Cinco anos depois de seu assassinato ainda sem respostas, Marielle ainda é o farol para mulheres e coletivos
Edição #146 do Maré de Notícias
Por Andrezza Paulo e Hélio Euclides
O dia 14 de março de 2023 marca cinco anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, e o tempo sem a resposta devida a um país inteiro: quem mandou assassinar Marielle e Anderson? A vereadora nascida na Maré deixou um legado que abriu portas para novas lideranças e produziu projetos — seu fim trágico apressou a germinação de sementes que surgiram quando sua luta se tornou conhecida.
A deputada estadual Renata Souza (PSOL/RJ) é considerada uma das principais herdeiras políticas do trabalho de Marielle; ela começou a trilhar seu caminho como chefe de gabinete da vereadora em 2018.
“O sentimento é o de carregar uma responsabilidade enorme. As sementes de Marielle germinaram, e o seu maior legado é fazer com que a humanidade não se desumanize. Depois do feminicídio político de Marielle, nós, as mulheres pretas de favela, passamos a ocupar a política com ainda mais força. E esse movimento não vai parar de crescer. Honrar a Marielle é jamais desistir de enfrentar o racismo estrutural, o machismo e a lgbtfobia”, diz.
O Instituto Marielle Franco (uma organização sem fins lucrativos) foi criado pela família da vereadora “com a missão de inspirar, conectar e potencializar mulheres negras, pessoas LGBTQIA+ e periféricas a seguirem movendo as estruturas da sociedade por um mundo mais justo e igualitário”. É possível acompanhar, no cronômetro virtual hospedado no site da instituição, há quanto tempo a população aguarda pela identidade e prisão do mandante do assassinato de Marielle e de Anderson.
PF e MP
O governo federal considerou a solução do caso como “questão de honra”. Por isso, em fins de fevereiro o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal abrisse um inquérito para investigar as mortes de Marielle e Anderson, juntando forças com o Ministério Público do Rio de Janeiro para ampliar a investigação sem federalizá-la.
Estão presos preventivamente desde 2019, aguardando julgamento, os ex-policiais Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, acusados de efetuar os disparos que mataram a vereadora e seu motorista.
“Nunca vamos parar de perguntar ao Estado: quem mandou matar Marielle? Tentaram nos calar, nos impor o medo, mas o que aconteceu foi o inverso. Floresceu um movimento de mulheres pretas que um dia vai transformar o sonho de uma sociedade mais justa em realidade”, reforça Renata.
Para as eleições de 2022, foi criada a Agenda Marielle Franco, um conjunto de práticas e compromissos políticos antirracistas, feministas, LGBTQIA+ e populares, inspiradas no legado da vereadora e construída com o apoio de mais de cem organizações.
Para o Congresso e as assembleias legislativas, foram eleitas 44 mulheres de sete estados de quatro regiões do país, além de 86 suplentes das 145 candidaturas comprometidas com a agenda.
Além da política
As sementes deixadas por Marielle estão florescendo também fora do terreno da política. Um grupo de amigas em busca de aprimorar e cuidar da saúde física e mental fundou o MariEllas, um time de futebol feminino na Maré.
Karine Serra, Maria Joira e Raquel Albuquerque contam que Marielle as inspirou principalmente por sua força e seu poder ao se impor diante de figuras masculinas pela garantia de direitos das minorias.
“Ela nos motivou a batalhar por nossos objetivos e espaços. Um exemplo disso foi a luta pelo local que treinamos, pois era um lugar predominantemente masculino. Conquistamos o devido respeito e um horário exclusivo para nossa atividade”, diz Raquel.
Justiça por Marielle e Anderson 2023
No dia 14 de março, mais uma vez a família realiza o Justiça por Marielle e Anderson. O evento este ano acontece na Praça Mauá, no Centro do Rio, e tem como principal meta a pressão por investigação do caso e por justiça. Nomes como Gaby Amarantos, Baco Exu do Blues, Orquestra da Maré, Marechal e Coral do Alemão já estão confirmados para os shows do festival, que acontece de 17h às 22h.