ONG ligada ao AfroReggae chega ao território mareense oferecendo cursos para profissionalizar atletas periféricos nos jogos digitais
Por Denilson Queiroz
O conjunto de favelas da Maré recebeu dois polos do AfroGames, projeto social do AfroReggae voltado para inclusão digital de jovens periféricos. Desde o dia 16 de julho, cerca de 200 alunos das comunidades do Morro do Timbau e da Nova Holanda têm aulas de inglês e programação de jogos, além de fundamentos para, quem sabe, se tornarem jogadores profissionais de Valorant, Free Fire e Leagues of Legends (LoL).
Os games sempre fizeram sucesso na favela. Inicialmente, com os consoles domésticos, serviam para juntar a turma para jogar em casa; depois, com a difusão da internet de banda larga, se popularizaram os jogos em rede nas chamadas lan houses e aqueles para redes móveis, preferidos pela maioria dos jovens que usa o celular para jogar.
Segundo a Pesquisa Game Brasil 2021, mais da metade dos gamers (50,3%) é de pretos ou pardos. Entretanto, a luta para profissionalizar jogadores de baixa situação socioeconômica é ainda um desafio.
“Para nós, esse é o grande papel do AfroGames: democratizar o acesso e usar os games como ferramenta emancipatória, de transformação e impacto social. O que pretendemos é permitir que estes jovens transponham barreiras sociais e, de repente, cheguem a lugares que não eram previstos”, diz Mariana Uchoa, coordenadora executiva e social do AfroGames.
Em três anos, o projeto formou cerca de 370 jovens na primeira unidade, localizada em Vigário Geral, e conta com equipes profissionais de diversos games, que disputam campeonatos oficiais — inclusive de LoL. Para fazer parte do time profissional do AfroGames, é preciso que o atleta esteja bem colocado no ranking interno de LoL, que são os chamados elos.
Andrew Vargas, aluno do novo polo do Morro do Timbau, está classificado no elo diamante, que é o primeiro nível para participar da equipe: “Estando no AfroGames, pretendo me tornar realmente um gamer. Aqui aprendemos dicas de jogabilidade, nos ensinam tudo. Fora o inglês, que vai nos ajudar na comunicação quando tivermos que disputar campeonatos pelo mundo.”
Juntamente com mais 80 alunos do Morro do Timbau, Andrew, que joga LoL desde 2013, agora enxerga a possibilidade de seguir carreira nos jogos eletrônicos. O AfroGames funciona durante a semana com cursos de capacitação, mas às segundas-feiras deixa que os alunos utilizem o espaço para jogar de maneira livre, aliando a síntese dos eSports: diversão e trabalho.
Perfil gamer
A 8ª edição da Pesquisa Game Brasil, divulgada em abril de 2021, trouxe alguns dados interessantes sobre o perfil do gamer brasileiro. O estudo mostrou que 51,5% desse público é feminino, com 62,2% delas jogando principalmente no smartphone; 38,1% usam consoles e 59,6%, o computador.
Além disso, o público gamer das classes baixa e média está em ascensão e representa 49,7% dos consumidores de jogos. O Brasil ocupa o 33° lugar entre os países com maior cobertura de internet no mundo, segundo relatório também de 2021 divulgado pela DataReportal, empresa que realiza estudos sobre a internet global. Mesmo com a chegada da quinta geração de internet (5G) no país, 89 municípios sequer têm a cobertura 4G, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Ainda assim, seja no PC ou no celular, os jovens brasileiros têm dedicado cada vez mais tempo e energia aos jogos digitais e, há alguns anos, consideram como possibilidade de profissão o que antes era apenas um hobby.
Em 2016, a equipe Luminosity Gaming, liderada pelo atleta Gabriel “FalleN”, venceu o MLG Columbus 2016, primeiro campeonato mundial de Counter Strike. A equipe brasileira faturou o prêmio de US$ 500 mil (mais de R$ 2,5 milhões).