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[toggle title=”TRANSCAOSRIOCA”]
Por: Hélio Euclides
Quem passa pela Avenida Brasil percebe, além do engarrafamento, uma enorme obra que atravessa a via na altura do acesso a Ilha do Governador. A intervenção faz parte do BRT Transcarioca, para construção de um arco estaiado, ou seja, uma ponte suspensa por cabos.
Para isso, a prefeitura fechou a pista lateral da Av. Brasil, sentido Zona Oeste, e fez um desvio com retorno próximo a Ilha do Fundão. E a outra pista lateral, sentido Centro, está com passagem para apenas um veículo. Moradores da Maré reclamam dos motoristas de ônibus que estão passando da pista lateral para a central para fugir do retorno obrigatório em direção à Zona Oeste. Do outro lado é a mesma coisa. Surpreendidas com a mudança irregular do itinerário, as pessoas estão descendo do ônibus na pista central e atravessando a Av. Brasil a pé, com risco de serem atropeladas. Segundo a Secretaria Municipal de Obras, as obras do arco serão finalizadas até maio, quando as pistas interditadas da Brasil serão reabertas.
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[toggle title=”BRTs na berlinda”]
Por: Sergio Ricardo, ecologista, gesto e planejador ambiental
Para a construção da Transcarioca, além de provocar a remoção e despejo de centenas de moradores e do comércio, foram derrubadas dezenas de árvores plantadas pelos próprios moradores na Avenida dos Campeões, em Ramos. Além do valor afetivo, ajudavam a amenizar o calorão da região e a capturar gases poluentes como o monóxido de carbono lançados pelos milhares de automóveis que passam diariamente na Avenida Brasil. Ingressamos com moradores de Ramos na Justiça, sem sucesso neste caso.
As Transcarioca, Transoeste e Transbrasil estão na contramão da história, já que enquanto o Rio de Janeiro opta por fortalecer o modelo rodoviarista, controlado por um cartel de empresas de ônibus – já que suas pistas serão utilizadas exclusivamente para circulação de ônibus –, as grandes cidades do mundo buscam investir cada vez mais em outros modais de transporte, como o veículo leve sobre trilhos (VLT, espécie de aeromóvel que é uma alternativa metroferroviária menos poluente), trem, metrô e ciclovia.
Considero um crime o fato de o trajeto da Transcarioca ter abandonado o projeto da linha seis do metrô, que ligaria a Barra da Tijuca, Madureira, Vicente de Carvalho e Ilha do Governador. Além disso, a Transcarioca inviabiliza o projeto da Supervia de 2008, que pretendia levar uma conexão de trens de Bonsucesso a Ilha do Governador, ou seja, teríamos uma linha direta do Centro da cidade, passando pelo maior campus universitário do Rio, no Fundão.
Além disso, a construção das Trans custarão aos cofres públicos, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cerca de R$ 5 bilhões e serão, após construídas, repassadas para administração de cartel de empresas de ônibus sem estar previsto o ressarcimento das verbas públicas. O que provoca prejuízos ao cofre público, conforme constatou auditoria técnico-financeira do Tribunal de Contas da União (TCU). Uma mamata brutal de dinheiro público para a iniciativa privada.
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[toggle title=”Não é cruzado, tostão nem cruzeiro. É o Real Maré”]
Por: Hélio Euclides
Um sonho que se tornou realidade, afirma o presidente do clube Real Maré, Sidnei Alves, sobre o time. No início era um grupo de peladeiro que depois partiu para oficializar o clube junto a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é mostrar que existe qualidade na favela, com pessoas que não esquecem as origens e representam a Maré. O nome “Real” remete a realidade de crianças e adolescentes que hoje são atletas.
Tudo começou há 16 anos e hoje são cerca de 180 jogadores na Maré e outros 150 no núcleo do Caju. As dificuldades são imensas. Natan Alves, por exemplo, já ficou sem treinar por falta de chuteiras. “Isso acontece, mas aqui há muito incentivo e conselho, o que não me faz parar”, afirma o garoto.
O grupo dribla os percalços e vem participando de diversos campeonatos. “O que muitas vezes falta é apoio para as viagens longas”, conta Sidnei. Esse ano o clube recebeu a proposta de participar de jogos na Argentina para o sub 17 e em Portugal para o sub 13, mas até o momento não há patrocínio. “Temos dificuldades, mas somos incansáveis”, rebate o presidente. Para amenizar, hoje o clube recebe apoio da Lei de Incentivo ao Esporte, federal e estadual. Além disso, os diretores buscam oferecer aos garotos café da manhã e cesta básica, o que ajuda na alimentação.
A entrada de novos jogadores é a partir dos sete anos. Depois a criança pode seguir em outras categorias do Real: pré-mirim (sub 11), mirim (sub 13), infantil (sub 15), juvenil (sub 17) e juniores (sub 20). “Aqui é uma família, fora a minha essa é a segunda”, comenta o atleta Everton Mateus Pereira, o Mineirinho.
Em Minas e também no exterior
Um dos momentos marcantes do Real Maré foi jogar em Minas Gerais e no Paraguai. “A família é primordial. Na viagem ao Paraguai algumas pagaram a passagem do filho e ainda ajudaram a quem não podia. Eles abraçam a ideia”, elogia Sidnei.
O presidente do clube não deseja que seus alunos passem pelo que ele vivenciou. “Joguei na Portuguesa, mas por dificuldades financeiras tive que abandonar meu sonho. Lembro a eles para aproveitarem, pois na minha época não tinha essa oportunidade”, afirma. O funcionário da 30ª RA, Antonio de Pádua, incentiva o trabalho. “Acompanhei a equipe desde a criação. Vi o Sidnei com os ofícios para solicitar apoio, com dificuldades. Então sempre tentamos ajudar”, relata.
Os treinos acontecem às segundas-feiras na Vila Olímpica da Maré; e às terças e quintas na Praça do 18, na Baixa do Sapateiro, de 9h as 11h30 e de 13h as 16h, nos dois locais. Neste momento, estão abertas as inscrições para sub 15 e sub 17. Quem se interessar, deve comparecer a um dos treinos.
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[toggle title=”Tem break na Maré”]
Por: Fabíola Loureiro
Douglas Barreto da Silva Alves, 24 anos, morador da Nova Holanda, é B-boy, nome dado aos meninos que praticam o breakdance, e já participou de várias batalhas de break. Na adolescência, Douglas conta que tinha dificuldade em interagir com a galera, pois curtia músicas que não eram populares, como as de James Brown, cantor de soul norte-americano.
Quando Douglas assistiu a apresentação de um antigo grupo que havia na Maré, o Ataque Brasil Break, logo se identificou, pois essa galera dançava justamente ao som de Brown, famoso pelas músicas que Douglas sabia de cor.
“O break desenvolveu minha mente e despertou minha curiosidade até para fazer outras atividades e me trouxe disciplina. Além de ser meu trabalho, é meu hobby e minha válvula de escape. Vivo, respiro a dança, é uma filosofia. Minha vida ficou mais saudável”, conta Douglas.
O break é um estilo de dança de rua e foi implantado na Maré no ano de 2001 pelos b-boys Luck e Felipe Reis, que faziam parte do Grupo de Break Consciente da Rocinha (GBCR). Ambos já tinham vivência no hip hop e foram referência para Douglas e outros meninos na época.
Depois de algum tempo, o pessoal foi parando de treinar na Maré. Vendo a necessidade de manter a cultura hip hop, em 2008 foi feito um evento no Morro do Timbau para divulgar e fazer com que a galera voltasse a treinar. No final do evento surgiu o grupo Ativa Breakers, do qual Douglas participa. Entre 2008 e 2009 o grupo ganhou vários campeonatos, em diversos lugares do Rio de Janeiro. Atualmente o grupo tem 11 integrantes, com idades entre 12 e 24 anos e apenas um não é morador da Maré.
Break também é lugar de meninas
Amanda Baroni Lopes, 20 anos, moradora do Timbau, é a única menina do Ativa
Breakers. Quando mais nova, ela não se sentia bem ao usar roupas curtas e ouvir pagode para se enturmar. Hoje entende que sua identidade são as roupas largas e o boné, bem ao estilo hip hop. Em 2013, Amanda viajou bastante para participar de competições e um dos lugares por onde passou foi o Chile.
“Eu danço porque foi uma atividade que me trouxe amadurecimento, uma profissão e uma autoestima que eu não tinha. Vejo as batalhas como uma forma de avaliação de quanto meu treino está bom ou não. Ser B-girl é uma realização pessoal e uma diversão. Aprendi a lidar com as pessoas e a ser mais tolerante”, diz Amanda, para quem a vida é um constante desafio.
Para este ano, a meta do grupo é estar mais presente na Maré, promovendo eventos e mostras de dança nas comunidades.
História do Break
O breaking nasceu do hip hop, na década de 1970, nos subúrbios negros e latinos de Nova Iorque, em festas produzidas pelo DJ jamaicano Kool Herc, que ficou conhecido como o fundador da cultura hip hop. Nessas festas, chamadas Block party, Kool percebeu que quando chegava a parte instrumental das músicas, a garotada começava a dançar nesse espaço de tempo (break em inglês significa dar uma pausa). Nesse contexto, nasceram diferentes manifestações artísticas de rua, formas próprias dos jovens ligados àquele movimento de se fazer música, dança, poesia e pintura. Com o tempo começaram a organizar as batalhas, que consistiam em uma competição artística entre diferentes gangues. O break é um dos quatro pilares da cultura hip hop. Os outros três são o graffiti, o rap e o DJ.
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