Campanha de conscientização e prevenção ao câncer de próstata acontece em novembro mas precisa perdurar durante todo o ano
Ana Lourdes(*) e Hélio Euclides
O mês de novembro vai chegando ao fim, mas está errado quem pensa que o olhar para a saúde do homem se encerra ao chegar em dezembro. Apesar da campanha Novembro Azul ter como carro chefe a prevenção, diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata, o desafio é conseguir manter a campanha a fim de que mais homens possam ir para uma unidade de saúde para um check-up, tendo posteriormente uma rotina de cuidados para o seu bem-estar.
A famosa campanha do “Novembro Azul” foi criada na Austrália em 2003. Oito anos depois, em 2011, o Instituto Lado a Lado pela Vida aderiu à campanha, trazendo-a para o Brasil. O Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) aproveitaram o destaque para o tema e realizaram ações que ajudaram a difundir o movimento no país. Hoje, centros de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) oferecem serviços especializados para o câncer de próstata no mês de novembro.
Segundo dados do INCA, o câncer de próstata é o segundo tipo mais comum na população masculina. Também está em segundo lugar na lista de causas de óbitos por câncer entre os homens. Esses índices evidenciam a necessidade de alertar a população sobre a doença, prevenção e tratamento. Estimam-se 71.730 novos casos por ano, uma média de aproximadamente 103 casos a cada 100 mil habitantes, entre 2023 e 2025.
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Origem do Novembro Azul
Novembro Azul é mais do que uma campanha de conscientização sobre o câncer de próstata, é um chamado à reflexão sobre a saúde global do homem. Isso é o que defende Thiago Wendel, coordenador geral de atenção primária da Área Programática 3.1, que inclui as sete unidades de saúde da Maré.
“Embora o câncer de próstata seja uma preocupação significativa, é importante lembrar que as doenças cardíacas, diabetes e as violências matam milhares de homens em nosso país. É super importante que o homem procure sua unidade de referência, conheça sua equipe de saúde da família e cuide do bem mais precioso que temos, nossa vida.”
Thiago Wendel, coordenador geral de atenção primária da Área Programática 3.1
A saúde do homem do azul ao vermelho
Vitor Moreira, gerente da Clínica da Família Augusto Boal, lembra que o Novembro Azul é uma porta de entrada para uma conversa. “Muitas vezes o que o homem está sentindo é uma questão psicológica pelo peso da masculinidade, algo que é cobrado pela sociedade, como a demanda financeira. São assuntos que são vivenciados de forma diferente pela mulher”, expõe.
Para muitos, tempo é dinheiro, mas, se em meio a vida corrida há momentos para tomar uma cervejinha no bar, por que ir a uma consulta é algo secundário? Para Pedro Cruz, médico clínico geral da Clínica da Família Augusto Boal, localizada no antigo SESI, em frente ao Morro do Timbau, a questão é cultural.
“Na maioria das vezes o homem não vem à unidade pela sensação que não sofre de doença, uma negação. Tem sempre alguém que traz o homem, na maioria das vezes a companheira. A mulher é a porta de entrada desse homem nas consultas. Essa questão da masculinidade, de precisar mostrar a sociedade força, acaba revelando um pensamento arcaico, que não tem tempo para cuidar da saúde por causa do trabalho.”
Pedro Cruz, médico clínico geral da Clínica da Família Augusto Boal
A campanha Novembro Azul é acompanhada de outras estratégias para levar o homem ao acompanhamento da saúde, como a Academia Carioca e os Grupos Cotidianos, projetos voltados para a terceira idade. “É preciso trazer o homem para dentro da clínica, um jeito é o pré-natal com a presença do parceiro para o acolhimento da família. Um trabalho de formiguinha para que ele adira ao tratamento como hipertensão ou diabetes. É necessário que ele tenha confiança e possa criar um vínculo com a clínica”, diz.
O médico ressalta que os homens necessitam de ajuda, pois sentem algum sintoma de doença, mas não sabem como proceder. “Precisamos entender esse paciente e mostrar a importância da prevenção. O Novembro Azul está vinculado ao câncer de próstata, sendo mais do que isso, é uma luz piscando para mostrar que estamos atuando não só nesses 30 dias, mas que devemos cuidar da saúde mental e social do homem durante todo o ano”, conclui.
*Ana Lourdes é aluna do Curso de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com o Maré de Notícias e o Conexão UFRJ.