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Maré Longboard, um estilo de vida

Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

A história do coletivo que integra e multiplica esporte, mobilidade e cultura

Maria Morganti

Um grupo de amigos começou a se reunir nas ruas da Nova Holanda por causa da paixão em comum pelo skate. Se reunir e dar rolés. Muitos, vários, por todos os cantos da cidade. Da repetição desses encontros – e desses rolés – nasceu, em 2014, o coletivo Maré Longboard. “Nasceu em frente a essa instituição (a Redes da Maré). A gente parava aqui pra conversar, fazer debates. Todos os integrantes são “crias” da Maré, somam desde sempre, moram aqui”, relembra Diego Reis, o DG, de 21 anos, e um dos 10 integrantes do coletivo.

 O estouro do Longboard

 Além de Diego, Allan Santos, de 21 anos e Marvin Pereira, de 24, já andavam de skate da favela para Madureira “todo domingo”; davam rolés pelas praias de Copacabana, na Zona Sul, mas, segundo eles, o boom de skates aconteceu quando a Maré foi ocupada pelo Exército entre abril de 2014 e junho de 2015. “Eu sempre via nosso grupo andando junto, ia pra Madureira todo domingo. A galera via e queria fazer parte disso. Quando teve a ocupação do Exército, em que as motos pararam de circular, começaram a tomar como opção as bicicletas e o Longboard”, conta Allan.

Assim como a ocupação do Exército, o fechamento da Avenida Brasil para as obras do BRT Transbrasil, no início de 2015, é considerado pelos integrantes outro marco na história do Maré Longboard. “Foi lindo. Rolou tudo, churrasco, todos os esportes, rolimã, patins, bambolê, pique e pega…”, conta Marvin, o mais velho do grupo e um dos primeiros do coletivo a começar a andar de skate. “Ali, a gente pôde ver que a questão não é que a galera não goste de fazer esporte, que a galera é sedentária. É que, realmente, não tem um espaço para desenvolver aquilo ali. Quando teve o espaço disponível, a galera fez coisa pra caramba”, comenta Allan.

“Minha mãe quebrou três skates meus”

“Bem no início, a minha mãe achava coisa de doido”, conta, rindo, DG. Até que ele começou a ganhar campeonatos. Em um deles, voltou para casa com uma caixa de Guaravita. “Eu saía e voltava com alguma coisa ou com alguma parada que demonstrasse felicidade e ela foi agarrando, foi agarrando, e hoje em dia super apoia”. Para Marvin, a desaprovação dos pais rendeu três skates quebrados, de diversas maneiras. “Minha mãe já quebrou três skates meus. Já jogou da janela, já quebrou, já jogou fora inteiro”.

Entre um rolé e outro para fora da favela, e alguns tombos também, confessa Marvin mostrando as cicatrizes, o grupo pensou:  “por que não fazer algo dentro da própria favela? A gente começou a pensar como podia atuar dentro da nossa favela. Já que a gente estava saindo muito, buscando os rolés de Zona Sul, buscando os rolés de Madureira. Pô, mas a gente só vai pra Madureira, só vai pra Zona Sul? Vamos fazer alguma coisa aqui dentro, para as crianças, vamos fazer um evento na Maré”, relata DG.

De lá pra cá, o grupo já realizou, por meio de parcerias, cinco eventos beneficentes. Um dia não só com o skate, mas reunindo nas ruas da favela, grafite, batalha de MCs, apresentação de Slam (espécie de declamação de poesias). Uma edição chegou a contar com a apresentação de nomes da música, como o Ghetto Zn e MV Bill. Agora, estão na produção do sexto, previsto para acontecer no Dia das Crianças, 12 de outubro.

Maré Longboard nas escolas

Olhando para trás, DG avalia que o coletivo, que não tem hierarquia – por isso não existe um “presidente”, está vivendo um processo de solidificação e estruturação. O programa mais atual é o “Maré Longboard nas Escolas”, que duas vezes por semana oferece aulas teóricas e práticas, de 1 hora, sobre temas, como equilíbrio, estratégia para evitar quedas de risco e entendimento de consciência corporal, na Escola Municipal Bahia. Segundo DG, a ideia é atender todas as escolas da região Maré, ficando dois meses em cada. “O nosso objetivo geral sempre foi tentar trazer oficinas e incentivar a juventude, crianças e adolescentes, no setor desse esporte Longboard e mostrar que ele pode ser usado como objeto de transporte, socialização e mobilização”.

Reconhecimento do trabalho

As demonstrações do reconhecimento desse trabalho de quatro anos do coletivo Maré Longboard vêm dando frutos. O grupo foi selecionado no programa Active Citizens, uma parceria da Redes da Maré com o Consulado Britânico, para desenvolver projetos na Maré. Eles também receberam a doação de um imóvel, feita por um morador da própria comunidade, que é usado pelo grupo como escritório. Aberto ao público, o escritório disponibiliza livros, filmes, brinquedos e jogos como dama e dominó. Sobre o futuro do Maré Longboard, DG deixa em aberto: “eu não sei onde a gente vai chegar, o céu é o limite”.

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