Projeto da Redes da Maré promove encontros musicais entre artistas renomados e periféricos
Por Jéssica Pires, em 27/05/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho
Todo domingo tem pagode rolando na Maré em dois pontos muito conhecidos: a Rua Roberto da Silveira, no Parque União e a Via A1, na Vila dos Pinheiros. Os grupos Fundamental e No Lance reúnem semanalmente muitos moradores, e uma galera vem de fora para curtir as apresentações. Mas na última sexta-feira (20/5), o encontro desses dois nomes da música local aconteceu no Centro de Artes da Maré (CAM), junto com o grupo “Vou pro Sereno” e a potente Marcelle Motta. Essa reunião de artistas foi promovida pela primeira Mostra Maré de Música presencial, após dois anos sem com que o evento pudesse acontecer recebendo os convidados no espaço.
A edição reuniu mais de trezentas pessoas, que durante o auge da pandemia ficou destinado às ações de enfrentamento à pandemia. Cristiane Conceição (45), e Raquel Modesto (35), ambas moradoras da Nova Holanda, foram as primeiras da fila a chegar para garantir a entrada. ”Sou muito fã do vou pro sereno, já fui para cinco shows. E esse horário é ótimo pra gente que dorme cedo. Muito legal essa iniciativa da Redes”, comentou Cristiane. O evento contou também com a presença de MC Martina como mestre de cerimônias e as delícias do bufê mareense Maré de Sabores.
“Também temos mais coisas pra mostrar”
William Oliveira, integrante do grupo “No Lance” e produtor da Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, chamou a atenção para o evento visibilizar a arte na favela, quando o comum é que questões negativas e relacionadas à segurança pública são as que têm sempre mais evidência. “Você acaba realizando sonhos do artista periférico, de ver de perto o ídolo, de colher comportamento, de colher como o cara conta histórias, backstage. Isso tudo é muito bacana para a carreira de quem está começando ou de quem já tem até um trabalho, mas não aconteceu nacionalmente ainda. Traz força para o trabalho”, acrescentou.
Encontros musicais inéditos
Dessa vez foi pagode, mas assim como a Maré, a Mostra Maré de Música pulsa diversidade. Projeto criado em 2019, a iniciativa visa criar conexões musicais potentes ao público da Maré e de toda a cidade, com uma qualidade indiscutível, garantida por uma equipe local. A conexão se dá através de shows que unem artistas independentes e periféricos, junto a um já ‘consagrado’. Desde o início, a Mostra tem revelado novas sonoridades e conectado artistas e públicos de diversos espaços, além de firmar a Maré como palco alternativo da cena musical carioca.
O projeto já promoveu encontros presenciais entre diversos artistas, como Mart’nália, Letrux, Anelis Assumpção, MC Marechal, Duda Beat e Liniker. E de nomes da cena independente como Joca, Mc Natalhão, Pra Gira Girar, entre outros. Durante a pandemia, os shows aconteceram por meio de “lives” no youtube da Redes da Maré. A Mostra Maré de Música é contemplada pela Lei de Incentivo à Cultura e patrocinada pelo Instituto Cultural Vale e Itau e tem co-realização da Funarte.
O que vem pela frente?
Na programação, o próximo a se apresentar na Mostra é o rapper Rico Dalasam, que divide palco com a multiartista Kae Guajajara, rapper indígena que é moradora da Maré desde os sete anos – com show previsto para junho. Já para o mês de agosto, Mariana Aydar, cantora de forró vencedora do prêmio Grammy Latino e o grupo local 3 forrozeiros. Os detalhes sobre as próximas edições serão divulgados nas redes sociais da Redes da Maré e da Mostra Maré de Música.