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Marcílio Dias é Maré. Mas por que a questão?

Maré de Notícias #87 – abril de 2018

Comunidade sofre por indefinição de órgãos públicos, o que gera muita confusão

Hélio Euclides

Quem não conhece Marcílio Dias pode estar se perguntando onde fica. A localização exata é após a Casa dos Marinheiros, na passarela 16, seguindo pela rua que fica entre a fábrica da Kelson’s e o Ambulatório Naval, na altura do número 10.946 da Avenida Brasil. Uma pergunta que incomoda os residentes: o local se chama Marcílio Dias e, não, Kelson’s.

O Conjunto Marcílio Dias foi a terceira comunidade da Maré a se constituir, em 1948, quando surgiram os primeiros barracos. Marcílio Dias está a, aproximadamente, 2.300 m da Praia de Ramos e entre esses dois territórios existe um conjunto de unidades pertencentes à Marinha do Brasil. O Censo Demográfico de Empreendimentos Maré, de 2013, contou em Marcílio Dias 6.219 moradores, residindo em 1.768 domicílios.

 Empurra-empurra

A confusão começa com a criação da XXX Região Administrativa – ou, simplesmente, RA-Maré – por meio do Decreto 6.011, de 0/08/ 1986 e sua delimitação feita pelo Decreto 7.980, de 12/08/ 1988. Alguns anos depois, por meio da Lei Municipal nº 2.119, de 19/01/ 1994, é criado o Bairro Maré, correspondente a toda a extensão da XXX RA. Apesar da história muito parecida com a Maré, com barracos, palafitas e proximidade com a Baía de Guanabara, Marcílio Dias vive o equívoco dos órgãos públicos. “É uma confusão. É a Cedae Maré que trata da comunidade, já a Comlurb é da Penha. Na questão de Região Administrativa, cada uma empurra com a barriga. A da Maré não nos atende, e a da Penha também não”, reclama Jupira dos Santos, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias. A moradora Ilda Lourdes da Silva critica o descaso. “O bairro é Penha Circular, mas já tinha ouvido falar dessa divisão com a Maré, isso é uma bagunça. O problema é que os órgãos só fazem as coisas próximo da entrada da comunidade. Resido aqui há 18 anos, e pelo descaso hoje desgostei de morar aqui”, desabafa.

“Quando caiu a passarela na Avenida Brasil, procuramos a RA da Penha, e só dessa vez nos atendeu. O nosso problema é que tudo é fatiado politicamente, e Marcílio Dias não está nos holofotes”, expõe Luciano Aragão, vice-presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias. A comunidade almeja um sinal de trânsito na saída de Marcílio Dias, pois muitas crianças das escolas estudam fora da comunidade. “Mas pedir a quem? Para a comunidade é ruim, pois fica no meio de dois órgãos municipais”, diz Luciano Aragão. Vilmar Gomes, o Magá, afirma que Marcílio Dias é Maré. Eles já participam de nosso Coletivo Maré Que Queremos, essa história de Penha Circular é péssima”, conclui.

Carlos Alberto, sapateiro desde 1976, hoje com 57 anos, escolheu a comunidade como moradia por ser como uma cidade pequena, sem barulho de carros e todos se conhecerem. Ele relembra o passado. “Aqui ficou conhecido muito tempo como Maré, na época dos barracos e palafitas. Depois veio a construção e o nome de Marcílio Dias, e o bairro como Penha Circular. Em 1975, vim de Sergipe com meus pais, o local era mangue, próximo à fábrica, por isso que as pessoas chamavam o espaço de Kelson’s”, lembra.

 A era Kelson’s

Na década de 1940, a fábrica Kelson’s se inicia com produção de bolsas, malas e sacolas numa área da localidade. Em 1985, a fábrica não resistiu à crise e à decadência da região. Hoje o prédio administrativo da Kelson’s, à beira da Avenida Brasil, é ocupado por uma megaloja do Shopping Matriz.

Enivaldo de Lima, de 75 anos, sendo 50 morando em Marcílio Dias, trabalhou na fábrica Kelson’s.  “Na época, a comunidade era tudo água, depois aterraram e veio o loteamento, pela Caixa Econômica. Tenho saudade dessa época, de um tempo de muitas amizades e união”, recorda.

 “Moro aqui há dois anos, na Rua do Alpiste. Falo que sou da Kelson’s, mas dizem que não é”, afirma a moradora Sônia Maria dos Reis.  Mas a Associação de Moradores não aceita essa divisão.  “Para sair na mídia falando mal, chamam de Kelson’s, nome da fábrica. O certo é Conjunto Residencial Marcílio Dias”, exalta Luciano Aragão.

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