso, escolheu o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), empresa estatal pública do Rio Grande do Sul, para fazer a gestão do HFB. A meta é que em 90 dias ocorra a ampliação do quadro funcional, a abertura da emergência e a reabertura de 210 leitos e centro cirúrgico. Além disso, algumas obras de infraestrutura, serão realizados reparos hidráulicos e no sistema elétrico da subestação.

A gestão começou no dia 19 de outubro, quatro dias depois, pois um grupo de servidores fizeram um bloqueio na porta da unidade e impediu que a nova gestão entrasse no HFB. Para o médico Júlio Noronha, presidente do corpo clínico do hospital e diretor do Sindicato dos Médicos RJ, essa forma de resolver o problema do HFB é superficial. “O hospital ligado ao Ministério da Saúde funcionava. Os números provam isso, com as 115 mil consultas ambulatoriais realizadas de janeiro a setembro de 2024. Também aconteceram mais de 3.800 cirurgias de média e alta complexidades e 104 transplantes renais, nesse período. Isso para desmistificar essa história de que não estava funcionando”, explica.

Noronha acrescenta que os leitos estavam fechados por falta de recursos humanos e a obra da subestação. “Desde março de 2023 a ministra sabia que o HFB e outras seis unidades federais passavam por problemas e ela não fez nada na questão de pessoal, obras e nem fortalecendo os almoxarifados. Mas subitamente o ministério privatiza, entregando o hospital para um grupo de outro estado. Vieram sem fazer um intercâmbio com os funcionários, sem conhecer o hospital. Querem abrir na marra a emergência e 18 leitos da cardiologia, uma trapalhada, pois só pode ocorrer isso com a solução da subestação, mas estão querendo prestar conta para a opinião pública”, acrescenta.

“O que temos medo é pelo grupo desconhecer o hospital e acabar encerrando serviço, como as 35 especialidades pediátricas, que é um santuário. O ministério pagou 54 milhões para o Grupo Conceição para fazer o diagnóstico do hospital, mas fizemos isso lá atrás e de graça, mas não foi aproveitado. A ministra não ouviu os conselhos de saúde, tanto na esfera municipal, quanto na estadual e nacional. Os três pediram a suspensão do contrato, por não haver um estudo técnico. Prometem 200 novos leitos, mas tem que ter anestesista, intensivista, clínicos e patologistas, se não tiver esses profissionais é tudo cascata. Hoje piorou, pois estão destruídos a estrutura do hospital, mudando as pessoas de lugar. Isso ocorre, porque, a Nísia (Trindade) nunca pisou no hospital”, conclui. 

A reestruturação em 90 dias

O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) é formado por um conjunto de hospitais públicos federais. O GHC é uma empresa pública, com personalidade de direito privado, sob controle acionário integral da União. É uma entidade da Administração Pública Federal Indireta, vinculada ao Ministério da Saúde, que é constituída sob a forma de sociedade anônima, que possui interesse e utilidade pública, tendo o fim exclusivo de, no âmbito do SUS, planejar, gerir, desenvolver e executar ações e serviços de saúde, inclusive com a manutenção de estabelecimentos hospitalares.

O Ministério da Saúde deu ao GHC um prazo de 90 dias para a execução das primeiras ações de reestruturação do HFB. Para o grupo é um momento de transição, de entender a instituição e a partir da experiência em Porto Alegre, devolver à população um hospital com toda a potência. “Queremos uma troca cultural com o Rio de Janeiro, qualificar esse atendimento e disponibilizar a emergência e os leitos, sendo 100% SUS. O hospital tem uma estrutura de excelência, mas que não funciona com sua carga total. Temos um calendário apertadíssimo, mas já temos equipamentos chegando e sendo instalados, além de um concurso emergencial para contratar 2.400 profissionais. É uma transformação em muito pouco tempo, mas com grande respeito”, conta Renata Lopes, assessora da gerência de participação social e diversidade da GHC.

“Esse hospital já foi de referência e precisa o retorno da sua grandiosidade, mas com a ajuda de todos e construindo parcerias. Queremos realizar campanhas de promoção para doações de sangue, feiras de saúde e saraus, trazendo moradores da Maré. Estamos reformando alas e instalando equipamentos como um raio-x novo, para aumentar a capacidade de exames e atendimentos. Temos um desafio grande de colocar tudo a pleno vapor até o dia 21 de janeiro. Estamos dentro do prazo, seguindo o DNA do grupo que preza o diálogo com os trabalhadores e conselhos de saúde, a transparência, tendo negociação e aproximação com os sindicatos”, explica Lopes, com 25 anos de experiência no grupo.

 A nova gestão reclama que parte da imprensa não procura ouvir o grupo e cria fake news, como a de risco com a instalação de geradores. Segundo divulgou o Ministério da Saúde e confirmado pelo GHC, os equipamentos servem como suporte para agilizar a manutenção e troca de cabos do hospital. O GHC confirma que realizou um estudo técnico para conhecer o hospital e colocar as ações em prática. “Temos menos de um mês para a conclusão do prazo, mas não vamos baixar a produção e negamos que vai ser fechado alguma especialidade”, conclui Lopes.

Sair da versão mobile