A exposição pensa a ligação entre África, Brasil e Maré enquanto territórios negros e políticos
Por Andrezza Paulo
Na última terça-feira (28), foi lançada a primeira exposição da Casa Preta tendo as águas das marés como ponto de ligação para compreender de maneira sensorial as identidades negras e políticas que compõem esses territórios.
A exposição Negras Marés, da Casa Preta, quebra o padrão de apresentação artística e propõe um fluxo imersivo para refletir sobre a relação entre África, Brasil e Maré, entendendo o caminho das águas como conexão do “continente mãe” e as populações negras presentes no território brasileiro e mareense.
Coordenadora do eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades da Redes da Maré, Pamela Carvalho, disse que a “exposição cria uma linha entre África, Brasil e Maré, entendendo que o Rio de Janeiro e a Maré são territórios negros tanto por terem uma população majoritariamente negra quanto por terem hábitos, costumes, culturas e musicalidades essencialmente pretas”, disse. Também enfatizou a importância da exposição ao marcar territórios negros no Brasil e de pensar a reeducação das relações raciais.
Para Milena Ventura, educadora e artista da Casa Preta, a água é um ponto importante nessa construção. “A água tem muitos sentidos. A Maré tem muitos rios e por isso temos muitos barcos na exposição, além da forte relação com a ancestralidade e conexão não só das favelas da Maré como outros territórios negros”, diz.
Nlaisa Luciano é uma das artistas da exposição e explicou a pluralidade da sua arte e do convite feito pela Casa Preta. “Quando você é convidada como artista isso reflete de certa forma o quanto você está sendo referência no território, especialmente sendo a primeira exposição da Casa Preta onde eu já havia sido convidada para dar um módulo da Escola de Letramento Racial. A minha obra comunica com a narrativa da exposição, comunica com a minha transição e com as narrativas das pessoas que estão aqui. E no dia da inauguração é meu aniversário, então estou muito feliz”, conta.
O público lotou o Centro de Artes e aplaudiu de pé os artistas e a Casa Preta. Um dos presentes no local, Kai Nicolas (30), disse que é muito importante fomentar a cultura nas favelas. “Essa exposição é incrível. Precisa ter muito mais, não podem faltar projetos culturais nas periferias, isso é fundamental. Eu me sinto muito bem representado e pertencente, principalmente pela maioria dos artistas serem negros”, afirmou.
Artistas plurais
A exposição é composta por obras de 20 artistas plurais de diferentes territórios pretos e que expressam sua arte de maneiras diversas, cada uma carregando um pouco de suas histórias, suas lutas e a essência dos locais em que vivem. Negras Marés tem entrada gratuita e fica disponível até dia 29 de abril no Centro de Artes da Maré, na Rua Bittencourt Sampaio, 181, Nova Holanda.