Tuberculose tem cura se o tratamento não for interrompido
Hélio Euclides
A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo. Por ano, são notificados cerca de 10 milhões de novos casos, e mais de um milhão de pessoas mortas. No Brasil, a cada ano são mais de quatro mil mortes. E o Rio de Janeiro é o segundo Estado do país com maior número de casos: 10.229, em 2015.
É uma doença contagiosa, causada por uma bactéria chamada Mycobacterium tuberculosis (ou bacilo de Koch). O controle da tuberculose acontece na busca ativa de casos, diagnóstico precoce e adequado, tratamento supervisionado até a cura. O método de tratamento mais utilizado consiste no uso de quatro antibióticos: Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol, que deve se prolongar por, no mínimo, seis meses. A única forma de curar a tuberculose é fazer o tratamento completo, sem interrupção. Breno Villela Albrecht é médico da Clínica da Família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros. Durante 10 anos de trabalho, já viu diversos casos da doença. “É uma luta contra a vulnerabilidade e ambientes insalubres. Vamos a cada um deles, incentivando o uso dos remédios, pelo prazo de cura que é de seis meses”, revela. A boa notícia é nunca faltar os remédios na Rede pública. Ele adverte que, ao interromper o tratamento, se cria resistência à bactéria. “Por isso, precisamos não ter nenhum fujão”, afirma. A contaminação pode se dar pelo ar ou pela secreção do bacilo, mas a bactéria não resiste a 15 minutos de sol. “A transmissão não é fácil, mas há situações que contribuem como sistema imunológico debilitado, uso de drogas, fumo, alimentação inadequada, casas pouco arejadas e ausência de iluminação natural. Em muitas residências os moradores não abrem a janela, eu visito e fico com falta de ar. Dificilmente o bichinho da tuberculose vai pegar quem tomar banho de sol três vezes por semana, limpa o filtro do ar condicionado, tem boa alimentação e faz exercícios físicos”, ensina.
O importante é vencer o preconceito
O médico lembra que doente só precisa ir apenas uma vez por semana ou ter a visita da equipe, quando recebe os remédios. “A Rocinha foi uma vitória, era o bairro com mais casos, hoje isso é passado, mudou a história. A Maré também foi um dos piores lugares, agora já estamos caminhando para sair desse patamar”, detalha. Para o diagnóstico, é feito radiografia do tórax. “Mas o exame do escarro é a chave do combate”, acrescenta. Para o Doutor Breno, o morador que tem tosse seca por mais de duas semanas, febre diária ao final da tarde e emagrecimento sem causa aparente, deve procurar o médico. “Sabemos que ainda existe o estigma, mas o importante é não esconder. Após 15 dias de tratamento, o risco de transmissão é zero. O paciente precisa de confiança e um aperto de mão. Não é necessário separar copos, talheres, roupas ou lençóis, já que a contaminação se dá apenas por via aérea, e não por objetos”, afirma.
Adenildo Raimundo dos Santos, de 44 anos, morador de Bento Ribeiro Dantas, teve tuberculose em 1994, fez o tratamento correto, seguiu as recomendações médicas e hoje está curado, sem nenhuma sequela. “O importante é procurar o tratamento. Não é difícil, mas no início, são mais comprimidos. O importante é não parar de tomá-los, pois com um mês o paciente já se sente bem, mas é preciso lembrar que o tratamento dura seis meses, e é preciso seguir à risca. Hoje não sinto nada”, explica.
Doutor Breno compara a tuberculose à outra doença respiratória: “a pneumonia precisa de 10 dias de tratamento, só que a febre passa já no terceiro dia, mas se o paciente interrompe o antibiótico, a doença volta com força total. Isso ocorre igualmente na tuberculose”, conclui.