Segundo dia consecutivo de operação na Maré; órgãos públicos não comentam sobre assistência às famílias

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Operação faz demolições de moradias e mantém escolas e clínicas família fechadas

“Pro governo eles não querem nossas crianças no colégio não” comenta uma moradora em rede social no início do segundo dia consecutivo de operação policial na Maré nesta terça-feira (20). Na última segunda-feira (19) outro morador indagou: “A gente vai morar na sua casa Tino Junior? Vamos morar na rua?”, em referência ao apresentador do programa Balanço Geral da Record TV que costuma fazer uma cobertura no Conjunto de Favelas da Maré apenas com a perspectiva da violência.

A 25ª operação do ano na Maré é realizada pelas Polícias Civil e Militar em conjunto com a Secretaria de Ordem Pública (SEOP) nas favelas Parque União, Nova Holanda e Rubens Vaz, que conta com o apoio do Ministério Público. 

Apesar da SEOP afirmar que cerca de 90% das casas estavam vazias, observamos um grande número de moradores alegando durante protestos pacíficos que estão ficando sem suas residências. Além disso, operações policiais marcam o psicológico dos moradores. Uma delas comenta: “Eu tô enfurnada dentro de casa com as crianças, não tenho coragem nem de botar a cara na janela, depois de tanta coisa que já passei”.

Em nota, a polícia civil respondeu que “a continuidade da ação é importante não apenas para concluir as demolições, mas também para garantir a integridade dos moradores da comunidade, já que essas construções geram escombros.”

E por falar em integridade, questionamos — desde segunda-feira — a Secretaria Municipal de Habitação sobre a existência de algum plano de reassentamento ou reconstrução das moradias demolidas, e se há um planejamento de inclusão das famílias em programas de habitação social. Também perguntamos à Secretaria de Assistência Social qual assistência está sendo oferecida aos moradores durante e após essas ações, e se existe algum plano de intervenção e atendimento às famílias no local. Nenhuma das perguntas foi respondida pelos órgãos que deveriam também garantir a integridade dos moradores.

Nas redes sociais, o atual prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Paes, diz que as divergências políticas não impedem o apoio da prefeitura às forças policiais do governador Cláudio Castro: “Seguiremos firmes combatendo essa indústria imobiliária do crime organizado no Rio”. No entanto, Paes não se pronunciou sobre a situação dos moradores após essas operações.

Quem paga a conta são os moradores

Só esse ano, os alunos da Maré já perderam 24 dias do ano letivo. Esta semana já são dois dias sem aula. Até o momento, 26 escolas, sendo duas da rede estadual e 24 da rede municipal, estão fechadas, impactando a rotina de cerca de 9 mil estudantes. 

Na saúde também há impactos, a Clínica da Família (CF) Jeremias Moraes da Silva que não funcionou na última segunda-feira (19) devido a operação, fechou novamente na manhã desta terça. E a CF Diniz Batista dos Santos seguiu o mesmo protocolo, mantendo o atendimento na unidade, mas com suspensão das visitas domiciliares.

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462 e também nos equipamentos da organização.

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