Lixo é tema de evento que discute soluções para a problemática da coleta e descarte dos resíduos sólidos.
Por Hélio Euclides em 19/05/2021 às 10h. Editado por Dani Moura.
Foi um papo descontraído sobre uma temática séria que impacta muito a vida dos moradores da Maré: o lixo gerado e a falta de coletiva seletiva no território bem como os serviços prestados pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) nas 16 favelas mareenses. A quarta edição do Encontro de Saneamento da Maré é continuação dos outros encontros que trouxeram o tema saneamento para o debate na Maré. No primeiro, realizado em abril de 2019, foram apresentadas demandas e soluções para quatro eixos centrais que dimensionam os problemas decorrentes da precariedade do sistema sanitário do bairro: abastecimento e manejo da água; esgotamento e Baía de Guanabara; lixo e segurança pública; saúde e bem-estar. Ao final do encontro ainda foi elaborada uma carta com o resultado das discussões.
No fim de 2019, foi realizada a segunda edição do evento, com a perspectiva de se construir uma agenda contínua sobre o saneamento. O encontro teve como ponto de partida a geração de índices e as especificidades territoriais para o planejamento urbano. Depois, foram abordados temas como violação de direitos básicos, racismo ambiental e gestão das políticas públicas. Ao final da atividade foram apresentadas propostas para pautar ações durante o ano de 2020.
A terceira reunião trouxe o desafio da pandemia, que dificultava ainda mais os serviços de saneamento básico na Maré, prejudicando a qualidade de vida, por ineficiência no acesso à água potável, esgotamento sanitário e coleta de lixo. Um documento foi construído a partir da atualização da carta de saneamento do ano anterior.
Problemas do lixo da Maré
No quarto encontro, que aconteceu virtualmente, ativistas, pesquisadores, trabalhadores e moradores, debateram sobre os impactos que o lixo tem na Maré. O evento é parte do Projeto Cocô Zap, do laboratório de jornalismo de dados data_labe, em parceria com o Maré Verde, da Redes da Maré. Quatro convidados que falaram sobre os problemas do lixo na Maré. Juliana Oliveira, fundadora do coletivo EcoMaré, falou sobre os caminhos do lixo no território. “O que se vê hoje com a coleta de lixo é apenas solucionar o problema com paliativo. Percebe-se o racismo ambiental escancarado. O favelado sofre muito com a negligência dos órgãos públicos. Nada é feito, mas se cobra muito da população. Precisamos explicar ao morador as causas reais dos problemas e ao mesmo tempo realizar uma mobilização para cobrar mudanças”, expõe.
Lixo e favela, o que tem a ver? Esse foi o questionamento apresentado por Izabel Carvalho, assistente social, que apresentou sua pesquisa de doutorado, sobre a Rocinha, mostrando a semelhança da favela da Zona Sul e a Maré. “As favelas sofrem com o problema da coleta porta-a-porta, por ter escadarias e becos. Além de não existir uma coleta seletiva. O pobre ainda tem que ouvir o discurso de que é culpado, o que o deixa mais frágil para exigir responsabilidade do poder público”, comenta. Ela ainda completou que esse lixo que não é coletado vai acabar nos ralos que recebem as águas da chuva, que vão para os rios e causam enchentes.
Marcos William, gerente da Comlurb na Maré, explicou que a unidade é uma subdivisão de Ramos. “Na Maré agora chegamos a recolher 500 toneladas diárias e com o diferencial de que, em algumas áreas a coleta domiciliar é feita seis dias por semana. Um dos problemas é que o nosso trator mais novo é de 2002. Outros têm 40 anos. Há também o descarte em locais irregulares e caminhões que vêm de outros bairros para cá, já presenciei um vindo de Copacabana. Na Maré temos várias ações, como projeto de compostagem na escola, a disponibilidade de caçamba para coleta de entulho de obra e criação de canteiros em locais inadequados de descarte de lixo”, diz. Ele sugeriu um centro de reciclagem nas favelas, com criação de cooperativas, o que reduziria os resíduos sólidos destinados à usina para menos da metade.
O ex-catador Leonardo Silva, mobilizador da Redes da Maré, colaborador do Conexão Saúde e distribuidor do jornal Maré de Notícias, mostrou a importância dos profissionais que fazem a reciclagem na favela. “A reciclagem mostra que nem tudo é lixo. Mas também revela que ao jogar o lixo não há uma preocupação com a separação, o que ajudaria o catador. É muito triste uma garrafa que poderia ser reciclada estar no valão e depois ir parar na Baía de Guanabara. É preciso cada um fazer a sua parte para reverter isso. Hoje cada catador vai para seu lado, vendendo o material coletado aos ferros velhos. É preciso organização, não há cooperativa e estamos longe desse ideal”, conclui.
Ao final, os presentes foram convidados a preencher um formulário para a construção de um grupão ambiental pelo WhatsApp e um Fórum de Saneamento da Maré.