Seminário de Educação na Maré acontece durante a 9ª operação policial consecutiva

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Evento reforça a importância do diálogo com o poder público para pensar a educação das crianças e adolescentes

Hélio Euclides e Lucas Feitoza

Com o tema “Impactos da Violência Armada no Direito à Educação” e apesar do 9º dia consecutivo de operação policial, o Centro de Artes da Maré (CAM) abriu as portas nesta terça-feira (27) para o primeiro dia do Seminário de Educação na Maré. Segundo a organização, 228 pessoas compareceram ao evento. Nesta quarta-feira (28), o evento segue com a programação normal contando com especialistas, pesquisadores, professores e moradores impactados pelo tema. Interessados devem se inscrever neste link.  

Um dos assuntos mais abordados durante o primeiro dia do seminário foram os dias de aulas perdidos devido às operações policiais. Este ano os alunos da Maré já estão há quase um mês sem aulas. As duas escolas estaduais da Maré que atendem mais de 1.400 alunos estão fechadas desde o dia 19, quando começaram as operações para demolição do prédio no Parque União, uma das 15 favelas que compõem a Maré. 

Izabel Sabbatino, diretora do Ciep 326 César Pernetta, lamenta as dificuldades do aprendizado causadas pela operação policial. Ela explica que as crianças da Maré, assim como os adultos, não são capazes de chegar na escola depois de uma operação policial e dar conta de absorver o ensino: “São várias coisas que têm interferência na aprendizagem. A violência armada é mais uma” afirma. Ela completa dizendo que os diretores das escolas não são responsáveis pelo fechamento das escolas, mas sim, a segurança pública: “O César Pernetta vai ser sempre impactado enquanto essas operações continuam e nós vamos continuar fechados” afirma.

A coordenadora do Eixo Direto à Segurança Pública e Acesso à Justiça e mestre em segurança pública pela Universidade Federal Fluminense, Liliane Santos, expõe que há uma negação de direitos aos moradores “[os direitos] estão sendo negados, por não poderem estudar, sair de casa, praticar esporte e terem acesso ao lazer e cultura.” Ela completa que os dados do 8º Boletim Direito à Segurança Pública são necessários para criação de estratégias que impactem as políticas públicas.

Maria dos Prazeres Sales, é mãe atípica de uma criança autista de 5 anos, o Isaías. Ela conta como que seu filho e ela são impactados pela operação policial. “Ele ama estudar. A terapia do Isaías é a escola, tudo que ele aprendeu foi na escola, e o Estado está negando o direito dele principalmente no mundo atípico, que eles deveriam proteger.” desabafa.

Diálogo com órgãos públicos 

O evento contou com a presença de lideranças da Maré e representantes de órgãos públicos. Além de membros da Redes da Maré, representantes do Uerê, Fiocruz, Secretaria Estadual e Municipal de Educação também compareceram. A organização convidou também o Ministério da Educação (MEC) mas nenhum representante compareceu ao evento alegando insegurança. 

Sobre isso Eliana Sousa, diretora da Redes da Maré, comenta: “O seminário é para pensarmos o acesso à educação e aprofundar a garantia dos direitos. Olhar o cenário e pensar os caminhos a partir dos órgãos públicos que trabalham educação. São quase 20 mil alunos, se equipara a um município de médio porte, tendo uma rede de escolas maior do que Niterói. Protesto que o MEC não está aqui presente, por medo e não saber dizer sobre o que passamos.”

Na ocasião, a subsecretária de planejamento e ações estratégicas da Secretaria Estadual de Educação falou sobre o sonho de um futuro onde a Maré seja transformada pela educação e reforçou a importância do diálogo: “Pensamos na possibilidade do diálogo e da escuta. Falar a cada aluno e professor para fazerem o melhor, pois a transformação vem da escola.” 

Mais um dia de impacto no aprendizado e na saúde

A Secretaria Municipal de Educação informa em nota que 33 escolas na Maré funcionaram hoje com aulas presenciais. Outras 13, que são mais próximas ao Parque União, permaneceram fechadas. A nota completa que “Para essas unidades, a Secretaria adotará estratégias pedagógicas visando à recomposição das aulas, como reforço escolar e aulões temáticos”.

A Secretaria de Estado de Educação diz que as duas escolas estaduais da Maré, o Ciep 326 – César Pernetta e o Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes, não estão abrindo desde a última segunda-feira (19/08). Juntas as unidades atendem 1.424 alunos. 

A pasta informa ainda que conteúdos pedagógicos perdidos são repostos para evitar prejuízos aos alunos.

As clínicas da Família Jeremias Moraes da Silva e Diniz Batista dos Santos mantêm o atendimento à população. Entretanto, sem realizar atividades externas no território, como as visitas domiciliares.

O Seminário de Educação na Maré continua amanhã com mesas abordando a comunicação sobre o impacto da segurança pública e desafios para a garantia de direito na educação. O Centro de Artes da Maré fica localizado na Nova Holanda, próximo à passarela 10, na Rua Bitencourt Sampaio, 181. Saiba mais nas redes sociais da Redes da Maré e acompanhe nossa cobertura completa.

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