Arraiais unem a comunidade, fortalecem a cultura e impulsionam a economia local
Por Andrezza Paulo
A Maré não é diferente do resto do país, e por isso junho é mês de bandeirinhas, adereços, comidas típicas e festas espalhadas pelas 16 favelas do conjunto. De acordo com o Censo Maré (2010), mais de 25% dos moradores do território vieram da região Nordeste, lugar das maiores e mais famosas festas juninas do Brasil.
Outro ponto que reforça essa tradição na Maré é a religião: as festas juninas são celebrações para Santo Antônio, São Pedro e São João, mesmo para aqueles que não fazem parte dos 47,2% dos moradores que se declaram católicos.
Apesar de ser uma celebração que faz parte do calendário brasileiro há gerações, só este ano as festas juninas foram reconhecidas como manifestação cultural do Brasil, através da Lei nº 14.555 de 25 de abril de 2023.
União e alegria
Uma das festas mais tradicionais da Maré acontece há 45 anos na Paróquia Nossa Senhora da Paz, e conta com a ajuda de mais de trinta voluntários. Nicolas Alfredo, de 26 anos, é coordenador dos coroinhas e cerimoniários e membro da organização da Quadrilha da Paz.
“A festa une as pessoas, os amigos, a família. A comemoração ajuda também a igreja a se aproximar da comunidade, tanto de uma forma espiritual, quanto de forma festiva, repleta de carinho. Ela permite que vivamos um momento longe dessa realidade tão turbulenta do nosso cotidiano”, explica.
Para Vitor Felipe, membro da Quadrilha da Paz, a dança típica tem como papel revisitar e tornar atuais as tradições. “Reviver nossa história cultural com alegria é muito satisfatório. É uma experiência muito boa quando sentimos que o público nos espera, que eles querem ver nosso trabalho.”
Para a costureira Maria de Fátima Amorim, de 69 anos, o público durante as celebrações é diferente: “É um período muito alegre, as pessoas ficam mais felizes, há muitas brincadeiras de rua, quadrilhas, as famílias se reúnem, e isso realmente representa a nossa cultura.”
Demanda alta
Segundo os organizadores, a festa junina da Paróquia Nossa Senhora da Paz representa a maior arrecadação do ano. Os valores advindos dos eventos de junho auxiliam no trabalho de ação solidária, como a distribuição de cestas básicas e quentinhas, e em outras iniciativas sociais, além de ajudar na manutenção da igreja.
O movimento econômico durante essa época também beneficia diretamente os moradores da Maré de diversas maneiras. Maria de Fátima há quase 30 anos é responsável por confeccionar as tradicionais roupas de quadrilha na comunidade da Nova Holanda.
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Das 5h às 23h, ela trabalha arduamente para produzir uma ampla variedade de trajes, de bebês a adultos. A confecção envolve não apenas Maria de Fátima, como também seu marido e sua irmã, todos unidos para aproveitar a demanda e aumentar a renda familiar.
“Fora da temporada das festas juninas, as vendas são difíceis, mas nessa época eu compro chapéus, faço vestidinhos, acessórios, e o aumento da renda ajuda muito a nossa família”, diz ela.
Economia aquecida
Não só nas comunidades as festas juninas impulsionam a economia: elas também são uma parte importante das contas do país. Em 2022, as celebrações aos três santos católicos ajudaram a acelerar a recuperação econômica do Brasil, movimentando cerca de R$ 3 bilhões entre os meses de junho a agosto, segundo dados do Ministério do Turismo. Por aqui, este é o segundo ano consecutivo em que o governo do estado do Rio de Janeiro lança o Arraiá Cultural RJ, voltado para, segundo o edital, “atender uma parcela da população muito afetada nos últimos dois anos: os produtores culturais de festas e quadrilhas juninas”. Foram selecionados 115 projetos, que receberão investimentos de R$ 7,25 milhões.