Valores oscilam em diversas partes da capital fluminense
Por Hélio Euclides, em 09/08/2021 às 07h. Editado por Edu Carvalho
“Olha o gás!”, o vendedor grita. Do outro lado, o cliente olha para o botijão vazio e ao mesmo tempo abaixa a cabeça, à procura de uma madeira para acender a fogueira para cozinhar. Essa é a realidade de muitos moradores de favela, que chegam a conseguir uma cesta de alimentos, mas não tem como cozinhar os produtos, após inúmeros aumentos de valores no Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). No mês de julho, ocorreu o reajuste mais recente de 6%.
Aline Fornel, moradora do Vidigal, mudou-se recentemente de casa e desejava adquirir alguns moveis. Descobriu que sua vizinha estava vendendo o fogão, pois iria trocar o eletrodoméstico por um utensilio elétrico, conhecido como fogareiro, para economizar. “Tive que comprar um refil vazio do botijão de 13 quilos, que custa mais de R$ 100. Somado com o gás gastei quase R$ 300”, comenta.
O fogareiro que sua vizinha comprou custa em média R$170, mas há desvantagens. O fogareiro tem uma potência menor, e é necessário comprar também um forno. “O ideal seria a compra de um cooktop por indução, que custa R$ 800 e um forno elétrico por R$400. Seria um valor muito alto, e ainda há o risco da queima desses eletrodomésticos, visto que a fiação tanto no Vidigal, como em outras favelas, é insegura”, revela Fornel.
Com os obstáculos, os cariocas se destacam pela criatividade. “Para economizar gás, utilizo uma chaleira elétrica, que esquenta a água para ferver alimentos, cozinhar arroz, macarrão, legumes e fazer café. Tudo isso para usar o fogão por menos tempo”, conclui.
Não falta só gás: falta comida
Quatro pessoas dentro de casa, todas sem emprego. Esse é o caso de Simone Cristina, moradora da Vila dos Pinheiros, na Maré. Ela também lamenta a situação atual agravada pela pandemia, com o aumento do preço dos alimentos e do gás. “Nunca passei tanta dificuldade financeira. Pela primeira vez precisei pedir uma cesta básica, pois não tinha comida. Vamos voltar a usar lenha porque não temos o dinheiro do gás, que está um absurdo”, reclama.
Ela atribui à gestão federal a vulnerabilidade alimentar vivenciada por muitos brasileiros. “Esse governo está destruindo tudo que conquistamos na antiga gestão. Naquela época, pagamos a dívida externa, o pobre conseguiu um carro, uma casa, uma moto e andar de avião. Conseguimos o direito de luz e água. Não passávamos fome. Ainda tem muita gente a favor desse genocida, que não fez nada pela população. Não sei como será o futuro”, desabafa.
No início da pandemia, em março de 2020, o ativista Cosme Felippsen, que é guia de turismo comunitário, mora no Morro da Providência e é criador do tour histórico Rolé dos Favelados, perdeu uma grande parte da sua renda, devido ao cancelamento das atividades de turismo. Com a queda brusca de renda, ele ficou sem recursos para comprar gás para sua família e teve que contar com a solidariedade de uma amiga.
O RioOnWatch destaca em sua mais recente série sobre justiça e eficiência energética nas favelas que, desde março de 2020, o Comitê de Crise SOS Providência atua na distribuição de cestas básicas, itens de higiene e gás de cozinha com a campanha “Um Gás para as Mulheres da Providência”. Para ajudar, basta clicar aqui. A Central Única das Favelas (CUFA) também realiza a distribuição gratuita de botijões através do projeto Mães da Favela.
Em São Paulo, governo estadual criou o ”Vale Gás”, que atende mais de 104 mil famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza, residentes em comunidades e favelas (classificadas como aglomerados subnormais). O valor do auxílio terá parcelas bimestrais no valor de R$ 100,00 cada, a serem pagas entre julho e dezembro de 2021, para a compra de botijão de gás de cozinha (GLP 13kg).
O critério inclui as famílias inscritas no CadÚnico (sem Bolsa Família) e com renda mensal per capita de até R$ 178,00. Para consultar a elegibilidade ao benefício, o cidadão deve entrar no site oficial do Vale Gás e digitar o número do NIS (Número de Inscrição Social) para ter acesso às informações.
O Governo Federal anunciou que estuda a criação de um benefício na proposta do novo programa social a substituir o Bolsa Família. Ainda não há uma definição de valor.