Vacinação contra a Influenza entra na quarta semana. A ONU alerta para um novo surto de sarampo em crianças. Ambas as vacinas estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde.
Por: Julia Drumond e Hélio Euclides em 28/04/2022 às 00h. Editado por Daniele Moura.
Na Semana Mundial de Imunização, que vai até 30/04, muitas campanhas de vacinação são promovidas pelo governo, e este ano a mobilização foi para vacinar idosos a partir de 60 anos, além de profissionais de saúde contra a Influenza. Anualmente são oferecidas novas doses da vacina mais atualizadas para prevenir a doença, que é causada por vírus e é responsável pelas síndromes gripais que acometem a nossa população principalmente no inverno. No final do ano passado, o Rio de Janeiro viveu um surto de uma nova variante da Influenza – vírus H3N2, apelidada de Darwin. Segundo o jornal Nexo, o aumento de diagnósticos de Influenza no mês de novembro foi de 115%.
No Brasil, a vacinação contra a Influenza está incluída no Plano Nacional de Vacinação (PNI) desde o final dos anos 1990. Além de prevenir a gripe de maneira individual, ajuda o Sistema Público de Saúde a reduzir o número de hospitalizações, complicações e mortes. Apesar de um longo e bem sucessivo histórico de campanha vacinal, um estudo publicado em 2021 – por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas – revela que a cobertura vacinal entre os idosos para Influenza durante os dois últimos anos de pandemia da covid-19 caiu em mais de 7% em relação a meta governamental de 90%. Isso significa que apenas 82,3% da população idosa foi vacinada no período pandêmico, o que contribuiu para o surto fora de época no final do ano passado.
A Prefeitura do Rio convoca a população carioca que não compareceu ao posto de saúde mais próximo de casa para se imunizar contra a Influenza na data do calendário. É o caso de Maria Vieira de Sena, de 81 anos, moradora da Vila dos Pinheiros, que ainda não tomou a vacina. “Optei em tomar ela depois de 15 dias da quarta dose da vacina contra a covid. Acho importante a vacina contra a gripe, vou me imunizar em breve. Depois de todos os acontecimentos, não podemos deixar de acreditar na sabedoria de Deus dada aos cientistas”, diz.
Depois do surto do ano passado, parte da população já aprendeu a importância da vacina contra a gripe. “Acho importante tomar o imunizante. Confesso que nunca tomei, mas agora vou seguir os passos do meu irmão e me imunizar”, conta Maria Lúcia, de 49 anos, moradora da Praia de Ramos.
Postos de saúde de portas abertas
A meta da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é alcançar cobertura de 90% dos grupos prioritários, o que corresponde a cerca de 1,8 milhão de pessoas na cidade. Estudos apontam que a vacinação contra a gripe é capaz de reduzir de 32% a 45% o número de hospitalizações por pneumonias, de 39% a 75% da mortalidade global, e em aproximadamente 50% as doenças relacionadas à influenza.
A SMS informa que os grupos prioritários da campanha da gripe são idosos; crianças de seis meses a 4 anos; trabalhadores de saúde; gestantes; puérperas (mulheres até 45 dias pós-parto) e trabalhadores da Educação. O Ministério da Saúde também indica a vacinação aos seguintes grupos:
- Integrantes de forças de segurança e salvamento e das forças armadas;
- funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade
- pessoas com comorbidades ou com deficiência permanente;
- caminhoneiros
- trabalhadores do transporte rodoviário de passageiros urbanos e de longo curso,
- trabalhadores portuários.
A SMS esclarece que este ano, a vacina usada na campanha protege contra as três cepas do vírus Influenza que mais circularam no ano passado no Hemisfério Sul: H1N1, H3N2 Darwin (que no final de 2021 causou o surto de gripe na cidade) e linhagem B/Victoria. Produzido pelo Instituto Butantan, o imunizante é seguro e pode ser administrado em pessoas imunocomprometidas e portadoras de doenças crônicas ou condições especiais. Pessoas com história de alergia grave em dose anterior da vacina influenza devem informar ao seu médico ou ao serviço de saúde, para a devida avaliação do caso e orientação.
A vacina da gripe é anual. Mesmo pessoas que tomaram a dose no ano passado devem se vacinar novamente este ano. Para quem já tomou o imunizante em anos anteriores, o esquema vacinal é de dose única. Já para as crianças da faixa etária atendida que vão tomar a vacina pela primeira vez este ano, serão duas doses, com intervalo de 30 dias entre elas.
Por fim, a SMS adverte que as pessoas que forem se imunizar devem comparecer aos postos de saúde portando, sempre que disponível, documento de identificação e caderneta de vacinação. Será preciso apresentar documento que comprove fazer parte dos grupos prioritários elencados pelo Ministério da Saúde, como laudo médico para a confirmação da comorbidade e documento funcional para os grupos profissionais atendidos.
Vacina contra sarampo
OMS e UNICEF já alertam para novos surtos de sarampo este ano. A doença é uma dentre muitas que são evitáveis pela vacinação ampla de crianças. Interrompidas pela pandemia, a baixa imunização já provocou mais de 17 mil casos em todo mundo, em janeiro e fevereiro de 2022, segundo essas organizações. Um aumento de 79% em relação aos primeiros meses de 2021. Além de seu efeito direto no corpo, que pode ser letal, o vírus do sarampo também enfraquece o sistema imunológico e torna a criança mais vulnerável a outras doenças infecciosas.
Em 2020, 23 milhões de crianças deixaram de participar da vacinação infantil básica por meio de serviços de saúde de rotina, o número mais alto desde 2009 e 3,7 milhões a mais do que em 2019. Muitos países já foram afetados pela doença, principalmente na África e Oriente Médio. Os países com os maiores surtos de sarampo desde o ano passado incluem Somália, Iêmen, Nigéria, Afeganistão e Etiópia.
Uma conversa sobre a vacina
Considerando o contexto, o Maré de Notícias foi conversar com a professora e doutora Clarissa Damaso, virologista e chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para reforçar a importância da vacinação contra a Influenza na população idosa.
MN: Por que é importante se vacinar?
Clarissa: “As vacinas são a única forma de prevenção contra doenças preveníveis por vacina. É a única forma que temos de nos prevenir, os medicamentos são terapias úteis pós-infecção, o que permite algum nível de controle, mas não elimina a existência das doenças. Com campanhas eficazes de vacinação, conseguimos tirar uma doença de circulação, o que não é possível com a imunidade de rebanho, que seria a imunidade atingida por uma população naturalmente ao ser infectada pelo vírus. Por isso vacinas são muito importantes, porque nos permitem salvar vidas contra doenças mortais e, inclusive, tirar algumas delas do mapa.”
MN: Por que podemos confiar nas vacinas?
Clarissa: “Porque elas são desenvolvidas com base em ciência. Da mesma maneira que quando estamos com dor de cabeça, acreditamos que tomar dipirona ou ibuprofeno será eficaz. As vacinas não são resultado de adivinhações ou chutes por partes dos pesquisadores, elas são feitas com muito estudo. Não há nenhuma vacina que tenha sido desenvolvida de forma impensada, mesmo quando há urgência, a rapidez com que elas vêm sendo desenvolvidas se deve a muito investimento e muito trabalho ao longo das últimas décadas, essas vacinas não são experimentais e não possuem menor qualidade.”
MN: Há comparação entre as vacinas contra a covid-19 e a da Influenza?
Clarissa: “Há diferenças entre as vacinas para a covid, doença para a qual tomamos doses de reforço e para a Influenza, as doses anuais fazem parte do esquema vacinal, uma vez que os vírus sofrem mudanças muito mais que o Sars-COV2, exigindo que o público de risco tome a vacina todos os anos. Isso acontece porque as vacinas para a Influenza são um produto das variantes mapeadas ao longo do último ano, o que aumenta as chances de proteção ano a ano com vacinas que imunizam contra todas ou boa parte das cepas em circulação. Para que isso seja possível há uma estrutura montada ao redor do mundo e organizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que conta com suporte da Organização Pan-Americana de Saúde OMS/OPAS. Essa estrutura permite que as variantes sejam identificadas ao longo do ano para a montagem das vacinas e isso só é possível porque existem os sistemas de vigilância.”
MN: Como funcionam os sistemas de vigilância?
Clarissa: “De maneira geral, os laboratórios locais, como os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) coletam amostras para o diagnóstico, que são enviadas para laboratórios vinculados à OMS, como aqui no Rio de Janeiro, temos o Laboratório de Vírus Respiratórios da pesquisadora Marilda Siqueira, instalado na FIOCRUZ. Lá eles sequenciam as amostras e os dados são, então, passados para a OPAS/OMS. Esse processo permite saber o que está em circulação no momento e fazer uma previsão do que estará em circulação no ano seguinte e, com base nessa previsão, é que as vacinas são montadas anualmente.”
MN: Por que é necessário tomar a vacina para a Influenza todos os anos?
Clarissa: “A vacina para a Influenza não é, necessariamente, igual em todos anos. Esse ano, por exemplo, houve alteração na composição da vacina. Então é importante tomar todos os anos, porque as cepas dos vírus circulantes de ano para ano podem mudar e a imunidade baseada na vacina do ano anterior pode não nos proteger contra as novas variantes. Ainda que a vacina tenha a mesma composição do ano anterior, infelizmente, a imunidade oferecida pelas vacinas contra Influenza não protege por um longo período, em média, a imunidade dura seis meses. Mesmo vacinados, a nossa imunidade contra o vírus cai após esse período, por isso é muito importante tomar a vacina todo ano.”
MN: O que a senhora falaria para quem ainda está indeciso sobre tomar a vacina contra a Influenza?
Clarissa: “Vacinas são confiáveis, foram desenvolvidas sob o conhecimento acumulado ao longo de anos de pesquisa baseada em evidências científicas e protegem não apenas um indivíduo, mas toda a comunidade. Além de aliviar o Sistema Único de Saúde (SUS), protege você e sua família. Tome a vacina e/ou leve seus amigos e familiares aptos à vacinação para as Unidades de Atenção Primária mais próximas – clínicas da família e centros municipais de saúde. Ano que vem a gente se vê de novo no postinho mais próximo para a dose atualizada contra a Influenza.”
Calendário de vacinação da Influenza |
Semana 4 – 25 a 30 de abril |
Idosos com 60 anos ou mais; |
Trabalhadores de saúde com 60 anos ou mais em qualquer unidade de saúde; |
Trabalhadores de saúde de qualquer idade no local de trabalho. |
Semana 5 – 2 a 7 de maio |
Crianças de 6 meses a 4 anos, 11 meses e 29 dias; |
Gestantes e puérperas. |
Semana 6 – 9 a 14 de maio |
Grupos prioritários com idade entre 50 a 59 anos; |
Repescagem geral. |
Semana 7 – 16 a 21 de maio |
Grupos prioritários com idade entre 40 e 49 anos; |
Repescagem geral. |
Semana 8 – 23 a 28 de maio |
Grupos prioritários com idade entre 30 e 39 anos; |
Repescagem geral. |
Semana 9 – 30 de maio a 3 de junho |
Grupos prioritários com idade entre 5 e 29 anos; |
Repescagem geral. |