Estudantes do território já tem 9 dias de aula perdidos antes do meio do ano letivo
Mais uma semana no Conjunto de Favelas da Maré é marcada por atravessamentos no cotidiano de milhares de moradores devido a uma operação policial. A ação da Polícia Militar que contou com policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) e do Batalhão de Ações com Cães (BAC), começou às 6h com tiros, presença de veículos blindados e agentes policiais circulando a região do Parque União, Rubens Vaz e Nova Holanda.
Além do impacto no cotidiano das pessoas que moram, trabalham, estudam ou circulam na Maré, na operação de hoje danos ao patrimônio, invasões de domicílios, agressões físicas e subtração de pertences foram identificadas, sobretudo na região do Tijolinho, na Nova Holanda e no Cão Feroz, no Parque União.
Durante a retirada de barricadas na Rua Bittencourt Sampaio, na Nova Holanda, um cano foi estourado por uma das máquinas britadeiras deixando moradores da região sem acesso ao abastecimento de água encanada. Agentes policiais também atearam fogo em objetos que se encontravam no espaço, gerando um incêndio.
A clínica da família Jeremias de Moraes e Silva, da Nova Holanda, não teve atendimento nesta quarta-feira devido a operação policial.
Educação em risco nas favelas do Rio
Nesta quarta-feira, um total de 12775 alunos nas favelas do Rio estão sem aulas devido às operações policiais. Além da Maré, o dia amanheceu com ações no Morro do São João no Engenho Novo, no Morro dos Macacos em Sampaio, Complexo do Caju, em Manguinhos e na Cidade de Deus. Apenas na Maré, 23 unidades escolares foram afetadas, impactando 7.722 alunos em nosso território.
Veículos de comunicação como o Voz das Comunidades e o Maré de Notícias publicaram a hastag #DozeMilSemAula nesta quarta para chamar a atenção para os danos que as operações policiais vêm causando para a educação e os estudantes das favelas de toda a cidade. Na Maré, só em 2023, já foram perdidos nove dos 79 dias letivos previstos para serem realizados pelas unidades de educação das Secretarias Municipal e Estadual de Educação. São 208 dias letivos previstos para 2023. É urgente garantir o direito à educação para essas crianças e adolescentes.
Mais direitos violados
A Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, que está em obras, também teve atividades suspensas. O equipamento de cultura tem realizado ações itinerantes, em unidades escolares e outras organizações parceiras. Nesta quarta-feira estavam previstas uma oficina e um espetáculo nas escolas municipais Albano Rosa e Moacyr Góes para mais de 100 crianças.
A organização Luta pela Paz também teve diversas atividades suspensas (aulas de artes marciais, atendimentos psicológicos e de assistência social, aulas de reforço, entre outras), que atenderiam cerca de 600 crianças e jovens.
A operação policial, segundo a PM, foi realizada com objetivo de “coibir movimentações criminosas relacionadas a roubos de carga e roubos de veículos”, porém até o momento do fechamento dessa matéria, a Polícia Civil não confirmou a participação da Delegacia de Roubos e Furtos, responsável pela atuação nesses casos.
Os moradores que se sentirem violados podem entrar em contato com o Ministério Público (MP) que realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no número (21) 993855837 pelo WhatsApp, também no telefone (21) 2215-7003 ou no e-mail gt-adpf635@mprj.mp.br. A Redes da Maré também recebe relatos de moradores e direciona para atendimento no MP o atendimento é feito no prédio central, na Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda.
O Maré de Notícias também recebe denúncias dos moradores no telefone: (21) 97271-9410