Pandemia faz doação de sangue diminuir e demanda aumentar
Maré de Notícias #125 – junho de 2021
Por Hélio Euclides
Com a pandemia do covid-19, o adoecimento de parte da população e receio de contrair o vírus fez com que as pessoas circulassem menos e os bancos de sangue registrassem uma grande queda nas doações. No Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio), no Centro, as doações diárias chegaram a 250, no início do ano passado. Hoje, não ultrapassam 13.
Apesar da queda, o instituto continua a distribuir sangue coletado para mais de 200 hospitais. Foram criadas campanhas de incentivo para doação de sangue não apenas pelo Hemorio como por empresas privadas – os aplicativos de corridas Uber e 99 decidiram subsidiar corridas no valor de até R$ 30 para quem fosse doar sangue. Luiz Amorim, diretor geral do Hemorio, diz que há ainda ações permanentes, como o posto itinerante para receber doações, com 16 profissionais cada. “Fazíamos muitas dessas ações em universidades, que agora estão fechadas”. Ele explica que, para atender a grupos que desejam doar sangue, é importante conseguir mais de 50 pessoas e contar com um local adequado. Outra opção é reunir 12 voluntários e acionar o Hemorio, que dá o transporte.
Tatuagens e orientação sexual não são mais impeditivos, a recomendação é que espere seis meses após as tatuagens e, um ano, no caso de piercings (excetuando-se os orais e genitais). E o Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu a doação de sangue, independentemente da orientação sexual. O impeditivo se refere ao número de parceiros; isso vale para todos os voluntários.
A doação como rotina na vida
Com a pandemia, o movimento de voluntários caiu pelo medo de ir aos hospitais, onde ficam os bancos de sangue. “Uma pena que isso esteja acontecendo. Mesmo em meio ao caos, as pessoas continuam precisando de transfusão e de cirurgias”, diz Leny de Aquino, moradora do Parque União e doadora no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) há 5 anos.
Em 2016, iniciou-se uma campanha entre moradores da Maré para doação de sangue no Hospital de Bonsucesso. A iniciativa partiu do Programa Academia Carioca, do Centro Municipal de Saúde da Vila do João e da Clínica da Família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros. A primeira ação reuniu 16 pessoas; já na segunda, o número aumentou para 30. Em 2017, foram mais de cem pessoas.. Em 2018, esse número cresceu para 130 voluntários. De 2019 para cá, porém, o número de doações vem caindo: de 70 para 30 doadores, em 2020. Já neste ano, foram apenas 14 voluntários.
“Doar é o ato mais nobre que o ser humano pode ter. Acho que são necessárias mais campanhas. Elas precisam invadir locais que reúnem muitas pessoas. Na Europa, o jogador de futebol Cristiano Ronaldo virou garoto-propaganda da doação de sangue; falta isso por aqui”, destaca Leonardo Borges, idealizador do projeto e educador físico nas Atividades Integradas às Equipes de Saúde (NASF).
Valdenia Barroso, de 44 anos, moradora da Vila do João, participa da campanha da Maré desde o início. “O grupo nos ajuda a perder o medo. Através dele consegui levar a minha família. Para quem doa são alguns minutos mas, para quem recebe, é uma vida inteira. Não é um bicho de sete cabeça”, diz ela.
Requisitos para uma boa doação
Para ser um voluntário, basta ir ao banco de sangue, apresentar um documento oficial com foto e responder a um questionário. O candidato passa por uma entrevista e é examinado por um profissional de saúde – o sigilo das informações é garantido. Caso haja aprovação, é feita a coleta de sangue, que dura no máximo dez minutos. Todo o material utilizado é estéril e descartável. Ao final, o doador recebe um lanche.
Para a coleta ter sucesso é preciso que o doador tenha entre 16 e 69 anos, no mínimo 50 quilos e esteja bem de saúde. Jovens com 16 e 17 anos podem doar com autorização dos pais ou responsáveis legais (o modelo está disponível em: http://www.hemorio.rj.gov.br/Html/PDF/Menor_idade.pdf) e mais um documento de identidade original do tutor que assinou a permissão. Não é necessário jejum, mas deve-se evitar alimentos gordurosos nas três horas que antecedem a doação.
Onde fazer a doação de sangue
- Hemorio: Rua Frei Caneca, 8, Centro. Horário de funcionamento: todos os dias (inclusive feriados e fins de semana), das 7h às 18h. Informações: 0800-282-0708.
- Santa Casa da Misericórdia: Rua Santa Luzia, 206, Centro. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 7h30 às 16h. Informações: 2220-7332 / 99468-8972.
- Instituto Nacional do Câncer (INCA): Praça Cruz Vermelha, 23, 2º andar, Centro. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 7h30 às 14h30. Aos sábados, das 8h às 12h. Informações: 3207-1021 e 3207-1580.
- Hospital Universitário Clementino Fraga Filho: Avenida Brigadeiro Trompowsky, s/nº, 3º andar, Cidade Universitária. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, entre 8h e 13h30. Informações: 3938-2305 ou pelo e-mail: hemoter@hucff.ufrj.br.Hospital Federal de Bonsucesso: Avenida Londres, 616, no térreo do Prédio Quatro. Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 7h30 às 12h. Informações: 3977-9576.