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Maré de Notícias chega aos 15 anos ajudando a contar a história da Maré

Foto © Douglas Lopes

Edição #167 – Jornal Impresso do Maré de Notícias

O jornal Maré de Notícias nasceu em dezembro de 2009 e, em sua trajetória, conheceu centenas de personagens. O jornal entrou nas casas dos mareenses, levando informação, cultura e entretenimento para os moradores.

Desde o início, o jornal teve o objetivo de produzir e difundir conteúdo jornalístico crítico, reflexivo, que motive e mobilize a comunidade. O objetivo é fomentar ações capazes de gerar mudanças que impactem na qualidade de vida da população da Maré, com editorias que passam por políticas públicas, direitos humanos e a valorização da cultura local.

Nossa história

Para que o jornal tivesse uma representação na Maré, foi feita em 2009 uma sondagem de opinião, intitulada: “Por um jornal da Maré: diga como você quer!”. Foram 2.300 entrevistados que revelaram que 89% dos moradores tinham hábito de ler. Sendo que 53% liam jornais, 76% procuravam notícias sobre a Maré e 69,3%, sentiam-se insatisfeito de como eram retratados nos veículos de comunicação. Além disso, 98% achavam importante existir um jornal comunitário e 12% da população queria ver notícias sobre a favela nas páginas do novo jornal.

Um passo importante também foi o concurso cultural para a escolha do nome. A campanha “Por um jornal da Maré, diga que nome você quer!” durou 30 dias, com panfletos, cartazes e até outdoor. Chamou atenção de mais de 500 pessoas, que deram sugestões, em urnas espalhadas no território ou utilizaram a internet. Só na terceira edição o jornal ganhou um nome: Maré de Notícias.

Os atores principais

Antes da primeira edição, algumas instituições locais e associação de moradores se uniram à Redes da Maré para o planejamento do jornal. Umas continuaram até o fortalecimento do projeto, como a Biblioteca Comunitária Nélida Piñon, localizada em Marcílio Dias. “Veio para expandir vozes, pessoas em grande parte oriundas do Nordeste, destacando a cultura. Uma marca são as entrevistas das lideranças, com resgate da história, mostrando a vivência atual, mas sem esquecer a memória, como o tempo das palafitas. Traz diversas pautas, como a violência, para que a sociedade possa debater o assunto. Nesses 15 anos, é bom parabenizar todos os atores que fizeram parte e agradecer os parceiros que financiaram essa comunicação”, diz Geraldo de Oliveira, coordenador da biblioteca.

Há leitores que mantêm contato constante com o jornal, enviando sugestões de matérias, poesias e escrevendo sempre comentários. Sara Alves, moradora da Vila do João, é uma dessas. “Tornei-me fã, antes dele ter o nome que tem, no período da sua criação. Como não ser fã do jornalismo comunitário? Feito, conjuntamente, por quem vive todas as complexidades reais que vivemos?”, opina.

Sara defende o jornal impresso. “Creio na importância diante da realidade atual em que vivemos, 43% dos moradores de favelas não possuem internet. Existem muitas pessoas idosas, principalmente, que amam ter o jornal impresso para lerem em suas portas. No meu caso, sinceramente, assim como os livros, eu gosto de ter o jornal em minhas mãos”, afirma. 

Ela deseja que o Maré de Notícias continue contribuindo na superação das representações negativas e preconceituosas sobre as favelas, veiculadas nas mídias hegemônicas. “Que continue apresentando as narrativas das pessoas que merecem ser reconhecidas por suas ações, e que são histórias-vivas em nossas favelas”, enfatiza.

Cultura local

A cada mês o Maré de Notícias traz uma gama de personagens. Nas matérias a presença dos moradores é indispensável, em entrevistas e opiniões sobre temas relevantes. Quem mais pode ser o especialista sobre algo que vem acontecendo na Maré, do que o próprio mareense? 

Dentre esses moradores, o cantor Lindemberg Cícero, conhecido como Bhega Silva, figura carimbada em diversas edições, mostrando suas composições, seu trabalho ecológico com a coleta de óleo e o projeto Cineminha no Beco. “Sou só gratidão e felicidade pelo reconhecimento, pelos meus projetos nas matérias, por onde passo todos me parabenizam, por lerem as matérias. O jornal tem respeito pela minha história na Maré”, comenta.

Popular como o trovador da Praia de Ramos, Bhega afirma que a maior importância do jornal como meio de comunicação é ampliar as vozes dos moradores. “É um jornal com 15 anos de luta, resistência e persistência. Uma comunicação comunitária feita com muito carinho por quem conhece de perto a realidade do território, levando informações e sendo distribuído em mãos ou deixado de porta em porta”, diz. 

Lideranças

No meio da política, o Maré de Notícias já trouxe diversas vezes o pensamento de lideranças locais. Um desses entrevistados foi Pedro Francisco, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança. “Parabenizo esse excelente trabalho em torno de nossas comunidades, buscando os anseios de cada morador, por melhorias, expressando os seus sonhos e projetos de uma Maré melhor”, destaca. 

Alguns moradores ultrapassam o papel de leitor e passam a fazer parte da equipe. André Lucena, ex-morador da Nova Holanda, durante alguns anos, criou as charges do jornal de forma voluntária. “Para mim, como morador, o jornal Maré de Notícias é uma ferramenta poderosa de informação cultural e social. Além, claro, de ter sido uma casa, onde pude expressar a minha arte como chargista”, resume.

O jornal e as universidades

Durante esses 15 anos muitos parceiros fizeram parte da história do Maré de Notícias. Uma das parcerias é com o Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos (MVDH), no qual Pedro Barreto, jornalista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH), que também coordena o curso. Para ele, a comunicação comunitária é fundamental não só como ferramenta de diálogo, mas como uma organização de pessoas. “Os meios de comunicação hegemônicos não sabem as demandas da população da favela, diferente do Maré de Notícias que está no cotidiano, fala direto com o morador e acaba sendo também um elo com o poder público. O jornal comunitário tem a confiança da favela”, conclui.

Raquel Paiva, professora emérita da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ) e fundadora do Laboratório de Estudos em Comunicação Comunitária (LECC), avalia o trabalho do jornal. “Ainda me lembro vivamente do surgimento do Maré de Notícias e de todo o contexto da sua criação. O jornal tem atuado como um verdadeiro veículo comunitário representando na prática as discussões que temos fomentado ao longo dos 27 anos de existência do LECC”, expõe. 

Para a professora, as pautas do jornal têm trazido com vigor o cotidiano da população e suas questões. “Ele tem impulsionado a população na discussão de temáticas que lhe dizem respeito diretamente, é elaborado por moradores e jornalistas da própria favela e ainda tem pautado a sociedade civil e instituições da cidade em direção à necessidade de políticas públicas para com os moradores da Maré. Desejamos que o Maré de Notícias siga inspirando a todos nós em direção a um país mais igualitário e inclusivo com o vigor de toda a sua diversidade”, finaliza.

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