Por Elena Landau em 18 de março de 2022
Publicado em Estadão
Semana passada fui visitar a Redes da Maré, uma instituição da sociedade civil que organiza projetos e ações de políticas públicas eficazes para melhorar a vida dos 140 mil moradores da favela. É maior do que 96% dos municípios brasileiros; ainda assim, a ausência do Estado é flagrante. Escolas e postos de saúde existem, mas são insuficientes.
Quando o novo coronavírus chegou por aqui, a falta de serviços públicos básicos em comunidades como essa tornou o impacto da pandemia sobre a desigualdade ainda maior. Da ausência de saneamento básico às moradias sufocantes, era quase impossível cumprir regras de higiene e distanciamento.
Da Redes nasceram iniciativas locais para suprir essas carências estruturais. Providenciaram bicas de água, cestas básicas – preparadas com produtos do comércio local –, tablets foram distribuídos e máscaras foram adotadas, antes de virar política nacional. Um amplo programa de vacinação fez com que nenhuma morte por covid tenha sido registrada desde outubro.
A lição que fica é: ouvir as demandas locais e trabalhar com suas lideranças para trazer soluções específicas.
Ao longo dos anos, sob comando de Eliane Silva, a Redes da Maré ajudou a quebrar um ciclo de pobreza e permitiu a mobilidade social de seus moradores. Com o esforço de melhoria no ensino, as mulheres que conheci fizeram curso superior e pós-graduação e voltaram para ajudar em novas fases de conhecimento. Lá se vê de perto a abordagem completa ao cidadão, com ajuda jurídica, cursos de formação para as mães e atividades extracurriculares para crianças.
Visitando a biblioteca local, encontrei Luana, de nove anos, 5.ª série, moradora da Nova Holanda, uma das 16 favelas do Conjunto da Maré. Ela veio me explicar o funcionamento do espaço, e entabulamos um papo. Suas respostas foram diretas:
– Que lugar você acha mais lindo no Rio?
– A praia, mas nunca fui. (Inacreditável que se conviva com uma cidade isolada dentro de outra cidade. A favela fica escondida por um muro na Linha Vermelha, por onde passam os que chegam ao Rio de outras localidades. Zuenir Ventura usou o termo “cidade partida” para descrever o Rio de Janeiro. A Redes recusa o uso desse conceito. Aceitar que somos partidos é aceitar que ficaremos para sempre divididos. Preferem “cidade desigual”. Faz sentido. Combater a desigualdade é possível, é tarefa de toda a sociedade).
– O que é mais importante na sua vida?
– Estudar.
– O que um presidente precisa fazer para melhorar o País? – O bem.
Simples assim.